Bianca – 18 anos
Sempre tive muita sorte. No dizer popular (meio vulgar) de minha mãe e minha tia (irmã de minha mãe), ambas de mui saudosa memória, “nasci com aquilo virado para a Lua”. Ou sempre fui muito abençoado — sem merecer as muitas bênçãos. Em Inglês se diz: “Someone up there must like me”.
Muitas vezes fui vítima de ações de terceiros que pareciam, na ocasião, destruir meus sonhos e meus planos. Mas as coisas sempre viraram de tal maneira que ficaram ainda melhores do que eram antes.
Uma dessas coisas aconteceu em 1966. Em Agosto fui mandado embora do Seminário Presbiteriano de Campinas, por obra e graça do Rev. Boanerges Ribeiro (amigo do meu pai). Eu estudava lá desde 1964. Pareceu, naquele momento, que minha vida ruía. Um ano depois, porém, em Agosto de 1967, eu estava viajando para Pittsburgh, PA, com bolsa completa do Pittsburgh Theological Seminary, para fazer meu Mestrado (sem mesmo ter terminado o meu curso de Teologia aqui). Não havia solicitado admissão lá, nem, muito menos, bolsa. O presente, de certo modo, caiu do céu. Depois da bolsa de Mestrado, ganhei, lá, ao terminar o Mestrado, do próprio seminário, e novamente sem pedir, uma bolsa completa para fazer o Doutorado na University of Pittsburgh. Perdi o título de Bacharel em Teologia do Seminário Presbiteriano de Campinas e ganhei o título de Doctor of Philosophy pela University of Pittsburgh (que, na época, tinha o melhor Departamento de Filosofia dos Estados Unidos). Saí ganhando, e muito.
Outras vezes, tomei decisões conscientes, com base no que eu desejava e, no meu entender, tinha direito de buscar, que, embora eu tenha alcançado o que pleiteava, complicaram sensivelmente a minha vida, dificultando ou mesmo bloqueando meu relacionamento com pessoas que eu amo (minha filha, meus enteados e meus netos do segundo casamento, por exemplo). Mas, novamente, além de conseguir o que desejava (o que me fez o mais feliz dos homens…), o custo ou o preço de obtê-lo foi sensivelmente compensado e, assim, reduzido, pelas coisas que ganhei e que não esperava vir a ter: um novo gosto pela vida, novos parentes, renovado relacionamento com meus próprios irmãos e sobrinhos, novos amigos, e, destaco e sublinho, duas enteadas lindas, que se tornaram, no processo, filhas de verdade, que eu amo tanto quanto as amaria se fossem minhas filhas biológicas: a Bianca e a Priscilla.
Amanhã, 4 de Novembro, a Bianca, fará 18 anos (a festa, linda e alegre, com quase 50 jovens, de várias igrejas [presbiteriana, adventista, batista] foi ontem, aqui em casa). Quando a Paloma e eu começamos a viver juntos a Bianca tinha meros 11 aninhos (e a Priscilla tinha 9). Eram menininhas. Hoje a Bianca virou uma moça e se tornou uma mulher linda, sensível, carinhosa, fazendo o Curso Superior em Gestão Ambiental.
Parabéns, minha filha, pelo seu aniversário amanhã. Escrevo este artigo para que você, pessoalmente, saiba que considero uma sorte muito grande poder conviver com você, com sua irmã e com sua mãe (a quem tive a sorte de conhecer fez dez anos em 26 de agosto deste ano).
Talvez “sorte” não seja a palavra certa ou mais adequada… “Bênção” certamente é uma palavra melhor.
Minha formação é calvinista. Apesar das dificuldades que as doutrinas calvinistas da predestinação, eleição e providência apresentam, sou muito inclinado a, pelo menos, ver um fundo de verdade nessas doutrinas tão controvertidas.
E, calvinisticamente, tenho certeza de que não mereci e continuo a não merecer tudo de bom que veio para o meu caminho, durante minha vida inteira, mas especialmente nestes últimos seis anos e pouco. Mas eu, humilde e arminiamente, aceito esses presentes, esses “dons gratuitos”, essas bênçãos.
Bi, de novo: Feliz Aniversário nos seus 18 anos. Vamos celebrar o ano inteiro, passando, se Deus quiser, por Colónia del Sacramento e Montevideo, no Uruguai, e Ushuaia, na Argentina, neste final de ano e começo do ano vindouro. São cidades que você ama e que eu sei que eu e a mãe vamos amar também (a mãe já ama as duas do Uruguai, porque esteve lá com vocês duas).
(Neste ano de 2014 a Bi teve, durante um pouquinho mais de 10 meses, 17 anos — e eu, durante quase quatro meses, tive, e, Deus querendo, ainda terei, 71 anos: apenas o mesmo número com os algarismos invertidos. Adoro essas coincidências.)
Em São Paulo, 3 de Novembro de 2014