Mais um acontecimento significativo da História do Brasil teve lugar num mês de Agosto…
Quarenta e oito anos atrás, neste dia, Janio Quadros renunciava à Presidência da República, apenas sete meses depois de ter sido consagrado com a maior vitória que um candidato a Presidente já havia tido na história do Brasil
Eis o texto de sua Carta Renúncia:
"Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.
Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranqüilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.
Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.
Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.
Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria.
Brasília, 25 de agosto de 1961.
Jânio Quadros"
Escrito e transcrito em São Paulo, 25 de Agosto de 2009
25 de Agosto de 1961.Nesta data, eu tinha 4 meses de idade.Nesta mesma data, este homem que, 7 meses antes, tinha sido legitimamente eleito pelos seus concidadãos – segundo o comentário introdutório, foi consagrado com a maior vitória que um candidato a Presidente já havia tido na história do Brasil – para conduzir os destinos do Brasil, desistiu.Não quero aqui julgar a atitude que ele tomou, até porque não tenho qualquer conhecimento da conjuntura político-social que então se vivia no Brasil, e também porque não faço ideia se o seu desempenho durante o período em que assumiu a presidência foi ou não louvável. Mas que deve ter sido uma tremenda desilusão para todos os que nele depositaram esperanças, isso deve.Escrito em Odivelas, Portugal, 28 de Agosto de 2009
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Sei pouco sobre O SR.JÂNIO DA SILVA QUADROS, porém sua atitude no minimo nos deixa preocupados com os acontecimentos atuais.governar com esta cambada de malandro,basta olhar os fatos atuais,nossa Presidente sendo refém de uma base totalmente corrompida e sem o menor escrúpulo negocia (chantageia) D.Dilma.Será que no passado não houve a mesma situação, até quando veremos nosso país estando entre os mais corruptos.
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Repasso a anlálise de Nelson Valente:
Há 45 anos, Jânio Quadros repetiu um gesto que já havia esboçado pelo menos onze vezes, perdeu a Presidência e lançou o País numa crise que culminou com o golpe de 1964. Corri bibliotecas, colhi depoimentos, li e reli centenas de revistas e jornais antigos e conversei muito com o próprio personagem. O ex-presidente Jânio da Silva Quadros sempre foi comigo por demais atencioso, relatou-me fatos que hoje tenho por obrigação passar através deste artigo. De todos os políticos que conheci, como pesquisador e autor de dez (10) livros sobre o ex-presidente,jamais convivi com pessoa tão inteligente e de personalidade tão complexa. Conhecia exatamente onde estava a tênue fronteira entre o pitoresco e o ridículo. Trabalhava a sua imagem sobre o fio da navalha.Por isso, foi o mais inusitado fenômeno da política brasileira, presença carismática junto ao povo e aos meios de comunicação. Desde que foi eleito vereador, em 1947, o futuro presidente já tinha por hábito escrever a colegas e subordinados. Foi por meio de uma carta escrita por ele em 1961 e entregue ao Congresso Nacional que Jânio deixou a Presidência. Para a renúncia, há mais de dezoito versões diferentes. As minhas pesquisas indicam que o ex-presidente Jânio da Silva Quadros tentou renunciar pelo menos onze vezes nos mesmos moldes e uma tentativa de deposição em toda a sua vida pública.Para não desmerecer sua biografia, recheada de renúncias, também desta vez Jânio abandonou a Prefeitura dez dias antes de completar o mandato, viajando para Londres. E os últimos dias de governo foram administrados por seu Secretário de Negócios Jurídicos, Cláudio Lembo (ex- governador do Estado de São Paulo). Jânio Quadros (1953) elegendo-se prefeito da Capital Paulista e, no cargo, há um momento em que ameaça renunciar. Quando Governador (1955) de São Paulo, contrariado com as críticas e com a oposição que vinha sofrendo na Assembléia Legislativa, no cúmulo de sua irritação, chamou o seu secretário particular, Afrânio de Oliveira, e lhe entregou uma mensagem para ser divulgada à noite, pelos jornais, noticiando sua renúncia. De posse da mensagem, Afrânio de Oliveira reteve-a em seu poder, não dando ciência a ninguém. No dia seguinte, estranhando a falta de repercussão da notícia, indaga o Governador do seu Auxiliar onde se encontrava a mensagem: “Comigo, no bolso.” “Rasgue-a” – disse Jânio. Estava superada a crise da “renúncia”. A renúncia de Jânio Quadros foi premeditada, ligando um fato a outro, as circunstâncias permitem acreditar que tinha o objetivo de controlar todo o governo e livrar-se de Carlos Lacerda e da influência do Congresso. A revista “Mundo Ilustrado” em seu número de 12 de agosto, treze dias antes da renúncia, publicava a reportagem: “Renúncia, arma secreta de Jânio”. Prova cabal de que a renúncia não foi um gesto individual de um Presidente destemperado: a carta em que a decisão seria tornada pública estava desde 20 de agosto em poder de Horta. Ele mostrou a um grupo de conspiradores que se reuniu na casa de um industrial em Bertioga (SP). Entre os participantes do encontro estava o Presidente do Senado, Auro de Moura Andrade (PSD-SP), e o ministro da Guerra, Odílio Denys. Em 1960, em entrevista exclusiva, após o episódio da renúncia, quando era candidato a candidato à Presidência da República, pela UDN, Jânio disse: – “Quando renunciei, tinha o firme propósito de voltar à vida privada, isto é, à advocacia, ao magistério e à família” (renunciou por duas vezes em 1960). Em 25 de agosto de 1961, o estilo da carta renúncia. Diz o texto: “Retorno agora ao meu trabalho de advogado e de professor.” Em 19 de agosto, Che Guevara é recebido por Jânio Quadros em Brasília, o qual aproveita a ocasião para atender um pedido do núncio apostólico, monsenhor Lombardi, para interferir na libertação de 20 padres espanhóis, presos em Cuba. No caso dos padres, Guevara concorda com a libertação, avisando, entretanto que, dentro das regras cubanas, eles serão em seguida expulsos para a Espanha. Jânio manifesta sua opinião de que a expulsão é um assunto interno de Cuba, que só a ela cabe resolver. O Brasil defende a libertação e com esse ato considera o pedido satisfeito. O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, através da CIA (Central Inteligence American) e de seu Presidente norte-americano John Kennedy, estavam interessados que o “regime” de Jânio Quadros tivesse êxito no Brasil. A proposta pelo embaixador americano era o de fechar o Congresso Nacional, porque havia um perigo de uma ditadura comunista no Brasil. Jânio Quadros começou a duvidar das propostas do Presidente dos Estados Unidos, contudo, o golpe estava em marcha com o apoio logístico da CIA e Jânio não cedeu um milímetro de suas convicções pessoais, porque era um homem inteligente, de personalidade forte e coerente em sua linha política. Jânio pensou no povo brasileiro e não quis derramamento de sangue, contrariando os Estados Unidos e as Forças Armadas Brasileiras (tal fato vem ocorrer em 1964). No Rio de Janeiro e em São Paulo a repercussão foi forte com as massas nas ruas, bandeiras cubanas e retratos de Che Guevara. O escândalo estourou como na Argentina, e Jânio, uma semana depois abandonou o governo sob as ameaças da direita. Frondizi recebeu tamanha quantidade de ataques que antes de completar sete meses, foi também derrubado. Já, Kennedy, a quem coube o papel equívoco de invasor armado e reabilitador diplomático, foi assassinado dois anos depois, numa confabulação obscura onde as relações com Cuba foram fator de sua transcendência. Na vida de Ernesto Che Guevara, a inteligência e a violência se alternaram o tempo todo. O ano de 1963 apresentou-se agitado em toda América Latina. No Brasil crescia a organização das ligas camponesas, sob a tolerância do presidente João Goulart, um nacionalista que se apoiava cada dia mais nos esquerdistas dos sindicatos e nos intelectuais. Resumindo, onde quer que Che Guevara pousasse, aconteciam calamidades com conseqüências desastrosas, aqui no Brasil, foi condecorado por Jânio Quadros e cinco dias depois, a renuncia. O que planejava Jânio Quadros? Jânio Quadros não queria sob nenhuma hipótese fechar o Congresso Nacional, pois, poderia fazê-lo com um cabo e três soldados. Ele pretendia o respaldo político e parlamentar mais amplo para suas reformas; Jânio Quadros nunca perdeu a chance de amaldiçoar os partidos políticos e o Congresso. Jânio sempre demonstrou desprezo pelos partidos e pelo Poder Legislativo. Ao longo de sua carreira trocou de legenda sucessivamente. Renunciando a todos os cargos do Legislativo e Executivo, no mesmo estilo de carta de renúncia que imprimiu sua marca pessoal. Jânio Quadros tinha o estigma da renúncia e foi um ato teatral. Oscar Pedroso Horta (Ministro da Justiça) traiu Jânio Quadros, quando não rasgou ou pelo menos não retardou a entrega do documento da renúncia. A renúncia de Jânio Quadros foi uma espécie de chantagem com o Congresso, com os militares e com as forças políticas com quem ele estava em choque. *é professor universitário, jornalista e escritor
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…,quanta saudade da vassoura de Janio da Silva Quadros.
Agora seria o momento certo de poder estarmos varrendo a bandalheira
em que se encontra este BRASIL.
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Brilhante o comentário de Paulo Afonso da Mata Machado.Assim é que deveria ter sido feito pelos historiadores e imprensa desse pais. E o Congresso Nacional por que não ficou ao lado do ex-presidente? Os males do país eram melhores do que as reformas pretendidas por Jânio Quadros?
É precisamos rever as figuras que sempre fizeram e continuam a fazer do mundo político um mundo de interresses pessoais, individuais e não coletivos, comunitários.
Parabéns ao Paulo Afonso pelo comentário.Seu comentário será de agora em diante motivo de esclarecimento em sala de aulas para a nova geração de estudantes, sobre a renúncia do ex-presidente.
Um abraço,
Edróbledo José da Silva.
Prof. de Geografia.
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