O Episódio Emir Sader

A condenação em Primeira Instância de Emir Sader por difamação e injúria – na verdade, calúnia – do Senador Jorge Bornhausen já prestou um grande serviço à causa da seriedade intelectual no Brasil. Ainda que a sentença de Primeira Instância venha a ser abrandada ou mesmo invalidada em instância superior, algo que espero que não aconteça, o susto que Emir Sader, em particular, e a esquerda, em geral, tomaram com o veredito judicial já valeu. Li um artigo recente do Emir Sader, escrito depois da sentença, e o tom é outro: até parece uma pessoa séria escrevendo. Seus artigos, antes da sentença, eram, em geral, na linha daquele que provocou o processo: no mínimo, destemperados – no máximo, cheio de inverdades, chavões, e acusações contra tudo que não é a esquerda mais retrógrada.

Devemos todos agradecer ao Senador Bornhausen a providência que tomou de processar Emir Sader. E devemos todos agradecer ao juiz que prolatou a sentença, por ter tido a coragem  de provocar a ira da auto-denominada intelectualidade – de esquerda, naturalmente.

A esquerda, em especial a brasileira, não consegue falar sobre ninguém que se situe, no espectro político, à direita do centro sem acumular vitupérios. Como é de esperar, “a esquerda” é expressão de conotação valorativa extremamente positiva no discurso esquerdista. Os que estão “à esquerda” são os bons. “A direita”, por outro lado, é uma expressão pejorativa no discurso da esquerda. Os que estão “à direita” se situam no “eixo do mal” (no qual piamente acreditam, tanto quanto o Bush). A esquerda não consegue usar a expressão “a direita” sem conotação valorativa, de forma neutra, apenas para descrever uma tendência política alternativa. Não. Para ela a direita é sempre retrógrada, conservadora, desumana, autoritária, quando não fascista.

Tenho certeza de que, daqui para a frente, quando os esquerdistas forem escrever sobre pessoas que eles consideram de direita, vão pensar duas vezes antes de dizer a primeira coisa que lhes vêm à cabeça (mesmo que sabidamente falsa e caluniosa), antes de enfileirar vitupérios contra aqueles que se situam em posições diferentes no espectro político.

Se isso acontecer, como tenho certeza que irá acontecer, o mérito é do Senador Bornhausen e do Sua Excelência, o juiz que prolatou a sentença. Saibamos ser gratos a eles – no exato momento em que a esquerda procura demonizá-los e fazer, de Emir Sader, uma vítima.

Em Campinas, 18 de outubro de 2006.

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