Os números de 2010

[Post publicado automaticamente (depois de pedida minha autorização) pelo WordPress. Curiosamente, parte dele está em Português e parte em Inglês. E a parte que está em Português está, pelo menos em parte, em Português de Portugal – haja vista o “Atracções”. Deixo o post transcrito aqui porque as informações são interessantes – mesmo que as piadinhas sejam meio sem graça… EC]

Os duendes das estatísticas do WordPress.com analisaram o desempenho deste blog em 2010 e apresentam-lhe aqui um resumo de alto nível da saúde do seu blog:

Healthy blog!

O Blog-Health-o-Meter™ indica: Uau.

Números apetitosos

Featured image

Um duende das estatísticas pintou esta imagem abstracta, com base nos seus dados.

Um Boeing 747-400 transporta 416 passageiros. Este blog foi visitado cerca de 10,000 vezes em 2010. Ou seja, cerca de 24 747s cheios.

In 2010, there were 154 new posts, growing the total archive of this blog to 662 posts. Fez upload de 27 imagens, ocupando um total de 15mb. Isso equivale a cerca de 2 imagens por mês.

The busiest day of the year was 16 de novembro with 249 views. The most popular post that day was John Locke, o pai do Liberalismo.

De onde vieram?

Os sites que mais tráfego lhe enviaram em 2010 foram google.com.br, facebook.com, search.conduit.com, aynrand.com.br e link.smartscreen.live.com

Alguns visitantes vieram dos motores de busca, sobretudo por desigualdade educacional, john locke liberalismo, o cristianismo e a arte, john locke e o liberalismo e howard gardner. concordo!

Atracções em 2010

Estes são os artigos e páginas mais visitados em 2010.

1

John Locke, o pai do Liberalismo agosto, 2005
1 comentário

2

Saviani e a Pedagogia Histórico-Crítica janeiro, 2005
7 comentários

3

Modelos pedagógicos janeiro, 2005
1 comentário

4

O socialismo, o liberalismo, a pobreza e a desigualdade maio, 2006
2 comentários

5

Desigualdade educacional janeiro, 2006
1 comentário

Em Lisboa, 4 de Janeiro de 2010

SoArte

O culto matinal da Catedral Evangélica (Primeira Igreja Presbiteriana Independente) de São Paulo celebrou os nove anos de operação do SoArte (Centro de Desenvolvimento Cultural e Artístico), um projeto social da igreja, mantido pelo Promover (Centro de Promoção Humana Otoniel Mota), organismo criado por ela, em 1999, para gerenciar seus projetos sociais.

Vide
http://www.catedralonline.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=80&Itemid=157

Participaram do culto a Orquestra Filarmônica Educacional (80 integrantes), a Orquestra de Câmara (18 integrantes), uma das quatro Bandas (15 integrantes), e o Madrigal (22 integrantes). Foi um verdadeiro festival de música sacra da melhor qualidade. Os hinos cantados / tocados foram, sem exceção, aqueles hinos tradicionais, clássicos mesmo, que eu conheço tão bem e dos quais em nenhum momento de minha vida deixe de amar e de cantar. Muitos deles sei de cór ainda hoje, pelo menos a primeira e a última estrofes (apesar de pequenas mudanças na letra, atualizando a linguagem meio envelhecida de poesias muitas vezes escritas por missionários em tradução de hinos americanos). Entre eles foram cantados hoje “A Deus Demos Glória”, “Eu Venho como Estou”, “Maravilhosa Graça”, “Conta as Bênçãos”, “Vivifica a tua Igreja”… A Orquestra Filarmônica fez um Postlúdio apoteótico tocando a Suite Eslava no 8, Opus 46, de Dvorak.

O Boletim completo do culto pode ser encontrado em

http://www.catedralonline.com.br/index.php?option=com_docman&Itemid=99.

Transcrevo, a seguir, o encarte do Boletim que fala sobre a SoArte:

[Início da Transcrição]

“SoArte: Transformando Sonhos em Realidade! Um Sonho que Dá Frutos!

Há nove anos nascia o SoArte – Centro de Desenvolvimento Cultural e Artístico. COm o nome de CEM (Centro de Educação Musical), começou com dez alunos e dois cursos de música. Hoje colhe os frutos de uma visão empreendedora e responsável, que permitiu a inclusão de mais de 250 pessoas no projeto.

Atualmente o SoArte oferece 18 cursos de música e sete práticas em conjunto: Orquesta Filarmônica Educacional (80 componentes), Coral Educacional (45 cantores), 4 Bandas (quinze integrantes), Camerata de Violões e Teclados (12 componentes), Orquestra de Câmara (18 integrantes), Madrigal (22 cantores), e Coral Infantojuvenil (17 integrantes).

O SoArte realiza cerca de 20 apresentações / concertos anuais e dois festivais.

O SoArte apresenta-se como uma alternativa de transformação de pessoas por meio da arte e contribui para a melhoria da qualidade de vida dos envolvidos com ele direta e indiretamente. Para atingir seus objetivos, conta com a participação de pessoas e empresas na manutenção do projeto, sem o que não seria possível a sua existência. Mas ainda há muito para ser realizado, haja vista a lista de espera com mais de 300 interessados, que aguardam a oportunidade de estudar no SoArte. O projeto precisa de recursos para bolsas de estudo e aquisição de instrumentos e equipamentos. ~

Com o olhar no futuro, o SoArte busca novos horizontes, desenvolvendo três grandes frentes de trabalho nas áreas de Educação e Cultura:

Primeira – Trabalhando na solidificação de projetos sócio-culturais que permitam acessabilidade a todas as pessoas, sem distinção de credo, raçca, cor ou sexo, mas com foco principal nos menos favorecidos;

Segunda – Executando ações para a criação de uma plataforma de cursos profissionalizantes;

Terceira – Planejando a criação de uma plataforma acadêmica e de pesquisa, que deverá ser a base de uma Faculdade de Artes.”

[Fim da transcrição]

A qualidade do trabalho é admirável.

Em São Paulo, 12 de Setembro de 2010

My Kindle

No dia 14 de Junho, quando estava em Lincolnville, em Maine, recebi meu Kindle DX. Ele havia sido encomendado no dia 12, sábado. Chegou em menos de 48 horas, apesar de ser fim de semana.

Estou encantado com o brinquedinho…

A tela é branca, estilo “papel eletrônico”, a fonte agradável e de fácil leitura. Tem um modem 3G embutido (que acessa uma rede especial que a Amazon contratou, Whispernet – nos EUA da ATT, aqui, não sei de quem), de modo que é possível baixar livros quase de qualquer lugar do mundo (Américas, Europa, Far East). O livro chega instantaneamente. Há muitos livros gratuitos e muitos outros por cerca de dois dólares. Quase todos os clássicos da literatura e da filosofia anteriores a 1900 estão disponíveis por cerca de dois dólares cada. Os livros mais recentes têm um desconto de cerca de 20 a 30% em relação ao preço de venda da edição em papel. É pouca redução. Era mais, mais os editores protestaram, ameaçaram a Amazon, e ganharam o direito de virtualmente fixar seus preços. Lamentável. A redução de custos na edição eletrônica (em relação à edição impressa) justificaria uma redução muito maior no preço final. Mas mesmo assim, vale a pena.

É um prazer poder carregar na mochila mais de 200 livros, navegar por eles no avião (a bateria dura de 3 a 4 dias, ou mais se o modem 3G estiver desligado. É possível fazer bookmarks, sublinhar, etc. (ele cria uma pasta “My Clippings” com os bookmarks e os sublinhados).

A versão DX tem tela de 9 polegadas e custa quase 500 dólares. A versão de 6 polegadas teve o preço reduzido recentemente para menos de 200. A Amazon entrega aqui no Brasil, mas é obrigada a cobrar 102% a mais de impostos brasileiros que ela recolhe à voraz Receita Federal.

Enfim… Um brinquedo que vale a pena.

Em São Paulo, 28 de Junho de 2010

Chácara Klabin

Considero a Chácara Klabin o melhor bairro da Vila Mariana. E não é apenas porque moro ali. Há razões objetivas para a minha preferência.

O local em que hoje está a Chácara Klabin já foi a maior favela da cidade: a Favela do Vergueiro. Essa favela abrigava, no início dos anos 70, 1.171 barracos e cerca de 5 mil pessoas, segundo contagem da época. Foi o Maluf quem removeu a favela e devolveu o terreno aos Klabin, que lotearam a “chácara”. Mais uma razão para eu ser grato ao Maluf: não fosse ele, não haveria esse lindo bairro e eu não moraria aqui…

Vejam a história em um dos sites do bairro, onde é possível ver também fotos do bairro – mais antigas e atuais: http://www.chacaraklabin.com.br 

No dia do aniversário da Paloma (15/5) tomamos café da manhã mais ou menos ao meio dia na Klabin Empório dos Pães, aqui pertinho de casa (já era perto – depois que mudamos, ficou a dois  quarteirões pequenos de casa). Padaria fina é outra coisa. Já colocavam o bufê do almoço. Fiz questão de contar: 45 pratos frios salgados, 15 pratos quentes (inclusive feijoada), e dez pratos de sobremesa. Excelente wine store do lado do restaurante (e boa adega para quem quiser almoçar tomando vinho). Música ao vivo: um magnífico saxofone. Estacionamento com manobristas. Banca de revistas na porta para quem preferir almoçar sozinho, lendo o jornal…

Vejam o site da padaria, isto é, do empório… http://www.klabin.emporiodospaes.com.br

Café da manhã no Empório — algo que seria inimaginável quando eu era criança. Então se compravam apenas enlatados e feijão, arroz e farinha a granel no empório. Hoje se compram não sei quantas variedades de pão, e vinhos, e queijos, e salgadinhos…

Mas a Chácara Klabin não se destaca apenas pelo Klabin Empório dos Pães. É um bairro que tem várias coisas finas… No tocante a padarias, também há a excelente Padaria Iracema, na Avenida Prefeito Fábio Prado, a via mais importante do bairro (mais perto do apartamento antigo). Ou coffee shops, como a Nice Cup (ou, para quem gosta, o Franz Café). Ou wine stores como La Ville du Vin. Ou casas de chocolate como a Kopenhagen. Ou pizzarias como A Villa da Pizza. Ou restaurantes que servem comidas típicas de vários países ou regiões (como o Nordeste): o Mascarino. Ali se serve carne seca desfiada com aipim, ambos aquecidos na pedra, ao som de MPB ao vivo… No bairro há várias Escolas de Educação Infantil, Escolas de Natação, Academias de Ginástica… Há também vários cabeleireiros e manicures (como a Dondoca – mas há outras, menos cor-de-rosa). Ou lavanderias como Cinq à Sec. Também há três farmácias, várias imobiliárias (inclusive a Klabin Residence, através da qual descobrimos o nosso apartamento), lojas de móveis, lojas de decoração, floristas, um posto de gasolina bem no meio do bairro (na Fábio Prado), video locadoras, bancas de jornais (pelo menos três muito boas)… E bancos: naturalmente: o Itaú e o Bradesco. Temos também um Extra, um Pão de Açúcar e um Leroy Merlin e uma churrascaria a menos de cinco minutos (a pé) de casa. A concessionária Citroën onde a Paloma comprou a Picasso dela também fica a cinco minutos. E há, também, para quem precisa, vários motéis na Ricardo Jafet. Num raio de cerca de 4 km, mais um hipermercado (Eldorado) e dois shoppings: o Plaza Sul e o Santa Cruz.

E o bairro é servido por duas estações de metrô da prestigiada Linha Verde (que nos liga à Paulista e à Vila Madalena): a Chácara Klabin e a Santos / Imigrantes.

Em São Paulo, 29 de Maio de 2010

Vergueiro

Meus dois posts anteriores foram desabafos, reclamações. Este também vai ser.

Em Inglês há um ditado que diz “If it ain’t broke, don’t fix it” – “Se não está quebrado, não conserte”. Esse ditado deveria ter sido levado em conta pela Prefeitura de São Paulo fem relação à Avenida Vergueiro, no trecho que vai da Estação Paraíso do metrô até a Av. Sena Madureira.

Moro por ali, passo sempre nesse trecho. Nunca tive maiores problemas antes. A Prefeitura, entretanto, resolveu criar uma faixa para motociletas nesse trecho. Para fazer isso, eliminou todas as conversões à esquerda, em ambas as direções, no trecho. Havia pelo menos três conversões à esquerda, uma na direção da Vila Mariana, duas na direção do Paraíso.  Elas funcionavam bem, porque a rua se alargava um pouco na proximidade delas. O trânsito fluía bem, apesar das conversões à esquerda.

Agora, para ir da Vila Mariana ao Paraíso, se você quer fazer uma conversão à esquerda, tem de entrar por umas ruinhas estreitas que atravancam o tráfego. Para vir do Paraíso para a Viila Mariana, você tem de entrar pela Domingos de Moraes – que já era atravancada e, com o trânsito que se dirige ao Ipiranga e à Imigrantes, fica intransitável. E, não sei exatamente por quê, a Vergueiro ficou totalmente entupida.

Não havia um problema. Quiseram consertar. Criaram um enorme problema. Espero que o consertem logo.

Em São Paulo, 20 de Abril de 2010

Hora de Brasília

Os Estados Unidos têm vários fusos horários. O horário em determinado lugar, como, por exemplo, Washington, DC ou New York, NY, é sempre mencionado como “Eastern Standard Time” (EST). Se o horário é o de San Francisco, CA ou de Seattle, WA, ele é descrito como “Pacific Standard Time” (PST).

Por que nós, no leste do Brasil, e especificamente em São Paulo, precisamos dizer “Hora de Brasília”???

Por que privilegiar um critério político em vez de um critério geográfico?

Eu protesto.

Em Campinas, 20 de Abril de 2010

As pequenas coisas que esquecemos ou perdemos

Fantástica matéria na Folha de S. Paulo, Simples, objetiva, essencial. Trata das pequenas coisas do dia-a-dia que não podemos esquecer ou perder, mas que estamos sempre esquecendo ou temporariamente (às vezes definitivamente) perdendo.

Pretendo praticar vários desses conselhos.

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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0804201013.htm

Folha de S. Paulo
8 de Abril de 2010

VIDA PRÁTICA

Para não esquecer

Chega de controle remoto escondido e de papel do estacionamento perdido na bolsa

EM CASA

Deixe um bloquinho para recados (junto com uma caneca cheia de canetas) perto da porta, ao lado das chaves, por exemplo. Assim dá para lembrar de avisar quem vai ficar em casa se o técnico da TV a cabo vai fazer uma visita, se é preciso pagar o gás etc.

Tenha um espaço perto da porta de casa para guardar celular, carteira, papéis importantes e tudo mais que você usa quando vai sair. Pode ser um cabideiro com nichos, como o da foto, ou uma bandeja sobre um aparador, por exemplo.

Use uma bandejinha sobre a mesa de centro para colocar todos os controles remotos juntos e não perdê-los pela casa. Os porta-controles com nichos, vendidos em lojas de decoração, costumam ter pouco espaço, por isso a bandeja funciona melhor. Pode ser até uma tampa de caixa forrada com tecido.

Quando for guardar alguma coisa importante, como o passaporte, diga em voz alta o que você está guardando e onde. Isso serve para chamar sua própria atenção ao que você está fazendo.

NA RUA

Centralize os objetos que vão na bolsa dentro de nécessaires, para não ficar tudo espalhado. Assim, cada vez que a bolsa é aberta, dá para ver o que está lá dentro e perceber o que está faltando. Miudezas, como maquiagem, podem ser colocadas em caixas de óculos ou bolsinhas forradas com plástico, para facilitar a limpeza.

Deixe um dos bolsos internos da bolsa reservado para guardar os itens que precisam estar sempre à mão, como o papelzinho do estacionamento e um dinheiro trocado. Deixe pouca coisa nesse bolso, senão logo tudo vai se misturar e ele vai perder sua função.

Quando for levar um guarda-chuva para sair, experimente usar um acessório diferente, como uma pulseira, ou mudar um anel de dedo, para lembrar que está carregando algo a mais. A estratégia é usada pela organizadora de lares Cristina Papazian. O neurocienista Felipe Viegas Rodrigues alerta, no entanto, que a estratégia pode não funcionar, porque a pessoa pode esquecer qual é a relação do acessório com o objeto a ser lembrado.

Antes de sair do carro, por exemplo, pense no que vai ter que levar: “Estou com duas sacolas de compras e uma pasta”. Segundo o neurocientista Felipe Viegas Rodrigues, parar para se planejar evita a automatização das ações e permite que você preste atenção ao que está fazendo.

[Fontes: CRISTINA PAPAZIAN, organizadora de lares, e FELIPE VIEGAS RODRIGUES, neurocientista do Laboratório de Neurociências e Comportamento da USP]

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Em São Paulo, 8 de Abril de 2010

Os ruídos da noite

São duas da manhã. A Chácara Klabin está bem silenciosa.

Por causa disso se ouvem bem alguns ruídos que, fosse o bairro mais barulhento, se perderiam em meio a barulhos mais fortes. De vez em quando passa um carro na minha rua. Mas dá para ouvir o ruído de carros passando na Avenida Ricardo Jafet, a uns bons 500 metros daqui. Como estou no décimo andar, dá para ouvir bem o som dos motores e dos pneus em atrito com o asfalto. Os ruídos dos caminhões e dos ônibus são naturalmente mais audíveis, mas ouvem-se até mesmo os barulhos mais suaves, quase ininterruptos, dos automóveis.

Infelizmente, não dá para ouvir o ruído do Riacho do Ypiranga correndo sobre as pedras. Passa aqui do lado, entre as duas pistas da Ricardo Jafet, Foi às margens dele que Dom Pedro, o primeiro, proclamou nossa independência, dizendo, mais ou menos na linha do que Patrick Henry disse 50 anos antes nos Estados Unidos, “Independência ou Morte”. (O que Patrick Henry disse é um dos motos – o principal – deste space).

Os ruídos veiculares competem com vários outros ruídos. O da geladeira, o do ar condicionado… Mas dá bem para notar a diferença, em grande parte por causa da regularidade do ruído da geladeira e do ar condicionado. O aparelho de ar condicionado fica na sala. Mas como o apartamento não é muito grande, e o aparelho é bem potente, dá para refrigerar o quarto, se a gente deixar a porta aberta.

Por incrível que pareça, de vez em quando, algumas noites, bem tarde, ouço o apito de um guarda noturno, Gosto desse apito, Lembro-me de quando era criança, e as casas tinham uma plaquinha com as letras maiúsculas GN – de Guarda Noturna. Meu avô, José (Juca) de Campos foi guarda civil noturno, que é como os chamavam em Campinas em meados do século passado. E me deu de presente o seu apito de guarda – bem como o seu espelhinho de dentista amador e o seu relógio de bolso de colete, com as iniciais JC gravadas, de forma rebuscada, na parte de trás. Abrindo o relógio, na parte de trás, havia um JC feito com a letra dele, cortado no metal com algum material de ponta, do jeitinho que ele rubricava as coisas (ou iniciava a sua assinatura).

Mas voltemos para a noite. Motocicletas virtualmente não se ouvem a essa hora da noite. Felizmente. Iria ser um inferno escutar barulho de motocicleta quando se quer dormir. Mas acabou de passar um carro aqui na frente de casa – acelerando. Deve ter saído de algum prédio aqui perto. Estava assim tipo passando da segunda para a terceira… Até isso dá para perceber quando nenhum outro ruído atrapalha. Fico imaginando quem estaria saindo a essas horas, e por quê. Seria uma emergência? Ou seria alguém indo embora que chegou bem mais cedo, festou um pouco, caiu no sono e só acordou agora, apavorado pela hora?

Escutei agora o ruído de um avião. O que pareceu estranho foi que, a essas horas, não há tráfego aéreo em Congonhas, aqui perto. Assim, o avião deve ter passado lá nas alturas. Só com o silência da noite foi possível ouvi-lo.

Dei-me conta agora de que ouço um chiado constante, parecido com o canto baixinho de uma cigarra, que não sei de onde vem. Talvez seja a água passando pelos canos, ou a eletricidade circulando pelos fios, ou os bitzinhos voando pelo ar do meu computador para o roteador no escritório, a partir de onde eles passam a trafegar pelos cabos coaxiais da Net… Ou pode ser que o zumbido esteja nos meus ouvidos, vá lá saber… A gente vai ficando velho e pode ter uma colônia de mosquitinhos dentro do chamado ouvido interno…

Desde que me lembro, sou notívago. Gosto de dormir tarde. E o interessante é que não sou de levantar tarde. Levanto-me cedo. Gosto dessa hora, quando tudo é silêncio e eu tenho a casa totalmente para mim… Gosto de trabalhar a essas horas. Não é raro eu ir dormir duas horas da manhã ou mais. Quando fazia meu doutorado, nos EUA, dormia um pouquinho (uns 45 min, no máximo uma hora) depois do jantar (que lá é cedo, cerca de 17h30), e, depois, ia até as 3 da manhã estudando, escrevendo (fazendo meus trabalhos, minha tese…). Para me levantar às 6h e ir dormir às 2h ou 3h, só cochilando um pouquinho entre um e outro. Cochilo de gato (catnap) é como os anglófonos chamam esse soninho supostamente fora de hora.

Um barulho mais alto, certamente de um caminhão, chegou até aqui. Não foi na minha rua, e acredito que não foi na Ricardo Jafet. Talvez tenha sido na Vergueiro, no rumo do cruzamento com a Avenida Prefeito Fábio Prado – a rua mais importante da Chácara Klabin. (A Ricardo Jafet fica no limite do bairro, e a Vergueiro o cruza, mas nenhuma das duas é rua do bairro: elas começam e terminam em outros bairros. A Fábio Prado, não. Começa e termina na Chácara Klabin. Tem duas pistas, cada uma com três faixas de rolamento (uma geralmente usada para estacionamento). Tem uma mediana, que em alguns pontos se alarga para formar a Praça Giordano Bruno. É nessa rua – na verdade uma avenida – ou em ruas que desembocam nela mas virtualmente na esquina, que ficam o Itaú e o Bradesco, a Drogaria São Paulo, a Padaria Iracema, a Kopenhagen, La Maison du Vin, o Nice Cup (uma coffee shop meio metida a besta que serve um delicioso pastelzinho de beringela com curry – desafio o leitor a encontrar outro lugar que sirva essa delicatesse), a Cinq à Sec, o Posto Shell (com sua nova coleção de lojinhas de conveniência – houve uma reforma recente), cabeleireiro, videolocadora, pet shop, imobiliária, pizzaria (também meio metida a besta), uma loja de móveis, uma loja de quadros e molduras, duas bancas de jornal, um Franz Café, e todo o comércio mais nobre do bairro. A Estação Imigrantes do metrô fica na Rua Saioá, que termina na Fábio Prado, e a Estação Klabin fica na Vergueiro, do lado do Liceu Pasteur (que perdeu um pedaço bom do terreno para a construção da parte subterrânea da estação). Lá trabalha nossa amiga Barbara Dieu. (Gozado, não? Nunca vi alguém ter Deus como sobrenome. A Barbara tem, herdado do marido, um belga).

Mas estou abandonando o meu tema. É duro falar sobre o silêncio por muito tempo. Só um mestre como Nelson Rodrigues pode comentar o silêncio, do qual nunca se ouviu tamanho, que teve lugar no Maracanã em 16/7/1950.

É gozado… Silêncio é a ausência de ruído, de barulho. No entanto, a professora do primário diz: “Façam silêncio!” Deveria dizer: “Não façam barulho!”, porque barulho é o que a gente faz – o silêncio acontece quando a gente não faz barulho nenhum, mas é difícil imaginar como ele possa ser feito, ou como ele possa ter lugar (como acabei de escrever) – ou, a despeito do Nelson Rodrigues, como ele possa ser ouvido. A gente “ouve” silêncio quando a gente não ouve (agora sem aspas) ruídos e barulhos.

Apesar do que acabei de dizer, as pessoas gostam de usar expressões como “A Voz do Silêncio”. Um colega meu da UNICAMP escreveu uma tese de doutoramento em 1974, com o título “A Voz do Intervalo”. Recém-chegado dos Estados Unidos, ainda sentindo o peso de uma filosofia analítica para a qual a clareza e a precisão lingüistica eram valores supremos (e as metáforas e figuras de linguagem muito pouco apreciadas), tive dificuldade para entender a tese. Só aos poucos percebi que ele estava procurando analisa
r as pausas na fala, as pausas no discurso… A Voz do Intervalo. Bonito. Deve estar aposentado também, o Luiz Orlandi. Fui suplente da banca dele, naquela época de escassez de doutores na UNICAMP. Não tive como recusar, apesar de não ter, naquela época, nenhum interesse no tópico. Quem diria que, trinta e tantos anos depois, eu estaria escrevendo uma crônica sobre o silêncio – porque, invertendo a perspectiva, os ruídos da noite nada mais são do que intervalos do silêncio que é “default”.

Bon silence.

Em São Paulo, na Chácara Klabin, 21 de Março de 2010

Meus três tenores atuais

Cada um tem seus três tenores favoritos. Caruso, Lanza, Gigli; Pavarotti, Domingo, Carrera… Fui e continuo um fã de todos eles. 

Mas, ultimamente, tenho uma nova tríade: Hadley, Wunderlich e Ikonen.

Vejam:

Jerry Hadley
http://en.wikipedia.org/wiki/Jerry_Hadley (Comfort ye, Una Furtiva Lacrima)
http://www.youtube.com/watch?v=ectexzzX8Cg&feature=related

Fritz Wunderlich
http://en.wikipedia.org/wiki/Fritz_Wunderlich (Granada)
http://www.facebook.com/ext/share.php?sid=66676227290&h=zQczW&u=DpxPF

Reijo Ikonen
http://www.reijoikonen.com/ (You raise me up, Danny boy)
http://www.youtube.com/watch?v=gBBMukX-BAQ#
http://www.youtube.com/watch?v=79BRoXPv6DY&feature=related

Em São Paulo, 26 de Fevereiro de 2010.

O Medo (versos do fado interpretado por Mariza e, antes, por Amália)

Durante toda a viagem em Portugal, ouvimos um CD de Mariza, com o show (Concerto, na verdade) que deu em Lisboa e que foi gravado ao vivo. Gostamos mais da faixa 2, O Medo.

Para ver o filme dela cantando esse fado no Concerto, publicado no You Tube, visitar: http://www.youtube.com/watch?v=9wQrrIywsok/

Eis a letra:

Quem dorme à noite comigo
É meu segredo,
Mas se insistirem, lhes digo,
O medo mora comigo,
Mas só o medo, mas só o medo

E cedo porque me embala
Num vai-vem de solidão,
É com silêncio que fala,
Com voz de móvel que estala
E nos perturba a razão

Gritar: quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim
Gostava até de matar-me,
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim.

Gentileza de http://www.lyricsmode.com/lyrics/m/mariza/medo.html

[Acrescentado posteriormente: Segundo me informa Manuel Costa, em um comentário:
A letra é de Reinaldo Ferreira Jr. {
http://pt.wikipedia.org/wiki/Reinaldo_Ferreira_(filho)}
A música, de Alain Oulman {
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alain_Oulman}.
Obrigado, Manuel. – EC 14 de Fevereiro de 2010]

Em São Paulo, 8 de Fevereiro de 2010