O amanhecer e o entardecer na roça

O desenvolvimento econômico, que tem na tecnologia o seu combustível, tem reduzido as diferenças, antes sensíveis e palpáveis, entre viver na cidade e viver na área rural. Hoje é possível viver confortavelmente na área rural, sem deixar de desfrutar da luz elétrica, da água encanada, da telefonia (fixa e móve), da televisão por satélite, e, com a popularização do uso de modems celulares, da Internet em banda larga.

Hoje cedo, por volta das 6 da manhã, abri a porta da sala aqui no meu sítio, em Salto, SP, e pude ver o sol nascer, lá depois do aeroporto de Itaici e de Viracopos, num cenário cheio de brumas, e acompanhado por uma sinfonia de pássaros. Siriemas, aqui bem pertinho, tentavam se integrar ao coral.

Fiquei lembrando daqueles programas antigos de rádio — "O Amanhecer na Roça", ou simplesmente "Manhã na Roça" — em que um apresentador com sotaque caipira só tocava música caipira: modas de viola, cateretês, etc. Hoje até a música caipira está rebatizada de sertaneja ou country.

Mas, com a tecnologia moderna, é possível desfrutar toda a beleza de um amanhecer na roça ouvindo, entretanto, todas aquelas músicas que eu mencionei no post anterior: a Sinfonia em Ré Menor, de Cesar Franck, ou Finlandia, de Sibelius, ou as aberturas de Tannhäuser e Lohengrin, ou mesmo de Tristan und Isolde, de Wagner, ou a Nona Sinfonia de Beethoven, ou Sonho de Amor, de Liszt, ou os  Noturnos, de Chopin…

Ontem à tardinha, quando o sol ameaçava se pôr, saí andar por aqui, em estradinhas de terras, atalhos por entre o mato, carreadores. Andando vi o sol se pôr e a noite chegar. Voltei pra casa estava já bem escuro. No processo todo fui acompanhado por um séquito de cães aqui do sítio (o número de cachorros aqui creio que chegou a dezoito ou dezenove: eram quinze, mas uma cadela deu cria a três — que já estão grandinhos — e um cachorro andante, magro e feio, pediu asilo aqui). Mas o mais bonito era a cantoria dos pássaros, enquanto havia luz. Quando foi ficando escuro, às vezes eu passava perto demais de uma árvore e os pássaros que nela se abrigavam revoavam assustados.

Voltei para casa, tirei os picões e carrapichos da roupa e do tênis, tomei um banho quente, liguei a TV e o computador, sentei-me na minha poltrona reclinável, girável e de balanço, e me esqueci que estava na roça, que a menos de vinte metros de onde eu estava havia plantações de beringela, de um lado, e de pimentão, do outro.

E fiquei pensando: por que o Rubem Alves e o Carlos Brandão preferem se enfiar no mato, mesmo, longe dos confortos da civilização que nos permitem unir o melhor da cidade e da zona rural?

Em Salto, 22 de Agosto de 2008

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