Estava com saudades de ficar aqui no meu cantinho, na biblioteca do sítio (chamada de “Akston Lounge – I” — a biblioteca de casa é a “Akston Lounge – II”), escrevendo, lendo, contemplando os meus principais amigos: os meus livros. De vez em quando me levanto da confortável poltrona, tiro um livro da estante, dou uma olhada nele, aliso-o com carinho, tiro o pó, e o ponho de volta. Outras vezes apenas mudo um livro de lugar, porque estava num lugar não muito adequado, dado o assunto… Ou acerto o alinhamento deles: parece que eles se mexem sozinhos, preferindo ficar desalinhados, ou de alguma forma protestando contra o alinhamento militar que sempre pretendo lhes impingir. . .
Sou meio maníaco com essas coisas, com esses arranjos. Não só com o alinhamento, of course. Eles são secundários. Mais importante é o agrupamento e ordenamento. . . Livros podem se perder se fora de seu grupo (categoria) ou se fora de ordem. Bibliotecários sabem disso. Por isso, nas bibliotecas de livre acesso, pedem que a gente não coloque os livros de volta nas estantes, deixando-os nos carrinhos. Um livro colocado no lugar errado em uma biblioteca grande é um livro perdido. Como tenho bem mais de 20 mil livros aqui no sítio, cuido muito disso — apesar de, em regra, só eu e a Paloma mexermos neles.
Em geral agrupo e ordeno meus livros por categoria, começando com grandes áreas: Filosofia, Teologia e Religião, Política (incluindo FIlosofia Política, Teoria Política e Ciência Política — não a prática da política), Economia, Administração, História, Psicologia, Educação… Tenho uma seção grande de livros de Lógica, porque dei aula de Lógica por dois anos nos Estados Unidos. (Política e Lógica são, para mim, parte da Filosofia, mas eu agrupo essas áreas separadamente, por ter muitos livros em cada uma delas).
Dentro de cada categoria maior, agrupo os livros por assunto e por autor… Em Filosofia, há um agrupamento natural, cronológico, por período da História da Filosofia: Filosofia Grega, Filosofia Medieval, Filosofia Moderna, Filosofia Contemporânea. . . Dentro da Filosofia Moderna, ordeno os livros por sub-período, mas agrupando os autores principais: Século 17, Século 18, Século 19, Século 20… No Século 17, Descartes, Spinoza, Leibniz, Hobbes, Locke… No Século 18, Deístas, Adam Smith, Hume, Kant, Rousseau, Voltaire, os demais Iluministas Franceses (os Philosophes)… No Século 19, Schopenhauer, Nietszche, Kierkegaard, John Stuart Mill… No Século 20, Bertrand Russell, Wittgenstein, Popper, Ayn Rand.
Dentro da Filosofia Contemporânea (lato senso), ordeno os livros por tema: Metafísica, Epistemologia, Lógica, Ética, Política, Estética (já falei na Política e na Lógica).
Em Teologia e Religião, História do Cristianismo (incluindo História do Pensamento Cristão), Teologia Sistemática, Teologia Prática, Velho Testamento, Novo Testamento, Línguas Bíblicas. . . Não tenho muitos livros sobre religiões não cristãs, com exceção do Judaísmo, por razões óbvias: o Judaísmo é a religião-mãe do Cristianismo… Às vezes há dúvidas sobre onde colocar um autor, se entre os teólogos ou entre os filósofos… Tomás de Aquino está, para mim, entre os filósofos.
Os autores dos quais ou sobre os quais tenho mais livros são David Hume (disparado o número 1: fiz minha tese de doutorado sobre ele, mais de 200 livros nessa categoria), Ayn Rand (minha autora favorita, vem em segundo lugar, destacado), Karl Popper (em terceiro lugar, com seus discípulos, amigos, defensores e críticos — meu orientador, W. W. Bartley, III, está aqui, como aluno, amigo, defensor e crítico respeitoso), e, pela ordem, Bertrand Russell, Adam Smith, Tomás de Aquino, João Calvino, Rudolf Bultmann, Karl Barth, Paul Tillich, C S Lewis, Agostinho, Platão e Aristóteles, John Dewey, Jean Piaget, etc.
Faz quase um mês que não ficava quietinho aqui… Sinto falta dos meus amigos livros… Não preciso nem lê-los (embora o faça o tempo todo): basta estar ao lado deles…
Em Salto, 23 de Agosto de 2014
Faço um comentário ao meu próprio texto para acrescentar um post que minha amiga Daisy Grisólia colocou no Facebook:
“No Egito as bibliotecas eram chamadas ‘Tesouro dos Remédios da Alma’. De fato é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades, e a origem de todas as outras.”
(Jacques Bossuet)
[Citação de http://www.expandiraconsciencia.blogspot.com.br/%5D
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