O governo não gera ou produz riquezas. Todo o dinheiro de que dispõe é confiscado de nós, cidadãos, que pagamos tributos diversos: impostos (i.e., tributos não vinculados), taxas (i.e., tributos pagos em decorrência de uma prestação específica de serviços que afeta diretamente o usuário), e contribuições (tributos destinados a finalidades específicas determinadas por lei). Nenhum tostão vai para o caixa do governo (o Tesouro Nacional) sem que tenha passado antes pelo seu ou pelo meu bolso.
Isto sendo assim, seria de esperar que o governo tivesse um pouco de cerimônia em relação aos seus gastos. Afinal de contas, está gastando riquezas na criação ou geração das quais não teve absolutamente nenhuma participação, mas que simplesmente confiscou daqueles que a geraram ou produziram.
Deixo de lado, por um momento, os gastos do governo que beneficiam pessoas que são parte do governo, para me concentrar nos gastos que o governo faz em benefício próprio.
A temporada está aberta, neste ano eleitoral, para a concessão de aumentos para funcionários públicos. Este é um gasto do governo para consigo mesmo. O governo, e em especial os funcionários beneficiados, em geral pretendem que funcionários mais bem pagos prestam melhores serviços. Mentira. Os funcionários públicos recebem aumentos e continuam a funcionar (por isso são chamados de funcionários) como donos do mundo, sem nenhum sentido de responsabilidade para com os cidadãos. Ponha-se um imbecil qualquer atrás de um guichê de uma repartição pública e ele se acha um ser superior, investido de poderes, e no direito de espezinhar os que necessitam de sua atenção e de seus serviços. Adora fazê-lo esperar na fila, por exemplo, enquanto fofoca com os colegas de guichê, ou enquanto, como se fosse rei, se levanta e vai mijar no banheiro.
Mas há mais e mais sérios gastos do nosso confiscado dinheiro que é feito em benefício do próprio governo, vale dizer, dos ocupantes de cargos no governo. Por que o Lulla precisa de lençóis de linho ou setim, ou de toalhas de banho e roupão do mais caro algodão egípcio? Se o dinheiro gasto para comprar essas coisas fosse o dele, alguém acredita que ele o gastaria nesses luxos? Mesmo com todo o dinheiro que ele já amealhou depois que chegou à presidência, ou que repassou para o Lullinha, alguém acha que ele iria gastar essa grana toda em algodão egípcio?
O segredo todo em torno dos Cartões de Crédito Corporativos é apenas a ponta do iceberg dessa gastança toda. A imprensa acaba focando besteirinhas, como oito reais gastos num lanche barato na praia. O que é de admirar, nesse caso, é a pobreza de espírito de um ministro que paga oito reais com cartão!!! O buraco é bem mais em cima! Há gastos muito maiores, com coisas muitíssimo mais luxuosas do que uma tapioca. Por isso o governo trata os gastos como se fossem segredo de estado. Não são. Mas são explosivos, porque na hora que o povão descobrir que King Lulla está gastando dinheiro público com as coisas em que gasta, Deus sabe o que vai acontecer, tenha ou não o presidente o tão falado carisma.
E olhem que nem cheguei a falar da roubalheira…
É de esperar que quem não tem a menor cerimônia em gastar o dinheiro dos outros em proveito próprio não vá ter muita cerimônia quando se trata de gastar esse dinheiro em benefício de outrem. O governo dá aumentos para o Bolsa Família e para as demais bolsas com absoluta desfaçatez. Como se isso não bastasse, dá subsídios a torto e a direito para diversos grupos de interesse. E, por fim, resolve ajudar países da América Latina ou mesmo da África, como se nós fôssemos um país rico — e, mais significativamente, como se o dinheiro não saísse do seu e do meu bolso.
Comecei a refletir sobre filosofia política como um liberal. À medida que vejo o que acontece no Brasil, vou mais e mais me encaminhando para um libertarianismo quase anárquico.
Em São Paulo, 8 de Junho de 2008.