A Copa do Mundo começou hoje (09/06/2006). A Globo, pelo que consta, enviou 185 profissionais para cobri-la. Todos os canais de tv, as emissoras de rádio, os jornais, as revistas — toda mídia dá destaque ao evento.
Fico me perguntando: por que é que o esporte consegue mobilizar tanta gente desse jeito?
Intelectuais metidos a besta, professores universitários com complexo de superioridade, todo mundo se une para torcer por um grupinho de indivíduos que ganham o que certamente parece ser uma obscenidade. Por que os admiramos? Por que os aplaudimos? Por que torcemos por eles? Por que não nos revoltamos diante do fato de que eles ganham tanto e nós, comparativamente, tão pouco?
A esquerda costuma defender a tese de que a violência que aflige a nossa sociedade tem como principal causa a desigualdade sócio-econômica. Segundo essa tese, os pobres observariam os ricos, e, nessa "prise de conscience", perceberiam a ineqüidade de nossa sociedade — e se revoltariam. A violência seria a expressão dessa revolta.
Nada confirma essa tese. Pelo contrário. Estão aí o Ronaldinho Gaúcho, o Ronaldo Fenômeno, o Cacá… Todos multimilionários, todos adoradíssimos — especialmente pelos mais pobres. E não é só no esporte. Os artistas (cantores, atores, etc.) também têm rendas milionárias. E também são adorados — especialmente pelos mais pobres. Onde está a "prise de conscience"? Onde está a percepção da ineqüidade? Onde está a revolta?
Parece-me que os pobres são muito menos igualitaristas que os seus supostos defensores, os intelectuais de esquerda. Os pobres convivem bem com a desigualdade. Eles reconhecem que os dois Ronaldos, o Cacá, etc. merecem o que ganham — merecem ganhar muito masi do que eles. Estendendo o argumento, reconhecem que um médico, um engenheiro, um advogado, um professor universitário merecem ganhar mais do que eles.
Quem é que vai contestá-los?
Em Salto, 9 de junho de 2006