Hoje, 19 de agosto de 2007, faz quarenta anos que fui para os Estados Unidos pela primeira vez. Fui estudar — e fui para Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, cidade que até hoje considero como minha “cidade natal” nos Estados Unidos. (Torço até hoje pelos times de beisebol e futebol americano da cidade, os Pirates e os Steelers — este nome dado em honra ao fato de que Pittsburgh foi a “Capital do Aço” nos Estados Unidos, tendo sido a cidade nos arredores da qual Andrew Carneggie construiu seu império industrial de ferro e aço e viveu parte de sua vida no final do século XIX e início do século XX. Concluí recentemente a leitura de uma magnífica biografia dele, que foi o homem mais rico do mundo na passagem do século XIX para o século XX — como Bill Gates foi um século depois — e acabou doando quase toda sua mega-fortuna — como Bill Gates também promete fazer.)
Há cerca de um ano (no dia 8 de Setembro de 2006) escrevi um artigo aqui neste blog com o título: “Quarenta Anos Depois do Caos: 1966-2006”. O artigo foi dividido em três partes, porque era muito grande. Eis o URL delas:
http://ec.spaces.live.com/blog/cns!511A711AD3EE09AA!1393.entry
http://ec.spaces.live.com/Blog/cns!511A711AD3EE09AA!1394.entry
http://ec.spaces.live.com/blog/cns!511A711AD3EE09AA!1395.entry
O artigo está também em meu site autobiográfico, sem a divisão em três partes:
http://www.autobio.info/textos/1966-1966.htm.
Aqui continuo, de certa maneira, o que comecei lá.
Quarenta anos atrás o ano era 1967. Vivíamos numa Ditadura, mas ela não havia revelado ainda sua face mais feia.(Quando essa face mais feia apareceu, em 1968, eu já estava nos Estados Unidos.)
No Terceiro Festival de Música Popular Brasileira, realizado no ano em que saí do Brasil, 1967, no Teatro Paramount, sob os auspícios da então todo-poderosa TV Record, as seguintes músicas foram premiadas (algumas delas bastante tocadas ate hoje):
1º lugar: “Ponteio” (Edu Lobo e Capinam), com Edu Lobo, Marília Medalha e Quarteto Novo
2º lugar: “Domingo no parque” (Gilberto Gil), com Gilberto Gil e Os Mutantes
3º lugar: “Roda-viva” (Chico Buarque), com Chico Buarque e MPB-4
4º lugar: “Alegria, alegria” (Caetano Veloso), com Caetano Veloso e Beat Boys
5º lugar: “Maria, carnaval e cinzas” (Luís Carlos Paraná), com Roberto Carlos e O Grupo
6º lugar: “Gabriela” (Maranhão), com o MPB-4.
Outras premiações:
Melhor letra: Sidney Miller (“A estrada e o violeiro”)
Melhor intérprete: Elis Regina (“O cantador”)
Melhor arranjo: Rogério Duprat (“Domingo no parque”)
[Dados retirados do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, disponível no site http://www.dicionariompb.com.br]
(Por coincidência, no Dia dos Pais deste ano, há uma semana, ganhei um DVD lindo com o MPB-4, chamado MPB-40, em que cantam, agora, com a participação especial do Chico Buarque e, em outra faixa, do Quarteto em Cy. Lindo, lindo.)
Mas, voltando ao que importa, e como relatei em parte na matéria que acabei de referenciar, o Golpe de 31 de Março de 1964 veio a desencadear pequenos golpes dentro de várias instituições brasileiras. Na Igreja Presbiteriana do Brasil, da qual eu então fazia parte (era aluno do Seminário Presbiteriano de Campinas), o golpe veio em Julho de 1966, na Reunião do Supremo Concílio em Fortaleza. Naquela reunião tomou o poder Boanerges Ribeiro, reverendo, que o Diabo o tenha, colega de turma de meu pai no mesmo seminário (formado em 1941). E não demorou nem um pouco para ele baixar o sarrafo naqueles que ele chamava de “modernistas” dentro da igreja (entre os quais ele me incluía).
No Seminário o sarrafo veio na forma de uma Comissão de Seminários, que começou a agir naquele mesmo mês de Julho, capitaneada (devo dizer coronelizada?) pelo Coronel Renato Guimarães, cupincha do Boanerges e presbítero da Igreja Presbiteriana da Vila Mariana (se bem me lembro). Com exceção dos Nefastos Quinze a que fiz referência no outro artigo, ninguém atendeu a convocação da Comissão — e fomos todos (menos os Quinze) defenestrados.
Fora do Seminário, fui procurar trabalho — e o encontrei na Bosch, lá mesmo em Campinas (na verdade, quase na Boa Vista, bairro de Campinas em que minha mãe nasceu nos idos de 1924). Trabalhei ali durante cerca de oito meses, no Departamento de Controle Econômico da Fábrica (Werkswirtschaftskontrol — ou WWK). Minha área era de custo. Já havia trabalhado antes na Seção de Custo da Swift, em Utinga, em Santo André.
Enquanto trabalhava na Bosch procurei tramar meus pauzinhos para continuar estudando Teologia — algo em que estava ainda bastante interessado. A idéia era ir para a Faculdade de Teologia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, em São Leopoldo, de longe o Seminário mais sério existente no Brasil naquela época (e, talvez, até hoje). Em resposta à minha consulta, informaram-me de que o fato de ter sido defenestrado do Seminário de Campinas não era desabonador — pelo contrário. Mas eu não teria bolsa: teria de pagar meus próprios estudos — e teria de entender e falar Alemão, pois a maioria das aulas era em Alemão (visto que os professores vinham da Alemanha para permanências de dois ou quatro anos).
Como estava estudando Alemão à noite, intensivamente, no Goethe Institut de Campinas, sob o notável Prof. Ernst Manuel Zink, e ainda estudava na Bosch, com o mesmo Prof. Zink, durante o dia (a Bosch dava três horas livres por semana para os funcionários que o desejassem aprendessem Alemão em cursos gratuitos oferecidos dentro da própria empresa), a língua não seria problema… Mas o dinheiro, sim!!!
Juntei todo o dinheiro que pude e, felizmente, consegui apoio financeiro da Igreja Presbiteriana do Jardim das Oliveiras, na Alameda Jaú, em São Paulo, na qual era pastor o Rev. José Borges dos Santos Júnior, da oposição ao Boanerges, para a qual havia me transferido.
Em Fevereiro de 1967 pedi demissão da Bosch, juntei o dinheiro que havia poupado (quase tudo, pois havia passado a morar com meus tios, Alice e Anello Sanvido, na cidade), e me mandei para São Leopoldo. Lá fiquei durante um semestre — e aprendi muito.
Enquanto estudava lá, recebi uma carta do Prof. Gordon Eugene Jackson, Academic Dean do Pittsburgh Theological Seminary, de Pittsburgh — instituição fundada no século XVIII em Xenia, Ohio, e, depois, transplantada para Pittsburgh. Ele me oferecia uma bolsa para fazer concluir o Bacharelado em Teologia em Pittsburgh.
Dois problemas: primeiro, o Bacharelado em Teologia nos Estados Unidos é, como o curso de Direito e o de Medicina, um curso que exige, como pré-requisito, um diploma de curso superior (B.A. ou B.S.). Eu não havia concluído a Graduação no Brasil, embora já estivesse fazendo o Ensino Superior (teológico) durante quatro anos; segundo, em sua oferta não estava incluída a passagem para os Estados Unidos (de custo extremamente elevado naquela época).
O primeiro problema foi resolvido pelo próprio Prof. Jackson. ele pediu toda a minha documentação escolar e, com base nela, convenceu o Conselho Estadual da Educação do Estado da Pensilvânia de que eu tinha escolaridade suficiente para fazer o curso de Teologia no Seminário. Era um curso de três anos, e eu o fiz inteiro, de 1967 a 1970. Devo ao Prof. Jackson o empenho que foi muito além da “chamada do dever” (“the call of duty”). O empenho se deveu, em parte, ao fato de que ele me conhecia bem, pessoal e academicamente. Ele havia passado o primeiro semestre de 1966 no Brasil e eu havia sido seu fiel acompanhante e intérprete — já falava bem o Inglês então. (Depois que me formei em Pittsburgh, Dr. Jackson e sua mulher Phylisee se tornaram grandes amigos pessoais. Encontrei-os nos anos 90 na Florida, onde estava aposentado, depois de ter se recuperado de um câncer na garganta. Desde então, infelizmente, perdi contato.)
O segundo problema, a passagem aérea para os Estados Unidos, foi resolvido pelo Rev. Aharon Sapsezian, então Diretor Executivo da ASTE – Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos, em São Paulo. Ele me arrumou uma bolsa de viagem junto ao NCCCUSA – National Council of the Churches of Christ in the United States of America. Devo a ele essa ajuda. (Desde então o Aharon e sua mulher Zabel se tornaram meus diletos amigos, por quem tenho a maior afeição — eles moram em Genebra desde os anos setenta ou oitenta, tendo ele trabalhado no WCC – World Council of Churches [ou COE – Conseil Oecuménique des Églises, como ele é chamado na francófona Genebra] e ela na LWF – Lutheran World Federation.)
Resolvidos os problemas, obtido o visto de entrada nos Estados Unidos, minha viagem foi agendada para o dia 19 de Agosto de 1967.
No dia marcado, fui de Santo André para Campinas, de trem, pois o vôo da PanAm para New York saía de Viracopos (parando no Galeão). Minha mãe e meus irmãos me acompanharam até lá — meu pai, com quem eu estava de relações cortadas por causa dos problemas no Seminário de Campinas descritos nos artigos referenciados atrás, nem se despediu de mim.
Lembro-me perfeitamente bem da viagem, da parada no Galeão (ainda Base Aërea), da chegada em New York (Aeroporto JFK, enorme), da busca pela bagagem, da localização (em outro terminal) do vôo para Pittsburgh, da chegada na cidade onde eu viveria por mais de cinco anos.
Em Pittsburgh fui recebido por Mr. William Eichleay, sua mulher e sua filha, que, através do PCIV – Pittsburgh Council for International Visitors, haviam se oferecido para me hospedar durante uma semana, antes do início das aulas, a fim de que eu pudesse me “aclimatar” na cidade e ficar conhecendo seus principais pontos de interesse. Eles me apanharam no aeroporto e me levaram imediatamente para almoçar. Comi meu primeiro “sirloin steak” e tomei meus dois primeiros “martinis on the rocks” (três porções de gin para uma de vermouth branco seco, com gelo e uma azeitona). Achei tanto o steak como o martini deliciosos. Do restaurante fomos para a casa deles, onde pude descansar da viagem — e da excitação de estar pela primeira vez nos Estados Unidos.
Nos dias seguintes os Eichleays me mostraram a cidade, me levaram para comer hamburgers e outras guloseimas americanas, e, uma semana depois, me depositaram no dormitório do Seminário.
Ali começou minha vida de estudante estrangeiro — e um dos períodos mais desafiadores de minha vida. Na terça-feira depois do Labor Day (primeira segunda-feira de Setembro) as aulas começaram. Cerca de um mês depois, me casei (com minha namorada campineira, Maria Luiza, que havia ido para os Estados Unidos também na mesma época, através de uma bolsa da WMF – World Mennonite Federation).
No curso de Teologia do Seminário de Pittsburgh tive o privilégio de estudar sob Dietrich Ritschl, Markus Barth, e Hans Eberhard von Waldow (este havia sido professor de Velho Testamento em São Leopoldo, aqui no Brasil), todos suiços ou alemães. Naquela época a teologia séria era feita na Suiça e da Alemanha: Karl Barth e Emil Brunner, na Suiça, Rudolf Bultmann na Alemanha. Ao longo e ao final do curso ganhei quase todos os prêmios e honrarias que a instituição tinha a oferecer: Grego, História da Teologia, Teologia Sistemática. E ganhei também uma bolsa completa para fazer o Doutorado na University of Pittsburgh, concedida anualmente ao aluno com a melhor média em todos os departamentos do currículo do Seminário.
(Devo ressaltar que, sendo o Bacharelado em Teologia um curso que exigia, como pré-requisito, um curso superior, o diploma de Bacharel em Teologia que recebi em 1970 foi, subseqüentemente, substituído por um diploma de Mestre em Teologia, por decisão da instituição, devidamente referendada pelas autoridades educacionais do Estado da Pensilvânia.)
No Doutorado, cujas seminários eram realizados na incomparável Catedral da Aprendizagem (Cathedral of Learning), prédio majestoso de trinta e sete andares que serve como edifícil principal da universidade, tive o privilégio de estudar sob Wilfrid Sellars, Nicholas Rescher, Kurt Baier, Richard Gale e William W. Bartley, III (o discípulo amado de Karl Popper) que acabou sendo meu orientador. Bartley acabou me ajudando a arrumar emprego na California, onde passei dois anos e se tornou meu grande amigo até sua morte prematura em 1992.
Nos anos passados em Pittsburgh cheguei à conclusão de que não cria mais em nada que era essencial para a religião cristã e, assim, abandonei meu propósito original de ser pastor. (Muitos colegas meus deixaram de crer mas continuaram a ser pastores). Durante os anos em que trabalhei no meu Ph.D. na Pitt, concluí que a filosofia seria a minha área de atuação. Tenho sido fiel a ela desde então, apesar de incursões (depois de já de volta no Brasil) nas áreas da educação, da informática e da administração de sistemas de informação.
Em Junho de 1974, já com uma filha, a Andrea, voltei para o Brasil, para assumir um cargo na UNICAMP, para o qual havia me habilitado, com a ajuda inestivável de meu primo Anello Sanvido Filho, na época aluno de Química na universidade, e que ficou sabendo que a UNICAMP precisava de um professor de filosofia com Doutorado completo.
Dentro de seis meses de minha chegada ao Brasil me separei de minha primeira mulher (que voltou aos Estados Unidos com minha filha) e me casei (maneira de dizer – não havia divórcio ainda naquela época) com minha atual mulher, a Sueli. Faremos trinta e três anos de vida em comum daqui a dois meses, em Outubro. A Sueli veio com dois filhos, a Tatiana, enão com 5 anos, e o Rodrigo, então com 3, que se juntaram à Andrea, filha que havia tido com a Maria Luiza em 1973, e que estava, portanto, com um ano. Treze meses depois de estarmos juntos a Sueli e eu tivemos a Patrícia, completando o “time” de nossos quatro filhos, que acabaram bastante bem ordenados (de dois em dois anos) pelo ano de nascimento: 1969, 1971, 1973 e 1975. (Em um pouco mais de dois anos e meio, de Junho de 1973 a Novembro de 1975, o número de meus filhos quadruplicou: passou de um para quatro!)
Hoje faz quarenta anos que todo esse processo começou.
Quando voltei dos Estados Unidos, em Junho de 1974, sete anos depois, a Ditadura estava mais branda. O General Ernesto Geisel acabava de assumir como Presidente da República — e ele era membro da igreja cujo seminário me deu acolhida em São Leopoldo. Esse fato, em si, já me deixou mais confiante para voltar. Mas lembro-me de que, ao chegar à UNICAMP, fui advertido de que deveria tomar cuidado com o que dizia, especialmente em sala de aula, porque entre os alunos haveria “dedos-duros”.
Em 1981, quando fui demitido da UNICAMP, durante a gestão de Paulo Maluf no Governo do Estado, era Ministro da Educação (do General João Baptista Figueiredo) o General Rubem Carlos Ludwig. O fato de ele também ser luterano e de eu haver estudado no Seminário Luterano de São Leopoldo foi-me de grande valia naquele instante difícil. Os tempos eram ainda de Ditadura e de “Malufura”, e os economistas da UNICAMP começavam a colocar suas manguinhas de fora. Botaram de fora todas as mangas a que tinham direito — e outras a que não tinham. Nós todos sabemos onde estão hoje. Mas essa é outra história.
Em Salto, 19 de Agosto de 2007
Preciso dizer mais uma vez que eu me delicio com suas histórias, bem como com sua forma especial de contá-las.
Tenho grande curiosidade em entender como é o processo da perda da fé. Às vezes me pergunto se esse processo é realmente irreversível, ainda que longo…
Beijinhos…
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Querido irmão
Adorei ler o seu texto. Não me lembrava de todos esses detalhes pois na é poca em que vc foi embora eu tinha somente 7 anos.
Apesar do nosso pai não ter se despedido de vc, ele sentiu muito a sua partida. Foi a única vez que vi nosso pai chorar na vida. Não sei se por remorço, saudade, não sei, mas a imagem dele chorando porque vc foi embora ficou gravada na minha memória, e quando li o seu texto e cheguei na parte que vc escreve que a nossa mãe e nós acompanhamos vc e pai nem se despediu. me lembrei dessa imagem que me marcou, pois nunca tinha visto nosso pai chorar. O pai amou vc mais do que todos nós, só que ele não soube como demostrar esse amor!
Agradeço muito a Deus (embora vc diga que não acredita nele) pela sua vida e por eu ter o privilegio de ser sua irmã!
Te amo de todo coração!
Beijos
Ane
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Se nosso pai pudesse ler esse scrap ele iria se revirar na sepultura. Escrevi remorso com "ç"!!!!!!!
Deve ser efeito do vinho. Estou na terceira taça!!!! REMORSO.
Desculpe pelo erro!!!
Te amo mesmo assim!!!!!!!!!!
Beijos querido!!!!
PS: O filho do Cesar nasceu hoje e se chama Gabriel!!!!
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Como a vida da gente gira… Escrevi o artigo acima há um pouco mais de quatro anos, no dia 19 de Agosto de 2007. Hoje o reencontrei porque estava procurando um material sobre o Goethe Institut e o sempre fiel Google me trouxe o link… Li de novo o artigo — não me lembrava de que havia escrito tanta coisa biográfica apenas quatro anos atrás.
Mas o mais surpreendente foi o fato de que a Paloma comentou o artigo…
O fato é surpreendente por mais de uma razão.
1) Quando escrevi o artigo e ela o comentário, estava tentando convencer a Paloma, que então trabalhava na Secretaria da Educação do Município de São Bernardo do Campo, a vir trabalhar comigo no Instituto Lumiar, do qual eu acabava de me tornar Presidente, por convite do Ricardo Semler, mediado pela Ana Teresa Ralston, cunhada dele. Já havia convidado a Paloma mas ela não havia ainda decidido. Oportunamente, decidiu, e em Janeiro de 2008 começamos a trabalhar juntos no Instituto Lumiar, nas dependências da Escola Lumiar de São Paulo, na Rua Bela Cintra, 561.
2) Cerca de um ano depois de eu escrever o artigo e ela o comentário, nós nos separamos de nossos então cônjuges e passamos a viver juntos. Juntos e felizes estamos desde 6 de Setembro de 2008. Acabamos de celebrar três anos de vida em comum. Se tudo der certo, vamos nos casar “de papel passado” ainda este ano.
3) A Paloma lança a questão, no comentário dela, se o processo de perda de fé seria irreversível. Há um update a fazer aqui também. Em grande parte pelas conversas com ela, voltei a me interessar pela religião e pela teologia, e, em consequência disso, voltei para a Igreja. Hoje somos, os dois, membros da Catedral Evangélica de São Paulo (a Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo), na Rua Nestor Pestana. O processo de “reversão” não foi completo: não voltei a acreditar em tudo aquilo em que um dia acreditei. Mas voltei a crer em algumas coisas fundamentais que justificaram o meu retorno para a igreja, onde fui acolhido pelo pastor, Rev. Eliseu Rodrigues Cremm, meu amigo desde 1961 no JMC — ou seja, contando de hoje, meu amigo de mais de 50 anos.
4) Uma das coisas que me fez seriamente considerar a “reversão” foi minha história com a Paloma. Quando eu escrevi o artigo e ela o comentário, eu estava para fazer 64 anos e ela havia feito, três meses antes, 32. Que o amor entre nós tenha nascido, prosperado e dado certo, a despeito de circunstâncias extremamente adversas, pareceu-me, se não exatamente miraculoso, providencial (e a ação da providência não deixa de ser de certo modo miraculosa). Além disso, há várias ligações entre nossas famílias. Meu pai foi pastor da Igreja Presbiteriana do Parque das Nações, em Santo André, onde a avó dela era organista e regente do coral, nos anos 50-60. Meu pai fez o casamento de uma tia e de um tio dela. E a tia dela se casou com uma pessoa, daquela igreja, que havia sido meu amigo (faleceu deste então), e o tio dela se casou com a filha de um outro amigo meu, irmão do primeiro, que também já faleceu (recentemente, neste caso). Quando eu era adolescente e ele menino, devo ter conhecido o pai da Paloma lá na igreja, que eu frequentava com certa regularidade… E agora, aqui estamos, ela e eu, juntos, tornando uma duas famílias que já tinham tido laços tão estreitos. Pareceu-me, e ainda me parece, que deve haver um propósito por trás de tudo isso… Quem sabe o propósito não seria fazer com que eu me reconciliasse e fizesse as pazes com meu passado?
5) Por obra e graça da Paloma voltei a ter um relacionamento estreito e amoroso com meus irmãos, dos quais andava meio distante. Minha irmã Eliane colocou um comentário ao artigo que é extremamente importante para mim. Agradeço-a por ter feito isso, e por ter, junto de meu irmão Flávio e de minha outra irmã, Priscila, me reacolhido, e acolhido a Paloma, tão carinhosamente. A Paloma se sente irmã deles todos, e eles, irmãos dela.
6) Por fim, a Paloma tem uma filha que se chama Priscilla — nome da minha irmã; e eu tenho uma filha que se chama Patrícia — nome da irmã dela…
Se meu caro filósofo-mentor Adam Smith podia acreditar que havia uma mão invisível fazendo as ações individuais, e egoístas, dos indivíduos contribuirem para o bem comum, por que não posso eu acreditar que uma mão invisível, quem sabe a mesma, estava, o tempo todo, nos preparando, à Paloma e a mim, para o nosso encontro, para o nosso amor, para a nossa vida juntos?
Em São Caetano do Sul, 15 de Setembro de 2011
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