Nossos nomes

Não resta dúvida de que nossos nomes são coisas importantes para nós. Eles nos identificam.

Também não há dúvida de que há gente que não gosta do próprio nome. Conheci um dia no trabalho uma pessoa que se dizia chamar Mercedes, a quem todos chamavam assim. Tempo depois de a conhecê-la vim descobrir (lendo uma lista dos nomes dos funcionários e não encontrando o dela) que o nome verdadeiro dela era Umbelina. Não gostando do nome (and who can blame her?), ela simplesmente descartou, na prática, o nome que lhe foi dado em favor de um que escolheu. A secretária de minha filha tem o nome de Piedade – mas quer que a chamem de Valéria, e ela mesma se refere a si própria assim.

Nosso nome, entretanto, não consiste apenas do primeiro nome: inclui o primeiro nome (às vezes chamado de nome dado, que pode ser composto: Ana Maria, Vera Lúcia, Antonio Carlos), em alguns casos o nome do meio (que freqüentemente é o nome de família da mãe), e o último nome (ou o nome de família, que, em regra, é o nome de família do pai). Já foi pior. Consta que Dom Pedro II tinha dezessete nomes.

Meu nome completo é Eduardo Oscar de Campos Chaves, Eduardo Oscar sendo o primeiro nome (composto), Campos o nome da família da mãe e Chaves o nome da família do pai.

Não me lembro de jamais ter sido chamado pelo nome composto. Quando era criança, era chamado de Oscarzinho, porque meu pai era Oscar. Apenas quando entrei na escola primária, passei a ser chamado de Eduardo. Quando fui fazer o Clássico no Instituto JMC, passei a ser chamado de Oscar, sem o zinho, porque meu pai havia estudado lá e muita gente conhecia a ele e a mim. No Seminário, continuei a ser Oscar – muita gente então me chamava simplesmente de Oscar Chaves, que, na verdade, era o nome inteiro de meu pai. Mas eu mesmo, nessa época, me referia ao meu nome como sendo Eduardo Oscar Chaves, deixando o de Campos de fora. Tinha até um carimbo com esse nome, com o qual carimbava meus livros na página de rosto e em algumas páginas internas.

Quando fui para os Estados Unidos, para fazer Pós-Graduação, voltei a ser Eduardo – e passei a me referir ao meu nome como sendo Eduardo O C Chaves (sem ponto no O e no C). O Oscar sumiu de vez. ficando, quando muito, a inicial O.

De lá para cá, sempre fui Eduardo. Com o tempo, foi deixando de colocar o O C no meio e passei a ser simplesmente Eduardo Chaves.

Mulheres, no Brasil, em geral adotam o nome de família do marido (melhor dizendo: o nome de família do pai do marido – raramente adotam também o nome de família da mãe do marido). Ao fazerem-no, têm o direito de eliminar um ou mais nomes – o nome de família da mãe da mulher, quando há, em geral sendo a vítima. Quando se separam judicialmente, têm o direito de voltar a usar o nome de solteira – podendo, em alguns casos, manter o nome do ex-marido, se não houver objeção deste.

Muita gente critica essa prática, por ser machista. Por que a mulher adota o nome de família do pai do marido e este não adota o nome de família do pai da mulher? Realmente, acho isso injustificável. Ou nenhum adota o nome de família do outro, ou ambos adotam o nome de família do outro.

E se ambos carregam nomes de família tanto da mãe como do pai, por que não mesclar tudo, tanto no caso da mulher como no do homem, de modo que os dois fiquem com o mesmo conjunto de nomes, tirante o nome dado?

É verdade que os nomes, nessa sugestão, poderão ficar muito extensos. Mas qual o problema, se os dois querem assim? Embora mantenhamos nossa identidade pessoal no casamento, formalizado ou não, essa identidade se redefine, em grande medida, pelo fato de que somos casados com quem somos casados. Logo, justifica-se a adoção recíproca dos nomes de família. O nome assim indica que, não é só a mulher que passa a pertencer à família do marido, mas este também passa a pertencer à família da mulher. Nada mais justo.

Em São Paulo, 19 de Maio de 2009

3 responses

  1. Concordo que se trata de uma \’tradição\’ machista. E penso que cabe às futuras esposas, se assim o entenderem, reivindicarem – quer chegando a um acordo com o futuro marido, ou mesmo exigirem – que ambos os membros do casal adoptem os mesmos nomes de família.Por outro lado, cada vez mais mulheres possuem uma carreira à qual está associado o seu nome. Nesses casos, uma alteração do nome só pelo facto de casarem penso ser um erro. Até porque, no final, o nome não contribui em nada para o sucesso da união.Em Odivelas, 19 de Maio de 2009

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