Cláudio Minetto, meu amigo e irmão, levanta a questão do papel da emoção e da razão em nossa avaliação de obras de arte, especialmente romances e filmes. O que é que nos faz gostar de uma obra de arte: é seu apelo às nossas emoções ou à nossa razão. Essa é, nesse caso, uma falsa dicotomia. Eu defendo uma teoria meio racionalista das emoções. Emoções não são reaçoes, positivas ou negativas, de alguma faculdade autônoma que temos e que nos faz sentir uma coisa ou outra, de uma forma arbitrária. Nossas emoções são sentimentos que temos diante de determinadas coisas ou de determinados acontecimentos, mas esses sentimentos não são arbitrários: eles decorrem de nosso sentido da vida ("sense of life"), de nossos valores, de nosso sentido do que é próprio e certo. E nada disso é independente de nossa razão — pelo contrário.
Assim, quando nos sentimos emocionados (de forma positiva) ao assistir a Scent of a Woman ou The Bridges of Madison County, o que está acontecendo é a nossa emoção respondendo ao nosso sentido de que é assim que as coisas deveriam ser — embora infelizmente raramente o sejam. E essa percepção, na qual se baseia o nosso sentimento, é racional, não arbitrária.
Ayn Rand e Mário Vargas Llosa compartilham, até certo ponto, uma visão da arte, segundo a qual (parafraseando Rand) a arte é a nossa tentativa de recriar a realidade (i.e., inventar uma realidade) segundo nosso "sense of life", nosso sentido de realidade, nossos valores mais básicos. Falando especificamente da literatura, Vargas Llosa diz que ela consiste de mentiras que inventamos para dizer verdades que, no mundo em que vivemos, não têm correspondência com a realidade.
Em Campinas, 28 de agosto de 2006
Não entendo a emoção como uma faculdade autônoma, nem tampouco como \’oposição\’ a razão. Entendo-as como complementares e me referi a \’apenas\’ razão [veja no texto], no sentido de que voce pode perceber, notar, comprender uma coisa ou situação [razão] e no entanto isso não lhe \’tocar\’.
Só para entender melhor sua \’teoria\’: Ela não seria uma negação, por exemplo, do inconsciente?!?!?
Abs, Claudio
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