Voltando a falar da Europa e a Internet

Num dos meus artigos no meu blog de viagem escrevi sobre a Internet, os Estados Unidos e a Europa. Para contextualizar, transcrevo o artigo abaixo.
 
O que me fez lembrar do artigo foi o fato de que nos aeroportos asiáticos em que tenho estado nos últimos tempos (Tóquio, Hong Kong, Taiwan, Seoul, Bangkok, Kuala Lumpur) o acesso à Internet, nas salas VIP, é gratuito, bom e desburocratizado.
 
Nesta viagem parei no aeroporto de Munique e, hoje, aqui no aerporto de Londres (Heathrow). Em ambos os casos, as salas VIP da Lufthansa e de British Airways cobram o acesso à Internet.
 
Não é o fim da picada???
 
Em Londres, 10 de dezembro de 2006.
 
[Artigo anterior, transcrito]

Venho refletindo, nesses últimos dias, por força das circunstâncias, sobre as diferenças entre a Europa e os Estados Unidos.

Primeiro, no tocante a hotéis. Aqui na Europa tenho visto hotéis europeus tradicionais de primeira linha, caríssimos, hotéis de cadeias americanas tradicionais (Hilton, Sheraton, Marriott), hotéis da cadeia Accor, européia, e mais recente (Novotel, Sofitel, Mercure, Ibis), e hotéis mais baratos, locais, fora de cadeia.

As duas primeiras categorias têm preço que me parece exorbitante. Embora quando viage a serviço da Microsoft, fique sempre em hotéis das duas primeiras categorias (substituindo-se, na primeira categoria, “europeus” pelo adjetivo correspondente ao país em que há a reunião), quando se está viajando a lazer, durante 50 dias, não dá pra pagar de 250 a 400 Euros por dia.

As linhas Novotel e Sofitel da Rede Accor também são caras, em algumas cidades. Chequei o preço do Novotel Les Halles em Paris, e a diária era de 392 Euros. Fora de cogitação, apesar de ser um bom hotel e de ter uma localização mais do que privilegiada: nobilérrima.

Como é difícil confiar nos hotéis locais, fora de cadeia, a menos que a gente tenha conhecimento pessoal da qualidade deles, sobram as linhas Mercure e Ibis da Rede Hotel.

Minha opinião dos hotéis Ibis é de neles não falta quase nada – mas não tem nada mais do que o estritamente necessário. Normalmente são baratos – embora em Praga, uma cidade de hotéis caros, tenha pago 120 Euros por noite no Ibis Praha Old Town: que fica na entrada da Cidade Velha, na Praça da República. Em Viena, também fiquei num Ibis, a 15 minutos a pé do centrinho, e junto de uma estação do metrô: excelente – melhor do que  o de Praga, embora o preço tenha sido 77 Euros por dia.

Fiquei satisfeito tanto em Praga como em Viena – embora em Praga a Internet fosse um desastre. Sobre isso, porém, falarei adiante.

Aqui em Salzburg – cidade também conhecida pelo alto preço de seus hotéis – não havia Ibis disponíveis. Os poucos que há são fora da cidade. Optei pelo Mercure, a 144 Euros por dia. Chegando aqui, constatei que o hotel era novo. Mas aí começaram as surpresas desagradáveis. Primeiro, não havia Internet nos quartos – nem pagas (apesar de os dois Ibis anteriores, que são hotéis de uma linha mais barata do que a Mercure, terem). Segunda surpresa desagradável: o quarto não tinha ar condicionado. Fui reclamar. Disseram-me que minha reserva havia sido para um quarto padrão. Retorqui afirmando que, naturalmente que sim… O problema, porém, disse-lhes, não estava com a minha reserva, mas com o que eles entendem por quarto padrão num hotel que cobra 144 Euros por dia… Disse-lhes que em Praga, que, para eles, é cidade do segundo mundo, o Ibis, que é um hotel de linha inferior ao Mercure, tinha ar condicionado… Depois de muita briga, extraí deles a admissão de que alguns quartos possuíam ar condicionado, mas eles não eram padrão – eram quartos “Confort”, que custavam 15 Euros por pessoa por dia de upgrade…  Como àquelas alturas não dava para achar um outro hotel, e a temperatura estava fria, resolvi ficar com o que já tinha – exceto pela ausência do ar condicionado, o quarto é grande, confortável, tem TV de cristal líquido, etc. e não é longe do centrinho velho.

Mas estou dizendo isso para ressaltar que os Estados Unidos, além dos hotéis de primeira linha, de cadeia ou não, têm inúmeras cadeias de segunda e terceira linha bastante confiáveis, por preços muito razoáveis. Tenho em mente as “Inns”, as “Suites”, os motéis (que lá são hotéis populares), como La Quinta Inn, Comfort Suite, Motel 6, Motel 8, etc. Nesses hotéis você tem todo conforto, por um preço razoabilíssimo. Só para dar um exemplo, fiquei recentemente em Orlando, com a Sueli e o meu neto Gabriel, nas Homewood Suites, pertencentes à cadeia Hilton. Por 75 Dólares (não Euros) por dia tínhamos um quarto enorme com duas camas de casal, uma sala bastante grande, uma cozinha com fogão, forno micro-ondas, geladeira de tamanho normal, mesa, sofás, televisão, etc. – mais café da manhã e o que eles chamam de Happy Hour à noitinha (que é mais um lanche que substitui o jantar – há comida bastante e variada, só não havendo bebidas alcoólicas). E, para culminar o pacote, havia acesso gratuito e de banda larga (wireless, wi-fi) à Internet. Isso você (tanto quanto eu saiba) não acha na Europa.

E o último assunto traz-me à outra questão: a Internet. Nos hotéis de Praga e Viena havia acesso wireless (wi-fi) no quarto – proporcionado pela companhia de telefonia celular T-Mobile, vinculada à Deutsche Telekom (e existente também nos Estados Unidos: meu celular americano é da T-Mobile). Mas o acesso no quarto era pago – e o preço era salgado: 9 Euros por uma hora, 15 Euros por três horas, e 18 Euros por 24 horas. Na recepção, porém, havia computadores com acesso gratuito à Internet. Na verdade, computadores em Praga, onde havia dois; em Viena, havia só um computador. (Em Praga eles não funcionavam direito, mas em Viena, era perfeito).

Problema adicional: fiz duas subscrições à Internet a partir do quarto, uma de uma hora, outra de três horas. A primeira funcionou. A segunda, quando havia usado por cerca de 70 minutos, abortou e não tive como fazê-la funcionar de novo. No dia seguinte falei com o rapaz da recepção e ele disse que eles não tinham nada que ver com isso, porque o serviço era da T-Mobile: deu-me o telefone e o e-mail da T-Mobile para eu reclamar. Vale a pena reclamar por 6 Euros??? Posteriormente vim a descobrir que o serviço da T-Mobile, se ele detecta que você ficou inativo por 15 minutos, ele se desliga. Por quê, não sei: se você está pagando, pode ficar inativo que o tempo passa… O problema era mais grave, porém, porque eu não estava realmente inativo: estava baixando mensagens da Internet para o Outlook. Ou seja, eu não estava navegando pela Web, mas meu computador estava fazendo download de mensagens. Aparentemente a T-Mobile européia acha que você está inativo se não está entrando e saindo de sites. Descobri, depois, que fazer downloads de arquivos conta como inatividade, se você não estiver ao mesmo tempo navegando pela Web. Absurdo.

A situação piorou aqui em Salzburg. Aqui não há acesso à Internet nos quartos – nem mesmo pago. Há, porém, no lobby do hotel, pelos mesmos preços. Problema: hoje cedo tentei, no lobby, às 7 da manhã, fazer acesso, e o servidor da T-Mobile reportava um erro de software. Não consegui.

Falei com a moça da recepção. Ela disse que não entendia nada disso – mas que eles tinham um computador disponível no “Business Center”, ao preço de 6 Euros por 20 minutos… É isso. Vocês leram certo: 6 Euros por 20 minutos, ou 18 Euros por hora. Ou seja, aqui em Salzburg, suprimiram os computadores com acesso gratuito à Internet na recepção e, em substituição, disponibilizaram um – um solitário computador – ao preço de 18 Euros por hora.

Surpresa: saindo do hotel, e virando a esquina, há o que chamamos aí no Brasil de LAN House, e que aqui é chamado de Internet Café (embora não tenha café) que dá excelente acesso à Internet por 2 Euros por hora. Se uma portinha simples consegue fazer isso, por que uma rede internacional de hotéis não consegue?

Comparando com os Estados Unidos, todas as grandes redes de hotel (Hilton, Sheraton, Marriott) oferecem acesso por cerca de 10 dólares por dia – ou seja, eles combram por um dia inteiro o preço que aqui na Europa se cobra, nos hotéis, por uma hora. Os hotéis de segunda linha, em geral não cobram absolutamente nada: a decisão é parte de sua estratégia de procurar roubar clientes das grandes cadeias de hotel, oferecendo-lhes serviços gratuitos pelos quais elas cobram. (Outro serviço mais e mais oferecido é café da manhã dito continental – sem ovo, bacon, etc. O café da manhã é cobrado nas grandes cadeias – recentemente paguei, na Austrália, 36 dólares por um café da manhã, tipo bufê – sortidíssimo, mas caríssimo.

Terceira questão a levantar, decorrente do que acabei de dizer. Aqui na Europa, todos os hotéis da rede Accor cobram por café da manhã: de 7 a 16 Euros por pessoa.

Tudo isso anda girando pela minha cabeça – especialmente a questão da Internet. A diferença entre as atitudes das pessoas para com computadores e a Internet é chocante. Nos Estados Unidos, na sala de espera de um aeroporto ou na estação de trem, você vê um monte de gente com os computadores ligados, assentados sobre as pernas, trabalhando – geralmente conectados à Internet por wi-fi ou até mesmo através de seus telefones celulares. Aqui, não… Nos Estados Unidos, você, hoje, não encontra um hotel, nem mesmo o mais chinfrim motel, sem acesso banda larga à Internet nos quartos. Aqui você tem um Mercure, cobrando 144 Euros por dia, em Salzburg, sem acesso à Internet nos quartos.

Está  certo que a Internet foi inventada pelos Estados Unidos – que são o país mais desenvolvido tecnologicamente do mundo. Mas a Europa, se quer competir para se tornar o bloco econômico e político mais importante do planeta, não pode se dar ao luxo de capengar na sua infraestrutura tecnológica – e, em parte por isso, acredito, cobrar esses preços absurdos pelo acesso à Internet em seus hotéis. Felizmente, há os Internets Cafés – onde a gente encontra homens de terno trabalhando… que deveria estar trabalhando em seus quartos de hotéis ou, quem sabe, em algum outro lugar que não lhes porporciona acesso decente e barato à Internet.

Devo falar sobre televisão? A televisão a que tenho acesso nos hotéis aqui é um lixo. Talvez pela competição com os Estados Unidos, nem mesmo a CNN Internacional oferecem regularmente. Só uns programas de auditório e entrevistas idiotas, ou uns filmes de terceira linha europeus. A televisão americana não é modelo a se invocar, mas nos hotéis você tem uma meia centena de canais, dentre os quais uns três ou quatro de notícias (CNN, Fox News, MSNBC, Bloomsberg), vários de filmes, outros de esportes, etc. Não é por falta de alternativa que você não assiste a nada.

Há uma coisa em que a Europa em geral sobressai: transporte público. Em Praga não usei, mas em Viena usei bastante o metrô. Em Salzburg não há metrô, mas há ônibus por todo lado. E Paris têm um dos melhores metrôs do mundo – certamente em abragência. As grandes cidades americanas têm metrôs, mas eles não têm a mesma cobertura que o metrô de Paris.

Enfim, levanto uma série de questões – mais à guisa de desabafo…

Em Salzburg, 6 de outubro de 2006

[Fim da transcrição]

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