Estou lendo um livro interessante: Total Recall (traduzido para o Português como O Futuro da Memória), de Gordon Bell & Jim Gemmell, ambos da Microsoft Research, publicado no Brasil pela Editora Campus (Rio de Janeiro, 2010). Ele se liga bem ao tópico de meu último post, “O memorioso e o pensoso”.
No post anterior havia citado o Ombudsman da Folha dizendo isto:
“A Internet tem criado vários problemas para a sociedade e para o jornalismo, que precisam ser enfrentados com decisão e presteza em nome do bem comum. Um deles é o dessa memória coletiva inapagável. Um livro recente de Viktor Mayer-Schönberger, da Universidade Nacional de Cingapura, trata do assunto. Mostra como a humanidade passou em poucos anos de uma situação milenar em que o esquecimento era a regra e recordar era o desafio (e para superá-lo criaram-se instrumentos como cantos, poemas, livros, jornais) para a [situação] atual, em que lembrar de quase tudo se tornou o padrão e esquecer é quase impossível.” [Ênfase acrescentada por mim].
O livro que estou lendo diz, na p.3 da edição brasileira:
“E se você jamais esquecesse de coisa alguma e tivesse completo controle sobre o que se lembrar e de quando aconteceram as coisas?”
Mais adiante, na p.8:
“. . . A capacidade de memória digital cresce com mais rapidez do que nossa capacidade de recuperá-la. No passado você precisava ser extremamente seletivo e cuidadoso quanto aos dados que deveriam ser guardados. Você tinha de ser econômico com seus fragmentos eletrônicos de informação – ou bits, como os chamamos. Contudo, a partir de 2000, começou a ser trivial e barato guardar imensa quantidade de dados. O difícil já não é decidir o que guardar, mas como armazenar as informações de modo organizado, como classificá-las, acessá-las e ordená-las de modo que façam sentido.”
Continua, na p.11:
“Considere o fato de que atualmente quase toda transação financeira que você executa – depósito, retirada, pagamentos com cartão de débito ou crédito – é registrada eletronicamente como um único evento”.
Com base no número de seu CPF, já é possível consolidar quase toda a sua vida econômica. Você teria de deliberadamente viver na clandestinidade para que isso não acontecesse com você…
E assim vai. Vale a pena ler. O Prefácio do livro é de Bill Gates.
Em Salto, 20 de Fevereiro de 2010