Jair Messias Bolsonaro

Só decidi apoiar Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil no dia em que ele foi apunhalado, 06.09.2018. Como eu não vou votar no dia do primeiro turno, 07.10.2018, porque estarei no exterior, não achava que precisava me definir até lá.

Mesmo assim, minha maior simpatia ficava com João Amoêdo, um liberal, como eu, embora eu seja mais radical do que ele, um cara articulado, bem falante, sereno, tranquilo, simpático – gente fina e culta.

Isso não quer dizer que eu não tivesse simpatia pelo Jair Bolsonaro também – e há muito tempo. Na verdade, desde que tomei consciência de sua existência na Câmara dos Deputados. Sempre o achei pessoa íntegra, honesta, honrada, com ideias no lugar certo, e inacreditável coragem. Achava-o um homem simples, do povo – característica que de modo algum o desabonava, na minha maneira de ver. Em alguns aspectos, ele era oposto do João Amoêdo. Falava rápido demais, atropelava-se a si próprio, não era sereno e tranquilo. Às vezes, quando estava irado (a maior parte das vezes, com toda a justificação), não era simpático, nem muito menos fino e culto. Seu riso era meio exagerado e, de vez em quando, dependendo do contexto, soltava um palavrão (mas de forma sempre apta). É isso, em parte, que leva muita gente fina e culta a considera-lo meio chucro, tosco, mal acabado, com verniz barato, daquele que cobre os móveis baratos das lojas populares.

Para mim, uma vez mais, esses fatos não o desabonavam, de forma alguma, porque eu gostava de vê-lo desancar o PT e a esquerda, dizendo as verdades que ninguém mais tinha coragem de externar. Sempre convivi bem com gente como o Bolsonaro, inclusive em minha própria família. Sinto-me extremamente bem como sitiante. Tenho sítio mesmo, não chácara de fim de semana. O sítio tem vaca, cavalo, cabrito, porco, galinha, pato; plantação de berinjela, pimentão, feijão, aveia, milho; fedor de adubo no ar em alguns momentos, e fedor do chiqueiro de porcos, quando o vento vem do lado do chiqueiro  para a direção da casa… Apesar de ter concluído meu doutorado em meados de 1972, dias antes de completar 28 anos, e de ter passado, na sequência, 35 anos como professor universitário, aposentando-me no final de 2006, prefiro os ambientes mais rústicos e as companhias mais simples às companhias mais cultas e aos ambientes mais refinados, embora consiga me virar nesses contextos e com esses relacionamentos também. Assim, sempre tive simpatia pelo Jair Bolsonaro – e sempre achei o FHC, por exemplo, um fresco vaidoso e cheio de si (um “bochecha nadegosa”, para usar a expressão de um colega meu da UNICAMP, de Piracicaba, também simples como eu, para traduzir “cara de bunda” para linguagem mais fina e culta… Um cara de bunda beiçola, como o Gilmar Mendes, que ajudou a colocar em órbita).

Enfim… estava deixando a coisa correr para decidir o que fazer no segundo turno (quando já estarei de volta no Brasil), apenas quando fosse estritamente necessário. Pensava até em não votar nem mesmo no segundo turno, usando da permissão que a lei me dá em decorrência de minha idade.

Isso, até o dia do atentado contra a vida de Jair Bolsonaro por um ex (?) militante do PSOL. Naquele dia, e no momento que eu soube, lá em Buenos Aires, decidi apoiar o Bolsonaro, na certeza de que não conseguiremos sobreviver mais quatro anos com alguém da esquerda (Lul’Haddad, Canga’Ciro, Marina) na presidência da nação. Como sabemos, o PT tem envolvimento com várias mortes (Celso Daniel, Toninho de Campinas, mais sete envolvidos na investigação do primeiro assassinato — no mínimo). Concluí ali que nem o Alckmin é duro o suficiente para com a esquerda para fazer a limpeza que precisa ser feita no cenário político do nosso país. O Alckmin é soft and mellow demais. Muito Opus Dei… E concluí, também, que, se o Bolsonaro não ganhar no primeiro turno, há um sério risco de ele não ganhar, porque os demais vão se juntar contra ele, em um eventual segundo turno. Por isso, precisamos fazer de tudo, especialmente agora que ele está hospitalizado, e não pode fazer campanha nas ruas, para tentar coloca-lo no Planalto já em 7 de Outubro, sem segundo turno – especialmente usando a Internet e, nesta, as Redes Sociais. Comecei a trabalhar no mesmo dia – para choque de algumas pessoas que não me conhecem direito, para surpresa de outras, e para a satisfação de muitas outras que me conhecem um pouco melhor.

Revoltou-me, em especial, a reação de muitos, da esquerda, e mesmo de alguns, não tão à esquerda, ao apunhalamento de Bolsonaro. Eles tentaram pôr a culpa na vítima, algo que eles em geral repudiam, quando, por exemplo, gente sem noção culpa as mulheres pelo estupro… Revoltou-me em especial aqueles (para minha surpresa, na maioria aquelas) que lastimavam que o tal militante do PSOL fosse incompetente e não houvesse concluído o seu trabalho a contento. A primeira coisa que publiquei no Facebook foi curta — uma nota dizendo: “Pelo jeito, já começaram a culpar a vítima” (6/9/2018, 19h11). Quebrei o gelo.

Na sequência, publiquei várias análises mostrando porque Jair Bolsonaro precisava ganhar no primeiro turno. Como já mencionei, se não ganhar no primeiro turno, mas passar para o segundo, o que parece quase certo, há muito risco de, mesmo passando ele com a maior votação para o segundo turno, ele não levar, dado o esprit de corps da esquerda. Nisso a esquerda conta com o apoio da gente de bem mais à direita, que se sente envergonhada, quando não enojada, de votar em Jair Bolsonaro, preferindo votar, digamos, no Haddad, que, afinal de contas, se parece com o pessoal modernoso, progressista – exceto por ser capacho e limpa-pés do Lula, que, sempre que ele tenta levantar um pouquinho a cabeça, o humilha… Em 2010 Haddad, hoje sendo chamado de Dilma-2, certamente era um melhor poste do que Dilma (Dilma-1). Ambos eram ministros do Lula. Mas este fez questão de passa-lo para trás, embora mais bem preparado, daquela que se tornou uma piada nacional, quiçá internacional.

Não vou repetir essas análises aqui. Elas estão disponíveis na minha Linha do Tempo no Facebook.

O que quero fazer aqui é retomar algo que também já fiz no Facebook. Lá eu escrevi o seguinte, dirigindo-me a uma audiência específica, na qual se encontram vários amigos meus:

“Se você pensava votar no Amoedo, ou no Dias, ou no Alckmin, e é liberal, pense bem: é preciso resolver essa batalha contra a esquerda no primeiro turno. No segundo, será arriscado. Mude o seu voto, como muitos já estão fazendo…”

Como disse alguém no Facebook ou elegemos JAIR no primeiro turno, ou JAERA.

Uma dessas pessoas de bem, profissional conceituado, e meu bom amigo, depois de ler a passagem citada, me perguntou o seguinte:

“Esclarecendo… Essa mensagem é para pessoas como eu que jamais votariam no Bolsonaro?”

Eu respondi, no dia 8 de Setembro, às 20h49:

“Caro amigo:

Você pergunta: [. . .] “Essa mensagem é para pessoas como eu que jamais votariam no Bolsonaro?”

Eu responderia da seguinte forma, que é mais precisa e, acredito, correta:

 “Não. [. . .] Essa mensagem é para a aqueles que NÃO QUEREM ter como presidente, mais uma vez, um pau mandado de um criminoso demente”.

Se você QUER, ou NÃO SE IMPORTA, a mensagem não é para você: vá em frente e vote em quem você já escolheu… Mas ore bastante para não vir a ser culpado de eleger, uma vez mais, um pau mandado de you know who. Vai ser necessário um milagre.”

Dirigi meus principais argumentos apresentados aos eleitores que não são da esquerda (e que, portanto, não vão votar no Haddad, no Ciro e na Marina), e, talvez, a alguns eleitores do Alckmin que estão céticos acerca de suas chances de vitória. Esses argumentos, outras coisas que elas leram, suas reflexões, baseadas em seus valores, levaram várias pessoas a mudar seus votos para o Bolsonaro ou a admitir que o fariam, ainda que com certa relutância.

Duas pessoas, em especial, a quem eu respeito muito e quero muito bem, disseram que votariam nele com um “voto útil mas envergonhado”, relutantes como quem precisa tomar um “remédio amargo” – e, ainda assim, apenas “se fosse necessário”, para impedir o PT de voltar ao poder.

Respondi a elas desta forma (hoje, 13/9/2018, às 20h54):

Acho que será necessário, sim. Diferentemente de vocês, já me senti representado pelo Jair Messias Bolsonaro muitas vezes, quando ele desancava o PT no Congresso. Ele pode até não ter apresentado muitos projetos de lei [na verdade, apresentou mais de 600], mas ele não deu sossego ao PT e à esquerda. Por isso, não o considero um “remédio amargo”. Acho que ele é um remédio necessário. E o meu voto também é útil, mas não envergonhado. Vim acompanhando esse processo eleitoral criticando a esquerda e apoiando o Amoêdo, que, de certo modo, é o candidato ideal para os liberais, como eu (embora, como já disse, eu seja bem mais radical do que ele – eu beiro o libertarianismo). Mas o Amoêdo não vai ganhar de jeito nenhum. Eu achei, por um tempo, que o segundo turno seria entre o Bolsonaro e o Alckmin — algo que para mim até estaria ok, por deixar o Haddad, o Ciro e a Marina de fora. Como vocês vêem, o meu voto é útil. Não acho, de modo algum, o Bolsonaro a besta fera que muitos insistem em afirmar que ele é. Ele é, isto sim, uma pessoa séria, honesta, honrada, com ideias no lugar certo (como se pode ver no vídeo da entrevista dele na GloboNews onde ele declinou o Brasil que ele quer ter no futuro). E é uma pessoa simples, do povo: bom marido, bom pai, bom amigo, patriota e religioso (cristão). Se ainda não viram o trecho essencial do vídeo, em que ele diz isso, vejam na minha timeline. Por isso, o meu não é um voto envergonhado, nem é um remédio que, para mim, tenha gosto amargo. E acredito que o de vocês também não será totalmente envergonhado, no frigir dos ovos. Aquilo de que a gente tem vergonha a gente normalmente não faz em público. O fato de vocês haverem feito aqui, de público, sem coação, as declarações que fizeram, deixa claro que o voto de vocês pelo menos não será escondido. O vídeo do Bolsonaro na GloboNews está em:

https://www.facebook.com/joseeduardo.sallum.94/videos/288141028455870/.

Resumo aqui o que Jair Bolsonaro disse a Miriam Leitão em resposta à pergunta: “Qual é o Brasil que o senhor quer para o futuro?” Eis a resposta dele:

“Eu quero um Brasil onde tenhamos um só povo, um país sem divisões, de brancos e negros, héteros e homos, ricos e pobres, nordestinos e sulistas…

Eu quero um Brasil onde se respeite a família, acima de tudo, que é a base da sociedade…

Eu quero um Brasil onde a criança seja respeitada em sala de aula

Eu quero um Brasil menos violento e com mais empregos.

Eu quero um Brasil negociando com o mundo todo sem o viés ideológico.

Eu quero um Brasil que invista em pesquisa e em desenvolvimento para explorar a nossa biodiversidade, e agregue valor aos outros recursos minerais que temos aqui.

Eu quero um Brasil sorridente, que se abra para o turismo, dadas as condições de segurança e infraestrutura.

Nós temos tudo, mas tudo, mesmo, para ser uma grande nação.

O que precisamos para chegar lá?

Precisamos, sim, de um homem — ou de uma mulher — que seja honesto, que seja patriota, e tenha Deus no coração.

É este o Brasil que eu quero, para todos nós.

Se esta for a vontade de Deus, eu tenho certeza que cumprirei esta missão ao lado do povo brasileiro.”

É isso.

São Paulo, em 14.09.2018

[ADENDO 1, acrescentado em 29/10/2018, depois da vitória de Bolsonaro, no segundo turno.]

Como é sabido de todos, Bolsonaro foi para o Segundo Turno com Haddad e ganhou o Segundo Turno com mais de 10% de diferença (55,13% a 44,87%), tendo recebido 57.797.815 votos, contra 47.040.902 de Haddad (diferença de mais de 10 milhões de votos).

A diferença que acabou sendo de 10% esteve sempre, antes do Segundo Turno, até cinco dias finais da última semana, entre 16% e 20%. Considero que três razões explicam a redução da diferença.

a. A publicação de um vídeo de um filho de Bolsonaro dizendo, seis meses atrás, em um cursinho no Paraná, que para fechar o STF basta um cabo e um soldado;

b. Palavras fortes de Bolsonaro em uma mensagem aos que manifestavam a favor dele no domingo anterior, 21/10, na Av. Paulista;

c. Acusações até aqui totalmente infundadas feitas pela Folha de S. Paulo, e exploradas com alarde e exagero por Haddad, de que Bolsonaro havia sido financiado por empresários que pagam empresas para impulsionar “FakeNews” acerca de Haddad, no que seria, acusava-se um Caixa 2 de Bolsonaro, o crítico dos Caixa 2.

Outras razões podem sem dúvida aparecer.

Em relação a essas razões tenho a observar o seguinte:

a. O filho de Bolsonaro não propôs o fechamento do STF, só usando uma observação (provavelmente copiado de algo que o Jânio disse acerca do fechamento do Congresso), em um ambiente fechado de sala de aula, sobre como seria fácil fechar o STF, se o STF se comportasse de forma ilegal ou irresponsável. O ex-deputado federal Damous, mão-direita do Lula, e o próprio Lula, já disseram coisas muito piores sobre o STF, propondo, eles sim, o seu fechamento, sem que ninguém fizesse um escândalo sobre o que disseram.

b. No dia seguinte à fala de Bolsonaro, Haddad disse, diante das câmaras, que Bolsonaro não era um ser humano e que merecia ser varrido da face da Terra — algo mais forte do que aquilo que Bolsonaro havia dito, ficando tudo por isso mesmo.

c. Além de não haver nenhuma evidência de que aquilo que a Folha disse e Haddad repetiu ad nauseam fosse verdadeiro, pesquisas feitas mostraram que os dois lados usaram as Redes Sociais na mesma proporção e usando os mesmos métodos, havendo um percentual de Fake News por parte dos dois lados — e que o efeito dessas Fake News sobre a decisão de voto dos eleitores foi mínimo.

São Paulo, em 29.10.2018

[ADDENDO 2, acrescentado em 14.09.2019, exatamente um ano depois do texto original, como o caput de um post que compartilhava novamente o texto original:

“Faz um ano que publiquei o artigo abaixo. A decisão de votar em Bolsonaro, em vez de em Amoedo, foi tomada instantaneamente, em Buenos Aires, no dia 06.09.2018, quando tomei conhecimento de que havia acontecido uma tentativa de assassinato contra ele. Naquele momento, ao saber que o quase-assassino era do PSOL, concluí que, ou a gente cortava as asas da esquerda, bem rente, ou este país ia direto para o buraco — mesmo que ganhasse, digamos, o candidato do PSDB. Endosso o texto hoje, um ano depois, sem ressalvas.”

É isso.

São Paulo, em 14.09.2019

Uma resposta

    • Obrigado, Will Terra. Foi escrito não só com a cabeça, mas também com o coração. Hoje, 29/10/2018, depois da vitória do Capitão, não tenho a menor dúvida de que tomei a decisão certa e implementei-a bem. Abraço.

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    • É bom constatar que o irmão biológico da gente é também irmão nas ideias e nos sentimentos. Hoje, 29/10/2018, é o dia de descansar e comemorar a vitória. Só agora tive algum tempo de ler comentários. Obrigado, meu caro Flá-Flá.

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