Quando eu morei nos Estados Unidos, de 1967 a 1974, a United tinha uma propaganda na TV que convidava: "Fly the friendly skies of United". Eu era cliente fiel da PanAm naquela época. Mas a United me herdou, quando a PanAm faliu — porque comprou as rotas da PanAm para a América Latina, entre as quais as do Brasil.
Desde então, muita coisa mudou.
A PanAm voava direto para o Rio de Janeiro, a partir de New York e de Miami. Os passageiros destinados a São Paulo (então de "segunda classe"), tinham de fazer imigração e alfândega no Rio e pegar um vôo especial para São Paulo, que reunia os passageiros destinados a São Paulo dos dois vôos para o Brasil. Se um dos dois vôos atrasava, os passageiros do outro também eram penalizados.
São Paulo, no caso, era Congonhas, porque Guarulhos não existia ainda (thanks, Maluf!). Ou, então, Viracopos, que era usado por algumas companhias internacionais (SwissAir, por exemplo).
O serviço de bordo, porém, era fabuloso. Comida de muito boa qualidade, servida com aparelhagem de hotel de primeira classe, bebidas alcoólicas à vontade, mesmo na Econômica, atendimento impecável, aeromoças jovens e bonitas.
Muita coisa, como eu disse, mudou.
A United, inteligentemente, logo mudou seus vôos para São Paulo, assim que Guarulhos se tornou operacional. Os passageiros do Rio perderam a categoria de brasileiros privilegiados. Agora são eles que precisam esperar os passageiros do outro vôo para concluir sua viagem.
O destino dos vôos da United nos Estados Unidos também mudou. Ela abandonou Miami em favor de Chicago, seu hub principal nos Estados Unidos — e New York em favor de Washington. Há três anos começou a oferecer dois vôos diários de/para Washington, de Outubro a Abril. Este ano o segundo vôo começou a chegar/sair do Galeão, devolvendo aos cariocas parte do prestígio perdido.
O que mudou mais, porém, foi o serviço de bordo. Os passageiros de classe Econômica têm, agora, "uma jantinha" chinfrim, servida em aparelhagem de plástico, com guardanapo de papel. Bebida alcoólica é servida — 5 dólares por dose (inclusive por uma latinha de cerveja). E as aeromoças — agora incluem aeromoços — são uma desgraça em termos de aparência. Aerovelhas seria uma descrição mais apta. Não só velhas: feias, gordas — raramente atenciosas.
Na classe Executiva o serviço continua bom — mas as aeromoças são as mesmas… (Ah, que diferença da Asiana, que tomei de Seoul para cá: aeromoças coreanas jovens, lindas, atenciosas, sorridentes, aparentemente de bem bom a vida…).
Mas preciso justificar o título deste post. A edição asiática do International Herald Tribune de ontem (a versão impressa, que peguei na recepção do hotel, tem data de 4/4 — a edição online diz dia 3/4) traz uma notícia interessante.
Os Estados Unidos e a Europa celebraram um acordo — batizado de "Open Skies" — mediante o qual companhias americanas podem voar para qualquer cidade européia, e mesmo de uma cidade européia para outra, desde que em país diferente, e companhias européias podem voar para qualquer cidade americana — mas não de uma cidade americana para outra.
Por que a assimetria? Por que as companhias americanas agora podem voar, digamos, de Londres para Paris, mas as companhias européias não podem voar, digamos, de New York para San Francisco? Porque, segundo informa o jornal, os países europeus continuam sendo unidades políticas soberanas, não simplesmente estados de uma unidade política soberana, como é o caso dos estados americanos. Só político (ou filósofo) para inventar uma distinção escolástica dessas…
Parece que o acordo é meio precário: tem de ser revisto em 2010, e se qualquer das partes não estiver satisfeita, pode ser rescindido…
O jornal tece considerações interessantes sobre o acordo. Transcrevo o artigo, em Inglês, abaixo, para os interessados em mais detalhes. Embora fosse lógico esperar que tarifas fossem baixar com um acordo desses, parece que não vão, não, porque as companhias aéreas ("as aéreas", como prefere o idiota Manual de Redação da Folha) parecem já estar operando no limite.
"O problema fundamental", diz Anthony Concil, diretor de relações públicas da IATA, em Genebra, "é que os governos se metem demais nos negócios das companhias aéreas. A indústria tinha expectativa de que o acordo pudesse ser um marco decisivo de mudança nessa atitude, permitindo que as companhias aéreas conduzissem seus negócios como qualquer outra empresa. Mas o acordo não chegou a tanto" [citado do artigo transcrito adiante].
É isso. Como dizia o saudoso Ronald Reagan, o governo é sempre parte do problema — não da solução.
E nós, no Brasil, quando é que vamos permitir que "as aéreas" estrangeiras voem de uma cidade para outra no Brasil? A TAP, por exemplo, tem vários vôos para o Nordeste — mas não pode estendê-los para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília… Perdemos nós. Culpado? Nem precisa dizer.
Em Hanoi, 5 de abril de 2008 (já dia 5 também no Brasil)
—–
FREQUENT TRAVELER
‘Open skies’ not likely to mean lower fares
Published: April 3, 2008
The "open skies" pact reached between the United States and European Union – and which came into force on March 30 – should bring many benefits to travelers. Airlines will be free to serve any point-to-point trans-Atlantic route. More competition will bring more choice and hopefully better service. But with soaring fuel prices and economic gloom, and with airlines already offering the cheapest price options for years, don’t hold your breath for lower fares.
The pact does away with the bilateral treaties between the United States and EU states, allowing any European and U.S. airline to fly between any EU city and any city in the United States. But while it will allow any U.S. carrier to fly among European cities (though not city pairs in a country), EU carriers are not allowed to fly between two U.S. cities; the argument being that the United States is a sovereign state, whereas flights between, say, France and Spain are between two countries.
But open skies is a fragile agreement. The present "phase one" will automatically end if there is no agreement between U.S. and EU negotiators on "phase two" of the pact which is due to be in place by 2010. Under the terms of the interim pact, individual EU states have the power to withdraw flying rights to U.S. carriers if they are dissatisfied with progress, especially on the contentious issue of restrictions on airline ownership. Talks on phase two are due to start in May.
Giovanni Bisignani, director general of the International Air Transport Association, has warned governments that protectionist attitudes toward national flag carriers is "killing" the industry. "We have too much capacity; yields are down and we need to consolidate," Bisignani says. "The industry has lost $42 billion since 9/11. The first profit we made last year was $5.6 billion, which is one percent."
But cross-border airline mergers are impossible because countries, such as the United States, ban majority ownership of airlines by foreign firms.
"The fundamental problem is that governments are too involved in the airline business," said Anthony Concil, director of public relations at IATA in Geneva. "The airline industry had hoped that the agreement would be a watershed for change, that it would allow airlines to be run like any other business," he added, "but it clearly stopped short of that.
Could airline alliances be a device to get around the issue of ownership?
"There’s a big difference between partnerships and having a proper business," Concil said. "You only start to act like a real business when you have a common bottom line. There’s no doubt that mergers create better companies; it doesn’t necessarily mean that you give up your national identity; Air France and KLM, for instance. Swiss still serves Switzerland, even though it’s owned by Lufthansa. These entities are among the most profitable in the industry."
London is still the top destination for travelers among European cities, despite its being considered the dirtiest and the most expensive, according to a new annual survey by TripAdvisor of more than 1,100 travelers worldwide. Next most expensive cities were Paris and Rome; and the next dirtiest cities, Paris and Rome. The cleanest cities were Zurich, Copenhagen and Stockholm.
But London was voted best in Europe for public parks and nightlife. Paris, Barcelona and Amsterdam ranked high in both categories. And despite its high prices, London was runner-up to Paris, followed by Rome, for best shopping. Paris is perceived as the most romantic city, followed by Venice, and Rome. Brussels, Zurich and Warsaw are the most boring cities; Paris, London, and Moscow are cities with the "most unfriendly hosts," while Dublin, Amsterdam, and London are cities with the "most friendly and helpful locals."
The survey predicts a good year for European tourism; 65 percent of travelers said they were planning to travel to or within Europe in the next 12 months, nearly the same as last year. And despite the weak dollar, exactly half of U.S. respondents intend to visit Europe again this year.
Switzerland, Austria, Germany, Australia and Spain have the top five "most attractive environments for developing travel and tourism," according to the Travel & Tourism Competitiveness Report 2008, released by the World Economic Forum in Geneva. Britain, the United States, Sweden, Canada and France complete the top-10 list covering 130 countries.