Grazi roubou a cena encarnando, na TV, uma fantasia cara aos brasileiros. Ela é a "namoradinha", o tipo consagrado nos anos 70 por Regina Duarte em papéis como a Ritinha de Irmãos Coragem (1970) ou a Patrícia de Minha Doce Namorada (1972). "Grazi é a mais nova namoradinha do Brasil", diz Mauro Alencar, pesquisador da Universidade de São Paulo e um dos maiores estudiosos da telenovela no Brasil. Para Alencar, que escreve um livro justamente sobre o assunto, ser "namoradinha" é mais que encarnar a mocinha "do bem", destinada a derrotar a megera e ficar com o galã no final. "Uma das características principais desse tipo de personagem, claro, é a pureza. Mas não é a pureza da virgindade. Tem mais a ver com a inexperiência com a vida. Mesmo que as personagens de Regina Duarte não fossem virgens de fato, eram recatadas, ou por serem da roça, ou por conta de uma decepção amorosa", afirma Alencar. Assim é a Thelminha de Páginas da Vida. Ela é uma moça do interior de um tipo que não existe mais no interior – que, com a internet, a riqueza derivada do agronegócio e toda uma cultura simbolizada pelos rodeios e festas do peão, é muito diferente do lugar bucólico retratado na Vila de Coroado de Irmãos Coragem. Thelminha cativa tanto por seu jeito fora de moda – potencializado pelo contraste com uma irmã esfuziante, vivida por Danielle Winits – quanto por ressuscitar um tipo que andava sumido desde os tempos de Regina Duarte.
O auge da "namoradinha" foi nos anos 70, quando várias atrizes seguiram o modelo de Regina Duarte (veja o quadro na sequência da matéria). Mauro Alencar cita Eva Wilma (Mulheres de Areia, 1975), Lucélia Santos (Escrava Isaura, 1977) e Glória Pires (Cabocla, 1979). "Nesse período, a que chegou mais perto foi a Carolina de A Moreninha, vivida por Nívea Maria", diz o estudioso. A "namoradinha" começou a entrar em declínio quando Regina Duarte decidiu que sua carreira precisava de um novo rumo e partiu para um papel radicalmente diferente – a divorciada que vai à luta em Malu Mulher. Nos anos 80 e 90, várias atrizes reivindicaram o título, mas os tempos eram outros. À Lurdinha de Anos Dourados, vivida por Malu Mader, faltava a "pureza" de que fala Alencar – embora a personagem fosse virgem no começo da trama. Nenhuma atriz foi mais comparada a Regina Duarte que Adriana Esteves quando ela despontou para o estrelato, vivendo a Patrícia de Meu Bem, Meu Mal (1991). Mas a determinação com a qual ela perseguia o amor do galã Ricardo, homem mais velho vivido por José Mayer, não combinava com o figurino. "Namoradinhas" como Regina Duarte nos anos 70 não vão atrás – esperam que o homem venha até elas. A Thelminha de Grazi é exatamente assim. Com o ar de quem não entende os códigos do amor numa cidade grande, ela parece clamar por um galã que a ensine. É um tipo recorrente na ficção desde que o escritor irlandês George Bernard Shaw o inventou, no começo do século XX, na peça Pigmalião – que inspiraria a mais conhecida versão cinematográfica do personagem, a deliciosa Audrey Hepburn de My Fair Lady. A "namoradinha" é a versão brasileira desse arquétipo literário e cinematográfico.
Grazi já está no imaginário romântico. Agora, ela precisa entrar no imaginário do samba. Com a batucada ao fundo, suspiros e sorrisos de moça recatada ficam em segundo plano. O que conta são atributos mais, por assim dizer, firmes. Para consegui-los, Grazi se esforça. Nos últimos dois meses, a atriz de 1,73 metro de altura e 58 quilos distribuídos em um corpo longilíneo fez mais de 30 sessões de 75 minutos de malhação pesada. O objetivo: aumentar as pernas e o bumbum, principais alvos das câmeras de toda musa no Sambódromo e de um complexo da própria atriz. "Ah, eu sou só ajeitadinha. Tenho as pernas finas e sou desbundada", diz Grazi. Seu cotidiano dos últimos tempos inclui agachamento para as coxas e exercícios com caneleiras de 12 quilos para reforçar o bumbum, além de abdominais para secar a barriga. "Os últimos dias serão para dar uma secada na barriguinha", diz o personal trainer Marcello Barbosa, responsável também por esculpir o corpo da apresentadora Angélica.
Na disputa entre musas não basta ser bonita ou sexy. Para tomar de Juliana Paes o título de Rainha do Carnaval – a morena desfila novamente neste ano na favorita Viradouro -, Grazi enfrenta ainda aulas de samba com as passistas de sua escola, a Grande Rio, vice-campeã do Carnaval do ano passado. "Só não dá pra rebolar que nem elas. Você já viu? Elas têm alguma coisa no quadril que é só delas", afirmou Grazi durante um dos ensaios. O esforço está agradando. O presidente da escola, Jayder Soares, deu de presente à atriz um colar de ouro, rubis e brilhantes com a forma do símbolo da escola.
A trajetória de Grazi é admirável também porque, entre todos os candidatos a ator que passaram pelo programa Big Brother Brasil, ela é provavelmente a mais bem-sucedida. Em 2004, Grazi comemorava o terceiro lugar num concurso de miss, depois de ter sido babá e manicure em Jacarezinho, no interior do Paraná. Escolhida para o Big Brother de 2005, ela chegou à final, vencida pelo professor baiano Jean Wyllys. Foi no BBB que conheceu Alan Passos, seu "namorido (namorado-marido)", na definição da atriz. "No começo, ela era só famosa por ser famosa. Mas conseguiu manter a visibilidade depois do BBB", afirma o publicitário Lula Vieira. Depois do BBB, Grazi tornou-se uma espécie de total-flex da publicidade, fazendo todo tipo de comercial, sem se preocupar com a imagem (por falar em imagem, o fato de ter posado nua para a revista Playboy estranhamente não interferiu em sua aura de pureza). Mas a fama cresceu, e hoje ela é alvo de disputas ferrenhas. De acordo com a legislação, Grazi só poderá aparecer em comercial de cerveja aos 25 anos, idade que completará em junho. Mesmo assim, a cervejaria Itaipava, patrocinadora da Grande Rio, e a Brahma, dona do camarote mais famoso do Carnaval, já disputam a jovem.
Grazi vive hoje numa casa no Recreio dos Bandeirantes, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, com o "namorido" Alan e Carolina, uma fêmea de golden retriever. "Eu sou musa do meu negão", diz Grazi. Dele, dos leitores de ÉPOCA, dos telespectadores de Páginas da Vida, da torcida do Flamengo – e, se calhar, da do Vasco também. A nova namoradinha do Brasil prepara a fantasia em tons de ouro com que pretende desfilar na Grande Rio. Assim vestida, a musa do Carnaval poderia também ser musa de Chico Buarque:
Todo ano eu lhe fazia
Uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia
Para que o povo admirasse.
Não parece que "Quem Te Viu (no Big Brother) Quem Te Vê (na Sapucaí)" foi feita para ela?
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