[O artiguinho abaixo foi escrito em 1995 (há cerca de doze anos, portanto, quando foi publicado aqui, em 2007) e foi publicado na época em vários jornais do interior paulista. Na ocasião eu era presidente de uma rede de franquias de escolas de informática. (O seu conteúdo, especialmente no final, deixa evidente o objetivo marketeiro do artigo…). Resolvi compartilhá-lo aqui porque seu conteúdo é parcialmente relevante para o site VMC que eu criei: visão, motivação e competência. (Esse site não existe mais. EC, 2020.)]
o O o
O sucesso dos outros, geralmente o atribuímos à sorte (o nosso próprio, em regra o vemos como produto de esforço, competência e conhecimento); pelo infortúnio próprio, geralmente culpamos o azar (comumente atribuindo a seus erros e falhas o fracasso dos outros)…
É inegável que sorte e/ou azar têm um papel importante em nossos sucessos e fracassos. No entanto, na maior parte das vezes, a sorte e o azar têm pouco que ver com, respectivamente, o sucesso dos outros e os fracassos que nos vitimam. Vou procurar esclarecer esse assunto discutindo uma questão preocupante no momento atual no Brasil: o desemprego e o papel que a informática está desempenhando no processo.
Desemprego Conjuntural e Estrutural
Os economistas distinguem dois tipos de desemprego.
O desemprego conjuntural depende da conjuntura, isto é, da situação do momento. Ele é visto como decorrente de algo anormal que acontece num determinado momento (uma grande seca, chuva demais, recessão econômica, epidemias, etc.). Acredita-se que, passada a anormalidade, o nível de emprego também voltará ao normal.
O desemprego estrutural acontece em função de mudanças definitivas na própria estrutura da sociedade. A automação dos processos produtivos na indústria e nos serviços é uma mudança definitiva na forma de produzir bens e prestar serviços das sociedades modernas. Por isso, o desemprego que está sendo causado por essa automação está aqui para ficar. A única solução para quem ficou desempregado em função de mudanças estruturais na sociedade é se (re)qualificar ou (re)capacitar.
A Informática e a Automação Industrial
Até o início deste século, a maior parte das pessoas trabalhava na agricultura. Depois, a agricultura foi se automatizando e hoje, nos países desenvolvidos, apenas cerca de 2% das pessoas economicamente ativas trabalha na agricultura. Algo semelhante está acontecendo hoje na indústria. A força motriz da automação industrial, que no passado já foi mecânica e elétrica, é hoje eletrônica – mais precisamente, eletrônico-digital: o computador e seus periféricos e derivados. Analistas estimam que por volta do ano 2015 o percentual da força de trabalho dos Estados Unidos que estará atuando no setor industrial estará próximo dos 2% que hoje atuam no setor agrícola.
Essa enorme redução da força de trabalho na indústria não significa que os países em que isso está acontecendo deixarão de ser potências industriais. Os Estados Unidos, por exemplo, continuarão sendo uma potência industrial da mesma forma que continuaram sendo uma potência agrícola. O que diminuirá é o número de pessoas, em termos absolutos e relativos, que será necessário para gerar a produção. Isso significa que haverá sério desemprego estrutural no setor industrial americano nos próximos anos – como, de resto, vem acontecendo nos últimos trinta anos. E o que acontece lá, geralmente acontece aqui, logo depois.
No total, provavelmente aumentará a oferta de trabalho: os 95% da força de trabalho americana que não estarão nem na agricultura nem na indústria por volta do ano 2015 estarão trabalhando no setor de serviços: lidando com pessoas e com informações. (E aqui o computador é ainda mais importante do que na indústria!)
Pior cego, diz o ditado, é o que não quer ver. Em pleno limiar do século XXI, há pessoas que não vêem que o computador está roubando seu emprego e, por isso, não pensam em aprender a usar o computador. A única solução para quem está ficando desempregado em função de mudanças estruturais na sociedade está em mudanças no plano pessoal: (re)qualificar-se ou (re)capacitar-se. E a (re)qualificação ou (re)capacitação passa, hoje, necessariamente, pela informática. Se você trabalha com algum processo que vai ser automatizado através da informática, você tem três alternativas:
- Ou você reaprende a realizar o processo usando o computador;
- Ou você vai fazer alguma outra coisa (mas quase tudo hoje envolve o computador);
- Ou, então, você vai ficar desempregado.
Não há outra alternativa. O bancário de hoje, por exemplo, ou ele aprende a lidar eficaz e eficientemente com o computador, ou muda de ramo (vai ser balconista ou atendente?), ou vai fatalmente ficar desempregado. Se não fizer nada, quando o desemprego chegar, vai dizer: “Que azar!”. E vai olhar para os que trabalham bem com o computador, e estão bem empregados, e dizer: “Caras de sorte, estes!”
Sorte e Azar
As oportunidades e os maus momentos passam diante de todos nós de forma basicamente igualitária. O que torna uns bem sucedidos e outros fracassados é o que eles fazem das oportunidades e dos maus momentos que passam diante deles: é a reação deles ao ambiente que os circunda e envolve.
Os bem sucedidos geralmente aproveitam as oportunidades, através de escolhas bem feitas e decisões bem tomadas e, porque estão sempre esperando por elas, ou, melhor, porque estão sempre procurando por elas e preparados para fazer uso delas quando as encontrarem, e não se deixam abalar pelos eventuais maus momentos. “Levantam, sacodem a poeira e dão a volta por cima”, ficando prontos para outra.
Os que fracassam geralmente não aproveitam as oportunidades, porque não as procuram, porque não estão esperando por elas quando elas de repente aparecem, e porque, se trombarem com elas, não estão preparados para delas fazer bom uso.
“Esperar”, disse Geraldo Vandré, “não é saber”. Em palavras inspiradas, ele sentenciou: “Quem sabe, faz a hora, não espera acontecer”. Muitos, hoje, estão lendo e ouvindo notícias de desemprego, e esperando. Esperando o quê? A hora de chegar o azar.
Quem sabe, entretanto, não espera acontecer: toma a iniciativa e proativamente vai e faz. Mesmo uma grande jornada começa com um primeiro passo. O primeiro passo do “ir e fazer”, no momento, é aprender a usar o computador. Poucas coisas são tão certas quanto a predição de que, mais cedo ou mais tarde, você terá de usar um computador em seu trabalho – ou ficar desempregado (se for empregado), ou ficar sem a empresa (se for empresário).
Portanto, vá e faça um bom curso de informática: você estará investindo no seu futuro e se preparando para ir atrás de sua sorte e agarrá-la pelos cabelos, quando a encontrar.
Como é evidente, do último parágrafo, este artigo não nega a existência e a importância do acaso, a saber, da sorte e do azar. Ele ressalta a importância de não só esperar, mas procurar a sorte. E a importância de estar preparado para o azar, quando ele aparecer.
Escrito em 1995, em Campinas; transcrito aqui no blog Liberal Space em Washington, 7 de Setembro de 2007 (esperando o avião para São Paulo); revisado minimamente em Salto, em 23 de Dezembro de 2020, quando o publiquei também no meu blog Chaves Space.
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