Bill Cosby, comediante e ator americano, negro, rico e famoso, vem dando uma grande contribuição ao debate americano sobre racismo ao declarar, sem rodeios, em vários pronunciamentos, em especial diante de audiências de negros, que não é possível mais deixar a questão de responsabilidade pessoal fora da equação que descreve a pobreza de boa parte dos negros americanos (pobreza, isto é, especialmente em relação à condição econômica de brancos).
O assunto foi amplamente discutido no programa Nightline de 26 de maio último, coordenado por Ted Koppel, na rede americana CBS. Um excelente debate deu seqüência à transmissão de alguns pronunciamentos de Cosby, em especial os feitos no bairro pobre do norte de Filadélfia onde o comediante-ator nasceu.
Cosby vem apontando o fato de que não é mais possível esconder, por exemplo, que cerca de 75% das crianças nascidas fora de uma união estável nos Estados Unidos sejam de mães negras adolescentes. Essas crianças vão crescer em um lar não-convencional, sem pai, vão ficar sem a assistência da mãe, se esta tiver de trabalhar para sustentar a si própria e a criança (embora a maioria das mães nessas condições vivam de esmolas governamentais), e, assim, provavelmente vão engordar as estatísticas não só de desemprego e pobreza, mas, mas, também, de adição a drogas e criminalidade.
Cosby também vem apontando o fato de que as crianças negras nascidas nessa condição mal conseguem falar Inglês decente. Ele chegou afirmar que não consegue entendê-las quando falam – mas que, quando vê como as mães falam, deixou de se surpreender (embora não de ficar irado).
E assim vai.
Alguém tinha de dizer essas coisas – e foi bom que tenha sido Bill Cosby. Se um branco o tivesse dito, seria acusado de racismo, de “culpar a vítima”, etc.
O curioso, e que faz com que a gente tenha alguma esperança, é que a maioria das pessoas negras não-intelectuais entrevistadas por Nightline, concordou 100% com Cosby, como se pode ver no site do jornal Philadelphia Inquirer, em http://www.philly.com/mld/inquirer/news/magazine/daily/11738732.htm.
Intelectuais identificados com o movimento negro, porém, desceram o sarrafo no comediante-ator. Nightline colocou frente a frente, discutindo a questão, um feroz crítico de Cosby, Michael Eric Dyson, professor, negro, da Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia, que recentemente publicou um livro com o título de Is Bill Cosby Right?, e um defensor de Cosby, o intelectual negro Shelby Steele, do Hoover Institute, em Stanford. O debate foi iluminador, digno dos melhores momentos do jornalismo televisivo americano.
Em Campinas, 30 de maio de 2005
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