A hora é propícia

 Estes doze anos e meio de desgoverno petista vão servir, para nós, brasileiros, como um período de passagem.

Por muitos anos, desde antes do período da Ditadura Militar, a cultura predominante no Brasil vem se esquerdizando. Nos anos que antecederam ao Contra-Golpe de 1964, o golpe militar que evitou, um golpe de esquerda, comunista ou quase, essa tendência esquerdizante da cultura brasileira se revelou. Não ser de esquerda começou a ser considerado algo retrógrado, de que o não-esquerdista deveria se envergonhar. Depois vieram os vinte anos da ditadura, depois o golpe dentro do golpe, em 1968, a censura, o surgimento da resistência armada, a repressão violenta, as prisões, a tortura. A esquerda lutou contra a Ditadura Militar porque a ditadura que ela queria era outra, do Proletariado. Muita gente que não era de esquerda também lutou contra a Ditadura Militar porque ela pisoteou as liberdades democráticas e os direitos básicos do indivíduo, de pensar livremente, de dizer livremente o que pensa, de se organizar livremente, de se locomover livremente, de ir e de vir livremente, de buscar a sua felicidade como ele acha melhor. A esquerda, ao final da Ditadura Militar, quis nos fazer crer que fora ela, sozinha, que derrubara a ditadura. Não foi. Muita gente que detestava a esquerda — esquerda que queria uma Ditadura do Proletariado — e que a detestava exatamente porque detestava qualquer ditadura, e defendia a liberdade, contribuiu e muito para a queda da ditadura. Mas a esquerda quis nos fazer crer que ela era a única responsável pela redemocratização do país. Depois de duas tragédias não esquerdistas, Sarney e Collor, este foi removido do governo e o Itamar chamou o FHC, esquerdista light, esquerdista cor-de-rosa, para o Ministério da Fazendo. Com o Plano Real ele se elegeu, e essa esquerda light, cor-de-rosa, assumiu o governo com grande apoio da população. Ao longo dos oito anos social-democratas do PSDB, as esquerdas se aglutinaram ao PT e ganharam a eleição de 2002, depois a de 2006 (mesmo com a evidência chocante da roubalheira do Mensalão), depois a de 2010, com essa nulidade que está aí, e, finalmente, pela mentira e pela desfaçatez, a de 2014. Agora, com o Petrolão, a roubalheira generalizada, a crise econômica, a incompetência total na gestão do país, a esquerda tenta se desgrudar do PT.

A coisa ainda vai ficar pior antes de melhorar.

Mas para nós, que não somos esquerda, que nunca fomos PT, o período é propício.

O que esses doze e anos e meio de desgoverno e roubalheira do PT mostraram é a falência das ideias da esquerda, a falência do igualitarismo vindo de cima, do governo, pela força ou pela legislação, a falência das taxações progressivas, a falência das políticas sociais, a falência das políticas preferenciais, da cotas, das bolsas, dos dinheiros, dos serviços, dos bens dados de mão-beijada.

Esses doze anos e meio mostraram também, que a cultura brasileira, herdada em parte de Portugal, tem, além dos seus traços impostos, oriundos do esquerdismo internacional, um ranço oportunista, composto por gente que quer levar vontade em tudo, de gente que, para conseguir um contrato sucumbe à sugestão do ladrão encastelado no governo de que ele precisa pagar propina, porque é assim que as coisas funcionam, e sempre funcionaram, neste infeliz país, desde Pero Vaz de Caminha.

Nós, que não somos de esquerda, que nunca fomos do PT “da boquinha”, mas que nunca fomos também partidários da filosofia do Gerson, precisamos gestar as ideias que podem fazer do nosso um novo, limpo, honesto e grande país — um país que não nos envergonhe diante do mundo.

Termino citando o prefácio de um livro – um livro curioso que é uma biografia simultânea de quatro pessoas – de quatro grandes pessoas. Quatro pessoas que ajudaram os Estados Unidos, nos anos posteriores à Guerra Civil, a se refundar.

Está na hora de surgirem pessoas que se disponham, séria e honestamente, a inventar um conjunto de ideias que nos permita refundar o Brasil em novas bases — deixando para trás, definitivamente, como os EUA deixaram a escravatura, a nefasta combinação de ideias esquerdistas com as ideias dos aproveitadores.

Eis o trecho do prefácio do livro, escrito pelo próprio autor, antecedido de um breve comentário que fiz no Facebook a propósito do Dia do Escritor, celebrado hoje, 25 de Julho:

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Today is the Day of the Writer.

To celebrate those who live to write, and those who write to live, I share with you, as well as with those without whom there would be little sense in writing, the readers, a beautiful quote about ideas — the prime matter we use (even before words) to write:

“What the members of the Metaphysical Club [John Dewey, philosopher and educator; Oliver Well Holmes, Jr., future associate justice of the United States Supreme Court; William James, the father of modern American psychology; and Charles Sanders Peirce, logician, scientist, and the founder of semiotics] had in common was not a group of ideas but a single idea – and idea about ideas.

They all believed that ideas are not things ‘out there’ waiting to be discovered but tools people invent — like knives and forks and microchips — to make their way in the world. They thought that ideas are produced not by individuals, but by groups of individuals — that ideas are social. They do not develop according to some inner logic of their own but are entirely dependent — like germs — on their human carriers and environment.

And they believed that since ideas are provisional responses to particular and unreproducible circumstances, their survival depends not on their immutability but on their adaptability.

The belief that ideas should never become ideologies – either justifying the status quo or dictating some transcendent imperative for renouncing it – was the essence of what they taught.”

[From the preface (by the author himself) of the book “The Metaphysical Club: A Story of Ideas in America”, by Louis Menand. The Metaphysical Club was the winner of the 2002 Pulitzer Prize for History.]

 Em Salto, 25 de Julho de 2015

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