Machado de Assis tem, em um de seus contos, uma frase que me parece extremamente perspicaz:
"A pobre mãe, viúva da pior viuvez desta vida, que é aquela que anula o casamento, conservando o cônjuge, só vivia para sua filha".
(Machado de Assis, Obra Completa, vol. II, p.758)
Em outras palavras: a pior viuvez desta vida é aquela em que morre o amor, mas o cônjuge é preservado.
Ainda em outras palavras: feliz é aquele cujo cônjuge morre antes que morra o amor… (essa é, por contraste, a boa viuvez – ou, pelo menos, a não pior).
As estatísticas oficiais refletem apenas a viuvez menos pior.
Quais seriam as estatísticas da pior viuvez? Da viuvez com o cônjuge preservado? Da viuvez dentro de um casamento que se mantém, não por amor, mas por inércia, por hábito, por conveniência, por interesse financeiro, por amor à aparência, por medo de mudança, por receio de que os filhos sofram, porque a igreja diz que o casamento é indissolúvel?
Em Bauru, 19 de Setembro de 2009
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