Sempre que viajo para a Ásia comento, ao voltar, a minha surpresa de que tudo tenha dado tão certo. São, em geral, mais de 25 horas no ar, mais de 10 horas em traslados e esperas em aeroporto, e, chegando lá, sempre há alguém esperando, com uma plaquinha com meu nome, no hotel a reserva está feita direitinho, etc.
Ontem cheguei da Malásia, com uma hora de atraso – e minhas malas não chegaram. Na verdade, não chegaram as malas de quase 100 dos cerca de 350+ passageiros do Jumbo 747 da British Airways no vôo BA 235 de 10/12/2006.
O culpado certamente foi o Aeroporto de Heathrow, em Londres. Se apenas as minhas malas não houvessem chegado, poderia ter sido culpa da Malaysia Airlines, visto que quem as embarcou, em Kuala Lumpur, para transferência em London – Heathrow, foi a companhia da Malásia. Mas a maior parte dos passageiros que ficou sem malas embarcou originalmente em Londres. Logo, a culpa é da British Airways ou, mais provavelmente, do aeroporto de Heathrow.
Creio que nenhum dos passageiros tenha dúvida de que a culpa é dos absurdos procedimentos de segurança do aeroporto. Tudo lá estava caótico.
Primeiro, há a exigência de que cada passageiro carregue no máximo uma bagagem de mão. Nem sequer uma pequena bolsa de mulher, ou uma pequena capanga de homem, ou uma sacola com livros, muito menos uma maleta de computador, era permitida a bordo como segundo volume. Isso fez com que milhares de pessoas, que não tinham conhecimento desse procedimento, tivessem de despachar um volume na porta do avião ou, então, precisassem tentar enfiar tudo que tinham em mãos dentro de uma maleta só (que foi o que fiz). Isso explica a uma hora de atraso na partida.
(Esse procedimento não explica todo o atraso: o fato de a gente precisar tomar ônibus para chegar até o avião, um verdadeiro absurdo nos dias de hoje, explica o resto. No aeroporto de Lisboa acontece o mesmo. Mas lá há uma explicação plausível: a empresa portuguesa que construiu os fingers do aeroporto os contruiu verticalmente fixos. Eles, assim, não podem se ajustar à altura dos aviões modernos — aviões modernos aqui querendo dizer aviões de uns 40 anos, como os Boeing 747… Será que foi a mesma empresa portuguesa que construiu os fingers de London Heathrow? Pelo jeito…).
Segundo, há a proibição de carregar líqüidos na bagagem de mão. Essa proibição foi "relaxada" um pouco ultimamente: agora se admitem volumes de até 100 mil desde que colocados em um saco plástico transparente, resselável, etc. Nos locais de checagem de segurança, havia centenas de garrafinhas de água, refrigerantes, até remédios, tudo confiscado ou relutantemente abandonado pelo dono. Mais caos e demora.
Acredito que devem ter suspeitado alguma coisa num lote de malas que deveria ter vindo em nossa avião e, por isso, não embarcaram o lote todo. Só isso pode explicar a não chegada de tanta bagagem.
Uma vez mais, é o país europeu desenvolvido que decepciona, enquanto os países asiáticos fazem tudo direitinho, como manda o figurino.
(E não falo nem da feiura do aeroporto de Londres perto da beleza que são os aeroportos de Kuala Lumpur, Bangkok, Hong Kong, Taipei, Singapore, Seoul…)
Felizmente me dei ao trabalho de colocar a minha mochila inteira dentro da maleta do computador. Ficou meio amassada, uma pena, mas não precisei despachar mais um volume — que, provavelmente, não teria chegado… E, uma vez dentro do avião, removi a mochila de dentro da maleta e carreguei as duas normalmente. Havia amplo espaço para armazenar as duas na upper deck do 747 – o lugar mais gostoso de voar, especialmente nos assentos junto à janela, que possuem bastante espaço lateral, no chão, para armazenar as coisas.
Em Campinas, 11 de dezembro de 2006