O Pagador de Promessas (ou: Deus existe???)

No dia 2 de Dezembro, domingo, de manhã, escrevi uma mensagem à minha lista de discussão LivreMente, dizendo:

"Copiando algo que disse o Zé Simão, se, hoje, o Corinthians cair para a segunda divisão e o Não ganhar na Venezuela, e, nas próximas semanas, a prorrogação da CPMF for rejeitada, eu volto a acreditar em Deus e na sua justiça e vou a pé até Aparecida…"

Parecia impossível, naquela manhã de domingo, que as três coisas acontecessem. Parecia bem mais provável, então, que nenhuma delas acontecesse.

Pois bem. As três aconteceram, e agora estou sendo cobrado a me tornar uma versão atualizada de "O Pagador de Promessas"…

Alguns amigos me sugeriram que, à semelhança dos políticos, enrolasse, alegasse que havia sido mal-interpretado, que não havia sido exatamente isso que eu disse, etc. Outros me sugeriram que esperasse, porque o Chávez poderia ainda reverter o resultado do plebiscito e o Lulla poderia re-criar a CPMF. Ainda outros me sugeriram que comprasse um cajado, deixasse a barba crescer, e enfrentasse a dura realidade dos romeiros.

Não podia mais ficar calado. Hoje cedo postei a seguinte mensagem na lista:

"Analisando todas as sugestões concluí que a melhor solução é não tergiversar. Prometi que iria a pé até Aparecida, caso o Corinthians fosse rebaixado e o Chávez e o Lulla fossem derrotados, o primeiro no plebiscito, o segundo na votação da CPMF. Tudo isso miraculosamente aconteceu — e não tenho outro recurso: irei a pé até Aparecida.

Pensei inicialmente em interpretar "Aparecida" como sendo o distrito de Aparecidinha, em Campinas, do lado da UNICAMP. Mas concluí que isso seria tergiversar. A Aparecida que eu tinha em mente era Aparecida do Norte.

(Os católicos como a Lenise vão apreciar essa referência meio jesuítica ao que a gente tem em mente quando diz algo: "Nesta casa não há nenhum judeu", diria um jesuíta a um oficial da polícia secreta de Hitler durante a Segunda Guerra, tendo em mente por "casa" a casa do botão da camisa dele. Dizem os moralistas teologais jesuítas que essa "referência mental" eliminava a aparente mentira.)

Apenas registro que eu não disse quando faria isso nem a partir de que ponto.

Assim me proponho a cumprir a promessa qualquer dia desses em que estiver por perto de Aparecida do Norte e Guaratinguetá. Irei a pé de Guará (perto da divisa entre Aparecida e Guará) até o outro lado da divisa (e documentarei fotograficamentet a proeza). Quem sabe irei até à Basílica, se não houver muito romeiro por perto. Detesto romeiro que vai cumprir promessa em Aparecida. (Como bom Saltense, prefiro Bom Jesus de Pirapora, aqui pertinho, às margens de um espumento Tietê).

Quanto a passar a acreditar na existência de Deus, adotarei a postura de um bom teólogo modernista protestante, como Rudolf Bultmann. Passo a acreditar (na verdade, volto a acreditar) que Deus existe na consciência dos nEle crentes e, certamente, no "kerygma", ou na proclamação, da Igreja. Estarei assim sendo modernistamente ortodoxo.

Espero que com isso atenda plenamente ao clamor de CUMPRA, CUMPRA, CUMPRA da colega teocredente Lenise…

Pax vobiscum."

Bem… Pax Vobiscum pra vocês também, leitores deste Space. Depois dos acontecimentos dos últimos quinze dias e da noite de ontem no Rancho 53 na Castello, estou de bem com a vida. O Corinthians pode até voltar para a Primeira Divisão, o Chávez pode anular o resultado do plebiscito, e o Lulleca pode editar quantas Medidas Provisórias quiser. Corintianos, chavezistas, lullistas e assemelhados só têm o espaço que a gente der pra eles. Amém. Digo isso no ambiente litúrgico em que ouço "Por Una Cabeza", com o Quintango, comendo (agora) castanhas de caju e tomando (agora) caipirinha… Sou volúvel: abandonei o queijo mineiro e o conhaque Napoleon.  

Em Salto, 14 de Dezembro de 2007

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