Interessante o artigo de João Pereira Coutinho na Folha de hoje (28/12/10 – já 29/12 em Lisboa) — http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2812201021.htm. Transcrevo trechos abaixo.
Faz-me lembrar de uma frase genial de Thomas Sowell, que é um dos motes deste blog:
“Parecemos estar nos movendo na direção de uma sociedade em que ninguém é responsável por aquilo que faz ou fez e todos somos responsáveis por aquilo que os outros fazem ou fizeram”.
O governo e as leis nos tratam, a nós adultos, como menores incapazes. Se ganhamos pouco, o governo suplementa nossa renda com uma bolsa – ou várias. Se ficamos desempregados, temos seguro desemprego – mesmo sem tê-lo contratado. Se nos queimamos com o café do McDonald’s, o governo decreta que temos direito a uma indenização por ter o McDonald’s feito aquilo que devia fazer, a saber, servido café quente, e não frio. Se pegamos câncer do pulmão porque fumamos a vida inteira, o culpado é o fabricante de cigarros, não nós, em nossa decisão de fumar.
Enfim, diante desse quadro, é surpresa que nos tornemos cada vez mais crianças – quem sabe na esperança de, assim, herdar não só o Reino dos Céus, mas também o da Terra?
Eis o que diz (em parte) o artigo de Coutinho:
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Campanhas nos dizem o que devemos ser, pensar, comer, dizer, como nos devemos comportar. . . .
A triste verdade é que estamos mais infantis do que nunca. O jornalista britânico Michael Bywater, em livro sobre a matéria (“Big Babies, Or: Why Can’t We Just Grow Up?”, grandes bebês, ou por que não podemos simplesmente ficar adultos), já tinha alertado para o fato: a todas as horas, em todos os lugares, são infindas as campanhas que tratam o parceiro como criança.
Campanhas que nos dizem o que devemos ser, pensar, comer, dizer, como nos devemos comportar, vestir e até se despir, ou não fosse o sexo o prato principal das sociedades adolescentes em que vivemos.
Essa infantilização absoluta dos cidadãos não é apenas praticada por autoridades democraticamente eleitas, que aconselham roupa quente quando faz frio ou guarda-chuva quando cai chuva.
Encontra-se na quantidade obscena de publicações que determinam ‘estilos’ e ‘tendências’ como se um ser adulto precisasse de ter um ‘estilo’ e cultivar uma ‘tendência’. Escreve Bywater, em frase primorosa: ‘O meu pai não tinha estilo de vida. Ele tinha uma vida.’ Curioso. O meu também. E o seu, leitor?
No Ocidente balofo e pós-ideológico, ninguém tem uma vida para viver em paz. Porque só é possível ser adulto quando somos deixados em paz: nós, confrontados com as nossas escolhas e responsabilidades, sem uma mão paternalista a guiar as nossas existências.
O circo em volta impede essa autonomia ao prolongar perpetuamente a infância. Quando somos tratados como crianças, dificilmente deixaremos de ser crianças.”
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Em Lisboa, 28 de Dezembro de 2010
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