Mirian Gondenberg (miriangoldenberg@uol.com.br) escreveu dois artigos interessantes na Folha recentemente (o segundo, hoje, 14 de Dezembro). Transcrevo-os abaixo.
Mas antes, a minha opinião.
Minha mulher e eu vivemos a situação parcialmente descrita por ela: vivemos juntos há dois anos e meio quase. Há, portanto, co-habitação. O divórcio dela já saiu mas o meu se enrosca em questões patrimoniais. Sempre a chamei, entretanto, desde o início, de “minha mulher”, e ela, a mim, de “meu marido”. É isso que somos um para o outro, afinal!
Quatro considerações:
1) O uso linguístico de chamar a esposa de mulher e o esposo de marido é antigo e consagrado. Os ritos matrimoniais consagram o casal como “marido e mulher”. Mulher, assim, tem como contrapartida não só homem – se se foca o sexo – mas também marido – se se foca o estado civil. A contrapartida de “mulher” não precisa, portanto, ser “homem”, se se foca o estado civil.
2) Hoje em dia não faz mais sentido reservar o termo “marido” (ou mulher) apenas para aquele(a) com quem se está casado de papel passado. Marido (ou mulher) é aquele(a) com quem se vive conjugalmente.
3) Sempre preferi as expressões “minha mulher” e “meu marido” às expressões (que me parecem demodées e desnecessariamente pomposas!) “minha esposa” e “meu esposo”.
4) Mas não tenho nada contra a tentativa de resgatar a expressão “meu homem” para se referir ao marido. Pelo contrário.
Mas gostei muito dos artigos da Mirian.
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OUTRAS IDEIAS
Meu homem
MIRIAN GOLDENBERG
Sugestões recebidas: parceiro, companheiro, rolo, querido, ficante, namorido, marinado, sei lá, tanto faz
NA ÚLTIMA coluna escrevi sobre um problema que afeta muitas brasileiras: como apresentar o homem com quem elas vivem novas formas de conjugalidade? Como defini-lo, se não há vínculos legais, co-habitação, filhos?
Recebi sugestões engraçadas, criativas e inteligentes. Exemplos: marido, esposo, cônjuge, namorado, noivo, namorido, ficante, rolo, marido oficial, marido social, marido informal, parceiro, companheiro, “significant other”, consorte, com-sorte, querido, amado, amante, afeto, amigo, amigo predileto, amor da minha vida, UE (união estável), gato, caso, colega de viagem, macho, dono do meu coração, vizinho de cama, amizade colorida, compromisso enrolado, compromisso sério, o cara, sei lá, tanto faz.
Uma das mais “votadas” foi: “Este é o meu amor”.
A Sandra escreveu: “Achei muito divertido o seu texto, porque é uma situação muito atual, talvez pela falta de necessidade de se ter um relacionamento que resulte em certa dependência. As mulheres têm ficado financeiramente independentes e isso se reflete no setor afetivo”.
E essa leitora continua: “Ainda é difícil classificar de forma que todo mundo entenda esse novo tipo de relacionamento. Só sei que o meu já dura cinco anos. Me lembro como o apresentei para minha mãe: -Mãe, esse é o Jorge. Ela perguntou se era meu namorado, e eu: -Não, mãe, é o meu amor!. E ainda o apresento assim”.
Entretanto, a sugestão campeã absoluta foi: “Este é o meu homem”.
A Angélica disse: “Mirian, eu adorei seu texto. Também tenho essa dificuldade de apresentação. Para ele, meu amor, eu digo que ele é meu homem! Eu fico entre essas duas definições: esse é meu homem, esse é meu amor.
Mas, dependendo das circunstâncias, eu vou mudando: esse é meu gato, meu amado, meu namorado. Mas, lá no fundinho, eu continuo querendo uma única coisa: que ele continue sendo meu homem, meu amor, minha paixão”.
Por fim, fica a proposta da Lélia, que fez uma enquete com dezenas de amigos: “Sabe Mirian, eu acho que deveríamos ter a coragem de dizer “este é o meu homem”. Vamos derrubar o preconceito. Vamos enterrar a ideia de achar que falar “meu homem” é vulgar. Se homem pode dizer “esta é a minha mulher”, nós também podemos dizer “este é o meu homem”. Ponha em prática a ideia. Seja a precursora. Vamos pôr fim a esse tabu. Lance a campanha!”.
Então, queridos leitores e leitoras, vamos aceitar o desafio da Lélia?
[MIRIAN GOLDENBERG, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de “Intimidade”(Record)]
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OUTRAS IDEIAS
MIRIAM GOLDENBERG
Nem marido, nem namorado
Apesar de tantas mudanças, ainda faltam bons nomes para definir os novos formatos de relacionamento amoroso
MUITAS mulheres dizem que não sabem como definir o homem com quem estão tendo uma relação afetiva e sexual.
Algumas moram junto, mas não são casadas legalmente. Outras moram sozinhas, mas têm um compromisso estável. Outras ainda moram no mesmo apartamento, mas cada um tem seu quarto, banheiro, computador, telefone, televisão etc.
Elas dizem que não gostam de chamá-los de “marido”, porque indicaria um nível de compromisso que não assumiram. Acham a palavra “namorado” pior ainda, consideram esquisito dizer que estão namorando depois de certa idade. “Namorido” (mistura de namorado e marido) dizem, é ridículo, apesar de o termo estar na moda em alguns meios.
Uma psicóloga de 47 anos diz: “Estou com uma pessoa há mais de dez anos. Eu acho estranho dizer que é meu “marido”, porque não moramos juntos. “Namorado” é coisa para adolescente. “Companheiro” parece que sou do Partido Comunista. “Parceiro” parece que ele é meu sócio num negócio. Ele diz para todo mundo: esta é a minha mulher. Adoraria fazer como ele e dizer, apenas, ‘este é o meu homem'”.
Apesar de décadas de mudanças nas relações de gênero, nas famílias e nos casamentos, não foi inventado um bom nome para definir os homens e as mulheres que vivem novas conjugalidades.
O fato de não existir um nome indica que essas relações não são plenamente reconhecidas socialmente. Daí a necessidade de homens e mulheres usarem velhas definições, talvez como forma de tornar os novos arranjos conjugais mais legítimos, reconhecidos ou seguros.
Trata-se de um problema de classificação. Não conseguimos nomear adequadamente novas formas de compromisso amoroso sem recorrer a categorias anacrônicas, que estão muito longe de serem adequadas.
Uma antropóloga de 50 anos diz que o Facebook está mais antenado com os relacionamentos atuais. “Lá tem como opções: solteira, em um relacionamento sério, em um noivado, casada, em um relacionamento enrolado, amizade colorida, viúva, separada, divorciada. Eu me classifico como tendo um relacionamento sério. Mas na vida real como posso apresentá-lo aos meus amigos? Este é fulano, o meu relacionamento sério?”
Caros leitores e leitoras, alguma sugestão? Enviem suas ideias para o meu e-mail e, quem sabe, conseguimos descobrir uma definição mais satisfatória para as novas formas de conjugalidade.
Mas, por favor, nada de namorido!
[MIRIAN GOLDENBERG, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de “Intimidade” (Record)]
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Em São Paulo, 14 de Dezembro de 2010
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