A leitura talvez seja, de todos os vícios humanos, o único que não faz mal: pelo contrário, contribui para o nosso desenvolvimento como humanos.
É bonito ver uma criança, em idade tenra, com um livro na mão, absorta, ainda que seja apenas pelas imagens.
É bonito ver livrarias e bibliotecas cheias de crianças, esparramadas em puffs ou deitadas de bruços no chão, lendo.
Talvez dentro de algum tempo as crianças venham a ter um e-book reader na mão. Mas elas estarão lendo – e o que vierem a ler ainda será um livro.
O livro é uma tecnologia que expande a nossa experiência, enriquece a nossa vivência. Através dele, vivenciamos, vicariamente, experiências de outrem – e aprendemos com elas.
A tecnologia digital alterou o nosso acesso ao livro e, até certo ponto, modificou a nossa forma de escrever e ler certos textos. O hipertexto está aqui para ficar e, com ele, surgiu a escrita e a leitura não lineares, que operam “em saltos”. O hipertexto fez do livro um texto com vários possíveis itinerários e finais. Mas não substituiu, nem vai substituir, o livro linear, com começo, meio e fim.
Há muitas formas de contar histórias. Umas lineares, seqüenciais. Outras, cheias de saltos que nos levam para lugares diferentes e flashbacks que nos jogam para tempos diferentes. O livro, bem como o cinema, que dele depende, é a tecnologia mais adaptada para a narrativa – a seqüencial ou a que envolve saltos para diferentes tempos e lugares.
Sem o livro, impresso ou digital, seríamos muito mais pobres, teríamos muito menos oportunidades de desenvolvimento.
Em São Paulo, 2 de Abril de 2010