Ontem falei sobre o assunto na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Sempre fui cético da idéia da União Européia. Minha tese é de que, com a globalização e a disponibilidade maciça das tecnologias de informação e comunicação, que permite a criação de redes virtuais globais, a coisa sensata a fazer é diminuir o tamanho das grandes unidades políticas, como o Brasil, os Estados Unidos, a Rússia, a China, a Índia – criando unidades políticas locais pequenas que se integram, sempre que necessário, em redes ad hoc ou mais ou menos permanentes.
Meu exemplo é a Suíça. Um país minúsculo, que, entretanto, na realidade é uma confederação (Confederatio Helvetica) de 26 cantões. Um dos menores cantões, o de Genebra, que se intitula orgulhosamente “Republique de Genève”, é dividido em 45 municipalidades – que são as unidades políticas que realmente importam. Das 45 municipalidades (“villes”) da Republique de Genève, apenas dez têm mais de 10 mil habitantes – a cidade de Genebra sendo a maior, com cerca de 188 mil habitantes.
O Brasil, os Estados Undos, etc., vão na direção oposta. Mas eles existem na forma atual há muito tempo. A excrescência é a União Européia, que se formou na ânsia de competir com os Estados Unidos e o Japão, e uniu politicamente 27 países que perderam autonomia – e que deveria estar se dividindo em unidades políticas menores. Uniu vários desses países também monetariamente, no Euro (que não é usado nos países do Leste Europeu nem na Inglaterra – sábia Inglaterra!).
A Inglaterra demonstrou sabedoria não abrindo mão da Libra Esterlina. Mas mais sábia foi a Suíça, que se recusou a entrar na União Européia e que também manteve, naturalmente, o seu Franc Suisse.
O Brasil, em vez de proibir na Constituição medidas que alterem a composição da União, deveria estar se desdobrando. A cidade de Genebra, embora tenha apenas 188 mil habitantes, não é fácil de administrar – com seus 37,5% de estrangeiros na composição da população. O Brasíl é impossível de administrar, com seus 188 milhões de habitantes, mil vezes mais. Mesmo a cidade de São Paulo, com seus 11 milhões de habitantes, é inadministrável.
Small, in this case, is beautiful.
A seguir o Editorial da Folha de S. Paulo de hoje. Ele sublinha as dificuldades da União Européia.
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Folha de S. Paulo
20 de Maio de 2010
Editoriais
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Projeto Europeu
Europa terá de fazer reformas e aprofundar projeto de união para restaurar confiança e ganhar competitividade
NO DIA 13 de maio, na cidade de Aachen, na Alemanha, teve lugar a 60ª cerimônia de entrega do prêmio Charlemagne (Carlos Magno). A honraria é conferida anualmente a personalidades que prestaram serviços à integração europeia. O prêmio é assim designado em homenagem ao rei medieval que personifica o mito fundador da Europa moderna.
Na ocasião, a chanceler alemã, Angela Merkel, fez um discurso contundente sobre o significado da União Europeia. Para ela, a Europa vai superar a crise da moeda comum. "O euro", disse a chanceler, "é mais que uma moeda. O euro é o passo mais largo na trajetória de integração europeia". E, a seguir, indagou: "Por que salvar a Grécia e o euro? Por que gastar dias e noites em busca de um objetivo comum?".
A resposta é que o fracasso do euro não representaria apenas um fracasso monetário. "Seria o fracasso da ideia de unificação." Merkel pediu cooperação e afirmou que a Europa nasce da diversidade e da tolerância, princípios que nortearam o continente desde os primeiros passos da integração, nos anos 1950.
São palavras encorajadoras, mas que precisam ser seguidas por ações. Está claro que o agravamento da crise fiscal demanda mudanças e escolhas políticas espinhosas. O ceticismo atual dos mercados em relação à Europa decorre essencialmente da percepção de que será muito difícil sustentar os ajustes necessários nos próximos anos.
Teme-se, de um lado, uma reação na Alemanha, cuja população poderia não tolerar os custos para manter a moeda única, que tem no país seu mais sólido pilar. De outro, nas economias que hoje são alvo de especulação, como Grécia, Portugal e Espanha, parece demasiado ingrata a tarefa de recuperar a competitividade com medidas que representarão desemprego e perdas salariais.
Já que voltar atrás na moeda comum equivaleria a instaurar o caos, o caminho a ser trilhado é aprofundar a integração. Fazê-lo implica mais federalismo fiscal, mais regras restritivas e menos soberania nacional. Estará a Europa preparada para isso?
Não é demais lembrar que a União Europeia, em seu início, parecia um projeto quase impossível de se concretizar. Sua construção decorreu de alegadas razões políticas e uma subjacente motivação econômica. E a integração sempre se deu em meio a tensões entre federalismo e aspirações de autonomia nacional.
A própria ideia de moeda única ganhou força no terreno da política. Temia-se que o processo de unificação pudesse acabar afastando os alemães da Europa. Por isso, a França quis estabelecer uma data para a adoção do euro.
Tantos percalços vencidos ao longo da história sugerem que a Europa encontrará os meios de restaurar a confiança. Mas terá de abandonar modelos tradicionais e ineficazes para se ajustar às demandas de um futuro mais dinâmico e competitivo.
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Em São Paulo, 20 de Maio de 2010
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