Estou lendo um livro muito interessante, comprado na livraria Eslite, aqui em Taipei: No Two Alike: Human Nature and Human Individuality, de Judith Rich Harris. Estou gostando tanto que comprei, na Barnes & Noble online, o livro anterior dela: The Nurture Assumption: Why Children Turn out the Way they Do.
A psicologia evolucionária se baseia no princípio de que nossas características psíquicas se devem à luta pela sobrevivência e, em última instância, à sobrevivência do mais apto.
Se isso é verdade, há um problema a ser resolvido: o de ações aparentemente altruístas, a saber, ações em que alguém arrisca a sua vida, e, muitas vezes, a perde, para salvar a vida de outra pessoa ou ajudar outra pessoa. Morrer para salver a vida de outrem é, evidentemente, a coisa menos apta que se pode imaginar na luta pela sobrevivência. Como explicá-la, em termos do princípio básico da psicologia evolucionária?
Uma primeira tentativa de explicação é de que os atos aparentemente altruístas acontecem especialmente em relação a parentes, em especial aos filhos, e que eles, portanto, são explicáveis egoisticamente — no caso dos filhos, o egoísmo está (além dos aspectos afetivos) no interesse em preservar a continuidade do processo de transmissão de nossos genes.
Mas há muitos exemplos de pessoas que morrem tentando salvar totais estranhos. Como explicar esses casos?
A tentativa aqui precisa ser um pouco mais sofisticada. Mas o ponto básico é de que, ao ajudar estranhos em situações extremas, quem ajuda nunca espera perder a vida — embora deva contar com essa possibilidade. Esperando sobreviver, quem ajuda conta com a possibilidade de que, estando ele um dia em situação semelhante, alguém também se disporá a ajudá-lo… O ato aparentemente altruísta, assim, também se revela egoísta: ao ajudar os outros, ainda que estranhos, espero estar acumulando créditos que, um dia, se necessário, possam ser cobrados da conta corrente de boa vontade estabelecida junto aos semelhantes…
Clever.
Vale a pena ler o livro.
Em Taipei, 31 de Agosto de 2007