É fácil endossar certos princípios quando eles ficam num nível de generalidade ou abstração que deixa questões específicas ou de detalhe de lado.
Igualdade, por exemplo, implica o quê? Igualdade material ou substantiva, isto é, igualdade de condições (inclusive financeiras)? Ou igualdade formal, isto é, igualdade diante da lei, igualdade de direitos?
O liberalismo (ou, a direita, como preferem alguns) certamente considera a liberdade o bem maior — mas está convicto de que nenhum sistema funciona direito se há liberdade apenas para alguns. Por isso, o liberalismo defende igual liberdade para todos — e, portanto, defende a igualdade, num certo sentido do termo. Mas essa igualdade é formal: igualdade diante da lei, igualdade de direitos. Na verdade, o liberalismo acredita que não há liberdade sem igualdade nesse sentido.
A busca da igualdade material ou substantiva, que caracteriza a esquerda, é repudiada pelo liberalismo exatamente porque o liberalismo acredita que a busca dessa igualdade não pode se dar sem violar a igualdade formal, sem violar a igualdade de direitos.
Por exemplo: para melhorar o nível de renda dos pobres, o governo tem de tratar a população desigualmente (do ponto de vista formal), beneficiando uns às custas dos outros; para melhorar o nível social e econômico dos negros, o governo tem de tratar a população desigualmente (do ponto de vista formal), privilegiando uns em detrimento dos outros, como, por exemplo, no caso das cotas para acesso à universidade.
Assim sendo, o liberalismo repudia a busca da igualdade (material) exatamente porque ela não pode ser alcançada sem violar a igualdade (formal).
Em Cortland, 18 de Março de 2008
Muito boa reflexão, tio. Simples, direta, e muito profunda. Isso me lembrou quando eu fiz um trabalho sobre "Teologia da Libertação" na faculdade e critiquei certos aspectos da Teologia da Libertação inspirado em um de seus textos sobre igualdade e liberdade (no seu texto, de uns 2 anos atrás, acho, disponibilizado aqui no seu blog, você comenta que a consequência da liberdade é a desiguladade, e a consequencia da igualdade é a não liberdade — em aspectos sociais). O professor não deve ter gostado muito, pois me passou "raspando" da disciplina (era a última avaliação do curso! e acho que ele não seria doido de deixar um aluno exemplar de DP pro póximo ano, hehe). Eu critiquei isso: a Teologia da Libertação prega uma liberdade que nada mais é do que um comunismo mascarado, e que no fundo não tem nada de liberdade. A Direita, por incrivel que pareça, acredita na força do pobre, capacitando-o, mas a Esquerda não, pois é paternalista e fica doando coisas como se o pobre não fosse capaz, fazendo uma "manutenção" desta classe, sem mudança verdadeira. E, por trás disso, a Teologia da Libertação reenforça esta "massa de manobra" que o governo, em especial o PT, cria no nosso país… Abração!!! -Vitor.
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