Poucas vezes uma palavra foi tão apta: estrepitosa. Sim, a vaia ao Lulla no Maracanã foi estrepitosa. O Michaelis Online define estrepitoso da seguinte forma: "1. Que produz estrépito. 2. Estrondoso. 3. Ruidoso. 4. Ostentoso, magnificente. 5. Que dá na vista, que é notório". Estrépito é, evidentemente, um estrondo ou ruído grande. A vaia foi tudo isso. Ostentosa. Magnificente. Dada na frente do mundo. Deu na vista. Foi só anteontem, mas já ficou notória – e, acredito, vai ficar na história.
Na verdade, não foi apenas uma vaia. Foram várias. Seis, segundo os chegados à precisão. Contra aos debilóides que dizem que foi orquestrada, a primeira foi menor, meio indecisa, mas claramente espontânea. O Galvão Bueno até ensaiou atribuir essa vaia a um suposto anúncio de que haveria um atraso no início da cerimônia… As demais foram ganhando adeptos, até chegar a última, a vaia olímpica, a vaia tamanho Maracanã – aquela que teve lugar quando se anunciou que o homem ia falar e que o calou… Vê-lo no telão do estádio já era demais. Ouvi-lo falar seria insuportável. Era evidente que ele não iria ater-se às palavras oficiais de abertura dos jogos, não iria resistir a um público internacional de milhões. Iria… Iria se… se não houvesse a vaia estrepitosa que o deixou em pé, de microfone à frente e discurso na mão, mudo, sem saber o que fazer, com um sorriso amarelo na cara… – vaia que só parou quando alguém fez as vezes do Presidente, declarando abertos os jogos e desejando boa sorte ao Brasil, permitindo-lhe sair do estádio às escondidas ("à socapa", dizem os dicionários), com a fisionomia carregada, com o rabo entre as pernas, sem falar com ninguém, acompanhado apenas de dona Marisa, verde-amarelada, quase irreconhecível por detrás das plásticas e dos botox.
Foi a glória. Emocionei-me naquele momento. Fiquei com a sensação de que nem tudo está perdido e de que ainda há esperança para o Brasil.
Depois fui ler os comentários na Internet. O primeiro e mais brilhante foi "Parabéns, Brasil!", do meu amigo Ney Mourão, jornalista e educador de Belo Horizonte, ex-consultor, colega meu, no Instituto Ayrton Senna. Não deixem de ver: a crônica está em seu blog: http://blog.neymourao.com.br/. Ele colocou seu comentário na lista LivreMente, que coordeno. Sua matéria produziu as respostas de sempre dos viúvos do comunismo, dos lullistas de carteirinha, dos lullistas de ocasião… A vaia foi orquestrada, disseram… A vaia foi de uns poucos ricos que puderam pagar até 250 reais por um ingresso no Maracanã. A vaia foi dirigida aos políticos em geral. No Maracanã se vaia tudo, até minuto de silêncio. Desculpas esfarrapadas. Em alguns casos, mentiras deslavadas. Não foi uma minoria que vaiou. Foi o Maracanã em peso. E se havia ricos lá, eram poucos. A resposta mais ridícula foi a de que a vaia havia sido orquestrada. Como? E, ainda que, por absurdo, houvesse sido, seria impossível orquestrar uma vaia de milhares sem que a "inteligência" do governo o descobrisse e advertisse o homem de que ficaria numa posição constrangedora…
Os cronistas e comentaristas políticos só hoje se manifestaram. Foi o primeiro risco no teflon de Lulla, disse Clóvis Rossi na Folha.
Espero que sim.
É possível enganar muitos por algum tempo, ou alguns por muito tempo — mas é difícil enganar todo mundo o tempo todo.
Em Salto, 15 de julho de 2007
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