Houve uma coisa de que não gostei no “El Secreto de sus Ojos” ontem aqui em São Paulo: o legendamento.
O filme se passa em algo equivalente a uma delegacia ou inspetoria de polícia. O linguajar nesses lugares é pesado.
Assim, em inúmeros momentos os personagens dizem “hijo de puta”, “la puta que te parió”, “culo”, “carajo”, várias formas dos verbos “joder”, “cagar”, etc.
Quem traduziu o filme para legendamento abrandou todos esses palavrões. “Hijo de puta” virou, sistematicamente “filho da mãe”. Os demais palavrões foram evitados mudando-se a construção da frase.
Pergunto: quem determinou que o tradutor de um filme deve poupar nossos ouvidos dos palavrões que quem fez o filme houve por bem colocar nele? Quem é responsável por esse paternalismo ridículo e injustificado???
Abaixo com ele.
A gente ouve palavrão o tempo todo. Na rua, na TV (ligue no Jô Soares ou no BBB ou na transmissão de futebol que deixa um microfone aberto no gramado). Por que a gente deveria ser poupado dos palavrões em uma obra de arte, como um filme?
É ridículo ler na legenda do filme que um policial adulto, irado (puto da vida), chamou um assassino desclassificado de “filho da mãe” – quando a gente ouve a trilha original dizer que ele o chamou (como devia) de “hijo de puta”.
Não tenho paciência com essa mania de purificar a linguagem nossa de cada dia no cinema através da tradução (legendamento ou dublagem). Quando passa uma chanchada brasileira no cinema, a gente só ouve palavrão. Por que uma obra de arte como “El Secreto de sus Ojos” deve ser castrado, emasculado da linguagem forte que ele tem no original?
Poupem-me.
Em São Paulo, 1 de Março de 2010