O artigo de Ferreira Gullar na Folha de hoje [21/8/2005] é fabuloso. Concordo com ele inteiramente — exceto pela última frase…
O artigo mostra, de maneira lúcida e insofismável, através de fatos e argumentos, que Lulla é indiscutivelmente o grande responsável pelos crimes que o PT perpetrou nos últimos anos.
O argumento de Ferreira Gullar (em minhas palavras, e com alguns acréscimos e embelezamentos meus) é o seguinte:
Depois de ter sido derrotado em três campanhas presidenciais, Lulla tomou a decisão de só concorrer pela quarta vez para ganhar. Ao tomar essa decisão, decretou que os fins são mais importantes do que os meios (tese de resto pacificamente aceita pelos comunistas). O PT, ao aceitar essa decisão de Lulla, reconheceu e assumiu a necessidade de escolher, na campanha, quaisquer meios que levassem ao fim de eleger Lulla (ainda que imorais, como as alianças com picaretas, e criminosos, como os subornos, o Caixa 2, etc. – Ferreira Gullar lista boa parte deles).
Ferreira Gullar não diz, mas eu acrescento, que, eleito Lulla, o PT levou adiante o objetivo de, agora, consolidar o projeto de poder do presidente e de seus companheiros mais próximos. Qualquer meio, agora, é válido para o fim de consolidar o aparelhamento do Estado e manter o PT indefinidamente no poder (e, de sobra, enriquecer os companheiros).
O artigo é uma obra prima de clareza na exposição dos fatos e na argumentação.
Cito o último parágrafo, que contém um resumo dos fatos e a conclusão de Ferreira Gullar:
"Não resta dúvida, portanto, que, nas opções feitas por Lula, residem as causas dos endividamentos, dos empréstimos, do ‘mensalão’, do uso do caixa dois. Não pretendo com isto inocentar a Delúbio, Silvinho, Genoino e Zé Dirceu, obviamente responsáveis pelas trapaças que arquitetaram, praticaram ou consentiram. Mas o fizeram para viabilizar a eleição e o governo de seu chefe. Por isso mesmo, no ambíguo discurso em que pediu desculpas à nação, Lula, ao dizer-se traído, evitou citar-lhes os nomes. Sabe muito bem que não pode fazê-lo. Sua responsabilidade em tudo o que ocorreu é indiscutível. Nem por isso defenderia a tese do seu impedimento."
Note-se o resumo que Ferreira Gullar, esquerdista comunista assumido, faz de suas impecáveis considerações:
"A responsabilidade [de Lulla] em TUDO o que ocorreu [endividamentos, empréstimos, mensalão, uso do caixa dois] é INDISCUTÍVEL."
Conclusão: logo, Lulla deve ser impedido, não é?
NÃO!!! A conclusão de Ferreira Gullar é: logo, Lulla NÃO deve ser impedido!
Por quê essa conclusão falaciosa? Well, well: a única explicação só pode ser que Lulla é um companheiro (e) camarada.
A incoerência lógica da esquerda é inacreditável — só se compara à sua disposição de proteger um companheiro (e) camarada não importa o que ele tenha feito ou autorizado, vale dizer, mesmo quando ela não tem dúvida de que ele é indiscutivelmente responsável pelo maior golpe que já se perpetrou sobre este país – golpe em mais de um sentido, de enganação e tomada ilegítima do poder – porque, dada a enganação e os crimes cometidos no processo de viabilizá-la, a eleição de 2002 foi uma empulhação. Este sim, um verdadeiro golpe: negro e sujo. Perto dele o alegado golpe branco e limpo dos que querem remover Lulla por impedimento é um exemplo de probidade e responsabilidade.
Como Lulla, Ferreira Gullar trai o país quando conclui que Lulla não deve ser impedido. Mas dele, Ferreira Gullar, eu não esperava outra coisa.
Em Campinas, 21 de agosto de 2005
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