Hoje, 13 de Outubro de 2007, faz nada menos do que quarenta anos que me casei pela primeira vez — na cidadezinha de Clinton, OH, nos Estados Unidos, com Maria Luiza de Oliveira, namorada que eu tinha em Campinas, antes de ir para Pittsburgh, PA, nos Estados Unidos, em Agosto de 1967. Ela também ganhou uma bolsa (da Igreja Menonita) e foi para os Estados Unidos (Akron, PA) na mesma época. Lá constatamos que ser "strangers in a strange land" não é fácil e decidimos surpreender as famílias nos casando quase de um dia para o outro.
O casamento durou sete anos — justos. Separamo-nos em 13 de Outubro de 1974 e eu imediatamente entrei em outro relacionamento, com Sueli Atibaia, minha atual mulher, que era assistente de pesquisa na Faculdade de Educação da UNICAMP (trabalhava no grupo de pesquisa da Orly Zucatto Mantovani de Assis), e que também estava casada até aquele momento. Alguns dias depois estávamos morando juntos: 18 de Outubro. Nosso primeiro lar foi um apartamento de três quartos na Rua 10 de Setembro, 93. O apartamento era o de número 7, no terceiro andar.
Os tempos eram outros em 1974. A Sueli foi dispensada do seu trabalho na Faculdade de Educação por causa de nossa decisão. O algoz foi Marconi Freire Montezuma, de não-saudosa memória, então diretor da Faculdade. Machista, como cearense de velha cepa e ex-padre, Montezuma me deixou ficar — mas chegou a me ameaçar, dizendo-me que se eu chiasse com a demissão da Sueli ele me poria na rua também. Não chiei. Tinha acabado de voltar ao Brasil depois de sete anos de ausência ininterrupta, os tempos eram ainda de ditadura, e, assim, eu não tinha muita certeza sobre o chão que pisava. A Orly, para quem a Sueli trabalhava, ameaçou protestar mas teve bom senso e também ficou calada.
Não havia divórcio naquela época. Fomos nos casar oficialmente apenas exatos cinco anos depois, em 18 de Outubro de 1979. Foram nossos padrinhos os nossos amigos Pedro Goergen e Márcia Brito, ambos da Faculdade de Educação. Daqui a cinco dias comemoraremos trinta e três anos de vinda conjunta. Continuamos amigos do Pedro e da Márcia, embora não nos vejamos muito.
Não tendo havido intervalo entre um casamento e outro, hoje comemoro quarenta anos de casado — cerca de dois terços da minha vida de 64 anos eu vivi casado. Apesar de lembrar com alegria de minha vida de solteiro (que foi muito boa: namorei bastante mas eram todos namoros bem comportados) e apesar dos percalços do primeiro casamento, não me arrependo de ter me casado. Quem casa de novo é sempre um otimista. O segundo casamento, já disseram, é a vitória da esperança sobre a experiência. (O terceiro, acrescentou um cínico, já é burrice mesmo…)
Tive uma filha do primeiro casamento, a Andrea, que nasceu e ainda vive nos Estados Unidos — sempre vai viver lá. E tenho uma filha do segundo, a Patrícia, minha caçula, hoje com quase trinta e dois anos. E herdei dois filhos, a Tatiana e o Rodrigo, do primeiro casamento da Sueli. Eram pequenos quando nos juntamos e são meus filhos tanto quanto as outras duas. A Tatiana e o Rodrigo são mais velhos do que a Andrea — mas curiosamente há espaços de quase exatos dois anos entre a data do nascimento dos quatro, embora eles sejam oriundos de três casamentos diferentes: Tatiana: Ago/69; Rodrigo: Jul/71; Andrea: Jun/73; Patrícia: Nov/75.
No todo esses quatro filhos já me deram sete netos: Gabriel (oito anos), Olivia (cinco anos), Guilherme (teria quatro anos), Gabriela (três anos), Marcelo (dois anos), Madeline (dois anos) e Felipe (um ano). O Guilherme, infelizmente, só viveu uma semana, de 9 a 16 de Setembro de 2003. Meus olhos ficam marejados sempre que penso nele. Quando ele nasceu eu estava em Amsterdam. Quando ele morreu eu já estava de volta.
O Gabriel (Biel) é da Tatiana (Tati) e do Alexandre (Ale), a Olivia (Liv) e a Madeline (Mad) são da Andrea e do Richard (Rick), o Guilherme (Gui) e o Marcelo (Tutu) são da Patrícia (Tiça) e do Rubens (antigamente conhecido como Poita…), e a Gabriela (Bibi) e o Felipe (Lipe) são do Rodrigo (Igo, ou Ro) e da Adriana (Dri).
É possível que apareçam ainda mais dois. Se aparecerem, provavelmente serão da Tatiana e da Patrícia. Mas surpresas sempre acontecem.
Todos me puxaram — até os que não têm laços de sangue comigo… 🙂 Mas mesmo quando eles não parecem ter me puxado, eu os adoro a todos. Não houvesse nenhuma outra vantagem (e houve muitas), só esses netos já teriam sido uma enorme recompensa para os quarenta anos de casamento.
Em Campinas, 13 de Outubro de 2007
Que texto legal, tiozão! Sempre soube de sua gratidão com a sua família através de minha mãe. Bonito ler o que escreveu. E você comentou sobre os netos: "Todos me puxaram — até os que não têm laços de sangue comigo… :-)" Ora, isso não é novidade, tio. Uma pessoa maravilhosa como você inspira qualquer pessoa de bem! 🙂 Abração!!! -Vitor.
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Concordo muito consigo. Um segundo casamento é mesmo uma vitória sobre os medo do futuro e uma prova de confiança em nós próprios e na pessoa que se elege para essa aventura. Parabéns amigo.
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muito legal sua historia de vida,ainda vou fazer 18 anos de casada e acho que ja e muito tempo, espero chega ate os 50,pois amo muito o meu marido.PS sua familia e linda de verdadebeijos da amiga roseni.
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