Quando eu digo que o mercado livreiro se cuide, não é sem razão… A querida Borders, minha livraria favorita, a empresa livreira que lançou a moda das megabooksotores, em 1971, pediu concordata e fechou, de uma sentada, nada menos do que 200 lojas nos Estados Unidos.
E a Barnes & Noble, que seguiu a moda e abriu megastores pelos Estados Unidos, também já fechou várias lojas em 2010, tentando postergar igual destino.
“Analistas do setor projetam redução de 50% em livrarias “físicas” em cinco anos e 90% em dez anos”, diz a matéria da Folha de S. Paulo de hoje (17/02/2011), transcrita abaixo.
Eu sinto… Sinto muito, mesmo, porque estar na Borders era muito mais do que visitar uma livraria. Era participar de uma experiência, que envolvia a leitura, mas não se limitava a ela. O mercado brasileiro tem um gosto dessa experiência nas Megalivrarias da Saraiva e da Cultura. Mas elas ainda têm muito a desenvolver para chegar ao nível de conforto e conviviabilidade da Borders.
Minha filha Andrea, que mora nos Estados Unidos, perto de uma Borders, tem um acordo com o marido. Duas vezes por mês o marido fica em casa numa sexta-feira e ela sai para fruir o seu dia de liberdade. Destino? Borders. Entra lá às 10h e, por vezes, sai de lá às 22h. Almoça lá. A loja tem uma coffee shop bastante decente e serve Starbucks Coffee. Tem poltronas e puffs confortáveis espalhados pela loja. Tem espaço para crianças pequenas, crianças maiores, adolescentes e jovens. Tem setor de cds e dvds. Tem setor de jornais e revistas onde você pode ler o que quiser como gentileza da casa. As revistas não são protegidas por embalagens de plástico. Tem wi-fi gratuita.
What else can one ask for?
(Um queijinho mineiro meia-cura e uma garrafa de bom vinho tinto são as únicas coisas que me ocorrem… Lá nos EUA dificilmente vão servir isso. Aqui no Brasil a coffee shop da Livraria Cultura já serve vinho. Falta o queijinho mineiro meia-cura.)
Por tudo isso, lamento o fato de que a Borders está em concordata. Espero que saia da concordata e consiga se reinventar para a alegria e o enriquecimento cultural e vivencial de nós todos – em especial da próxima geração, a geração dos meus netos e das minhas filhas “de resposição” – não é isso que “step daughter” significa?
Vejam a matéria da Folha, transcrita a seguir.
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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1702201112.htm
Folha de S. Paulo
17 de Fevereiro de 2011
FOCO
Livraria americana Borders pede concordata nos EUA
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
A cadeia de livrarias Borders entrou ontem com pedido de concordata nos EUA e anunciou fechamento de cerca de 200 lojas, reforçando temores sobre o futuro do setor no país.
A ação, considerada a maior falência do ramo dos livros, vem sendo creditada, além de às más decisões de negócios, à competição com lojas virtuais como a Amazon.com e a demora a entrar no ramo dos e-books.
A empresa informou ter dívidas no valor de US$ 1,29 bilhão (R$ 2,16 bilhões) e bens estimados em US$ 1,27 bilhão (R$ 2,12 bilhões).
As vendas caíram mais de 12% no terceiro trimestre do ano passado.
Financiamento de US$ 505 milhões (R$ 844 milhões) da GE Capital permitirá que siga operando enquanto se reestrutura sob o capítulo 11 da lei de falências americana.
HISTÓRIA
A Borders começou em 1971 como um sebo em Ann Arbor (Michigan). Opera mais de 650 lojas, das quais 500 são no formato superstore, e tem 19 mil funcionários.
Por anos, a companhia manteve mentalidade expansiva, com acúmulo de lojas próximas umas das outras e dos concorrentes.
Os problemas não são exclusivos da Borders, mas se espalham pelo setor.
Sua principal concorrente, a cadeia Barnes & Noble, foi colocada à venda e anunciou fechamento de algumas lojas em 2010.
As independentes também lutam para sobreviver. Na semana passada, uma das mais conhecidas, a Powell’s Books (de Portland), demitiu 31 funcionários.
Analistas do setor projetam redução de 50% em livrarias “físicas” em cinco anos e 90% em dez anos.
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Em São Paulo, 17 de Fevereiro de 2011.
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