1) Do final da Segunda Guerra até hoje – quase 70 anos – o mundo sofreu mudanças amplas e profundas. Tamanha foi a amplitude e a profundidade dessas mudanças, para não mencionar seu ritmo cada vez mais acelerado, que muitos falam que estavamos vivendo a passagem de uma era para outra. Estamos passando da Era Industrial, com seus modos de produtos padronizados fabricados e distribuídos em massa, para uma nova era que tem recebido vários nomes: da Informação, do Conhecimento, da Criatividade, da Inovação, da Aprendizagem. Uma coisa é certa: a nova era está deixando para trás a Era Industrial com seus produtos padronizados fabricados e distribuídos em massa.
2) Informação, Conhecimento, Criatividade, Inovação, Aprendizagem são coisas que têm que ver muito de perto com a Educação. Por isso, nossa era tem um raro consenso: o da importância da educação na vida das pessoas, na sociedade, na economia.
3) No entanto, ao mesmo tempo que valoriza a educação, a nossa era tem sido impiedosa em sua crítica à escola. Entre outras demandas, espera-se que ela mude – e não apenas em aspectos periféricos, num processo de mudança cosmética em que se mudam as aparências para manter a essência. Espera-se, ou talvez até se exija, que a escola se reinvente, que se transforme, de forma sistêmica, até mesmo em seus aspectos essenciais.
4) Isso é compreensível. A escola que temos é um produto da Era Industrial. É inevitável que, na passagem para a Sociedade Pós-Industrial, a escola se veja forçada a pensar sobre si mesma, a reconsiderar seus objetivos, sua estrutura, sua forma de trabalho, seus valores.
5) Mesmo os países que vêm se saindo melhor em avaliações internacionais (como PISA), entre os quais estão a Finlândia, a Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, estão conscientes de que chegaram, talvez, ao ponto mais avançado que a educação tradicional, da Era Industrial, poderia chegar. Mas sabem que, ao chegar lá, se deram conta de que o mundo havia mudado e os problemas, e, portanto, os desafios, eram outros. Que também eles precisam mudar.
6) E esses países sabem muito bem que, na hora em que se conclui que é preciso mudar, não há maior estupidez do que continuar a fazer as coisas sempre da mesma forma e esperar que os resultados, por passe de mágica, ou milagre, venham a ser diferentes.
7) Extremamente importante é o fato de que o aluno da escola hoje é muito diferente do aluno de 60 ou 70 anos atrás. Ele tem pouquíssima tolerância para com coisas que não o atraem, engajam e motivam. Ele quer saber qual é a utilidade daquilo que a escola pretende que ele aprenda. Se a resposta não o convence, ele apenas faz, na melhor das hipóteses, o mínimo indispensável para se safar das piores consequências de um trabalho insatisfatório.
8) Diante disso, no que a escola deve focar sua atenção e energia hoje? A escola tradicional via seu foco na preservação e transmissão, de uma geração para outra, dos saberes acumulados da humanidade. Esses saberes foram sistematicamente organizados em disciplinas acadêmicas. Hoje, no entanto, caminha-se para um consenso de que, mais importante do que assimilar esses saberes, o aluno precisa saber fazer alguma coisa com eles. Ou seja: mais do que o mero saber, é o saber-fazer que hoje importa e é valorizado. Por isso o desenvolvimento de competências ocupa hoje o centro da preocupação pedagógica.
9) Nós todos criticaríamos um professor que, em sua matéria, simplesmente repetisse em sala de aula aquilo que diz um livro (ou um conjunto de livros). Aquilo que está dito em livros os alunos podem (e devem) pesquisar (buscar) em vez de receber, passivamente, de um professor que “declama” o conteúdo de um livro (ou um conjunto de livros). No entanto, a maior parte das escolas tem feito exatamente isso: transmitir aos alunos aquilo que eles, hoje, podem achar facilmente em livros ou na Internet.
10) Se quisermos que a educação tenha resultados melhores, em termos de engajamento dos alunos em sua própria aprendizagem e melhor desempenho deles fora da escola (na vida pessoal, na participação na sociedade, na escolha e no exercício de uma profissão que os realize), temos de mudar aquilo que fazemos a título de educação, em especial na escola.
11) Para mudar, precisamos ter a coragem de verdadeiramente inovar. Para inovar precisamos buscar o novo. A inovação é o fruto da criatividade e da inteligência. Criatividade para gerar boas ideias novas. Inteligência para transformar essas ideias em produtos, serviços, instituições diferentes dos que temos hoje — e que nos permitem mudar o mundo, transformando-o em um lugar melhor.
12) Se realmente queremos uma nova educação, uma educação realmente inovadora, devemos começar de premissas drasticamente diferentes daquelas que nos trouxeram à posição em que nos encontramos hoje. Se começarmos a mudar a partir de visões muito próximas das que nos trouxeram até aqui, chegaremos a uma educação muito parecida com a que temos. Para que elas possam participar da criação — ou invenção — do futuro, a criatividade aliada à inteligência é a caracaterística mais importante que as crianças precisam desenvolver, o mais cedo possível.
Em São Paulo, 16 de Agosto de 2013
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