Lembro-me do tempo em que as pessoas – em geral homens – de vez em quando tomavam café da manhã em uma padaria. Quase sempre de pé, no balcão, apressados. O café da manhã não passava de um pingado (de café de coador) com um pão com manteiga (nunca na chapa: essa já é moda mais recente).
Isso acontecia quando, por alguma razão, não havia sido possível tomar café em casa. A padaria era uma qualquer, em regra no caminho que se tinha de tomar. Não havia, portanto, compromisso com uma padaria fixa. Era a que estivesse mais à mão.
Hoje a coisa mudou, em especial para a classe média (média-média, com laivos de média-alta).
Aqui perto de casa (na Chácara Klabin) há uma padaria enorme. Na verdade, chamá-la de padaria já parece inadequado, pois é uma padaria com um razoável upgrade, já indicado no seu nome: “Empório dos Pães”. Apesar de sua fachada ter pelo menos uns 30 metros, e de a gente poder estacionar de frente na calçada (em paralelo), não se trata de um estacionamento comum de padaria: ali há, nos momentos de rush (manhã e tarde) valet parking, com os operadores usando aqueles prisminhas coloridos numerados para colocar em cima dos carros a fim de identificá-los. Ontem à noitinha, por exemplo, depois das 20h, tivemos de estacionar há cerca de um quarteirão de distância, porque nem o valet parking dava conta da demanda.
O Empório dos Pães tem de tudo. O mais interessante é que tem uma área de alimentação que é um verdadeiro restaurante, com visão panorâmica e tudo (a vista, devo admitir, não é das melhores: é, em parte, uma vista do Extra da Ricardo Jafet, que fica a pouca distância).
À noitinha, serve-se ali um sofisticado bufê, com sopas, assados, frios, tortas, doces, e, naturalmente, os mais diversos pães. Mas quero falar do que acontece ali de manhã: a padaria está sempre lotada de gente tomando café da manhã. Não são apenas homens: são homens, mulheres, crianças, famílias, casais. Não estão sozinhos, apressados, indo de casa para algum lugar: saíram de casa especificamente para ir tomar café na padaria. Têm tempo. Alguns ali chegam bem depois das 10h. Ficam lá um tempo razoável (como se a padaria fosse um “café” parisiense – só que tomam bem mais do que um café au lait. O café da manhã típico ali tem mais calorias do que a refeição principal da maioria dos brasileiros. Alguns lêem jornal, revista, livro. Outros usam o notebook (em geral há rede wifi em padarias desse tipo). Uns conversam. As crianças se divertem.
O café da manhã virou um happening para a classe média nessas superpadarias chiques. Por isso elas agora precisam ter estacionamentos enormes, valet parking, o escambau.
Ontem cedo, chegamos cedo para uma reunião nos Jardins e tivemos a oportunidade de tomar um café (simples) e uma coca (com gelo e limão) na Meca dessas padarias: A “Benjamin Abrahão”, que tem o “sub-título” de “No Mundo dos Pães: Tradição Há Três Gerações”. (As três gerações cobrem 68 anos). Fomos à filial da José Maria Lisboa, esquina com a Padre João Manuel. Mas a matriz parece ser na Rua Maranhão, em Higienópolis. A padaria foi considerada a melhor da cidade pela Vejinha SP em 2007. Tem um site sofisticado. (Vide http://www.benjaminabrahao.com.br/www/index.htm).
Na Benjamin Abrahão Jardins todo o segundo andar é restaurante. Mas mais interessante do que a padaria em si é a tribo (fauna urbana?) que a freqüenta. Gente sofisticada, de todas as idades. Alguns muito bem vestidos, com roupas esporte de grife, outros caramente vestidos para parecerem desleixados. O olhar, sempre superior – daqueles olhares que olham sem parecer que vêem ninguém (a menos que apareça no campo de visão alguém que interesse…)
Fantástico. Como mudam os costumes. Assim caminha a humanidade.
Se a gente pedir na Benjamin Abrahão um pingado com café de coador e um pão de manteiga na canoa a garçonete provavelmente vai olhar pra gente com ar de desprezo e perguntar: o senhor não prefere um latte com um croissant? Sanduíche de mortadela, então… Talvez cem gramas de mortadela Ceratti esquentada na chapa…
É isso.
Em São Paulo, 21 de Novembro de 2008
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