New Line Learning Academy, Kent (Reino Unido)

Transcrevo, abaixo, o post que publiquei no meu blog de viagem sobre a visita que fiz (acompanhado de umas 300 pessoas), no dia 11 de Janeiro de 2011, a essa magnífica escola. EC.

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A saída para Kent, onde fica a New Line Learning Academy, tinha tudo para ser meio tumultuada. Havia cerca de 400 pessoas querendo fazer a visita e apenas 300 lugares nos ônibus (número limitado pela capacidade de visitação da escola). Os ônibus iam sair às 8h – mas às 7h30 o saguão e a calçada do hotel já estavam superlotados. O dia não havia amanhecido ainda, havia neblina, misturada de um leve chuvisco.

Com meu amigo Ernesto Laval, do Chile, fiquei na calçada – queria pegar um dos primeiros ônibus. A sorte nos bafejou e a porta de entrada do primeiro ônibus (de 53 lugares) a parar diante do hotel ficou literalmente na nossa frente – não podia ficar mais acessível para nós. Resultado: fomos os dois primeiros a subir no primeiro ônibus, que imediatamente lotou e saiu.

Para ir para Kent, que fica a 35-40 milhas de onde estávamos, tivemos de passar por trechos enormes da cidade, onde o trânsito, de manhã, é complicado. Felizmente estávamos no contrafluxo. Mesmo assim a viagem levou cerca de 1h40 (houve um congestionamento também depois que pegamos a autoestrada).

Os edifícios da escola velha não existem mais. Em seu lugar, um magnífico edifício de três andares (para cima – deve haver espaço subterrâneo pelo menos para serviços de limpeza e aquecimento). Havia um lanche nos esperando (fomos, naturalmente, o primeiro ônibus a chegar e atacamos a comida imediatamente – eu, pelo menos, não havia comido nada ainda no dia).

Depois de chegarem os demais ônibus fizemos excursões pela escola – pares de alunos conduzindo grupos de cerca de dez visitantes.

Na concepção arquitetônica da escola, cada grupo etário (vamos chamá-lo de série) tem uma “plaza” – que é um espaço magnífico que pode acomodar um pouco mais de 200 alunos. Essa plaza é dividida em quatro ambientes. Em dois ambientes amplos, de tamanho um pouco diferenciado, podem ser acomodados, respectivamente, 130 e 90 alunos. Esses dois ambientes são totalmente abertos, mas possuem mobiliário variado  que pode ser levado daqui para ali sem maior problema. O ambiente maior possui o que a escola chama de quatro “bananas”: algo parecido com uma arquibancada de quatro ou cinco degraus, em formato de um oitavo de lua, no qual as pessoas podem se sentar. Se necessário, as  quatro bananas podem ser colocadas lado a lado, de modo a formar uma meia lua, que permite que o ambiente seja configurado quase como um auditório. Como o espaço é grande, se a meia lua ficar no fundo ainda cabem cadeiras, bancos, puffs, etc. em número razoável na frente dela.

Tecnologia está por toda a parte. A partir de um pequeno computador se controlam projetores, telas, aparelhos de televisão (cada ambiente tem pelo menos quatro, de tamanho aparentemente de 60 polegadas). Há, em cada espaço dessses, um móvel (realmente móvel) contendo nove TVs Samsung conectadas, de cerca de 50 polegadas cada, formando um enorme telão, em que cada nono da tela pode ser programado separadamente.

Os alunos, naturalmente, têm, cada um deles, um laptop.

No meio dos dois ambientes, que têm a altura correspondente a dois andares, há um ambiente dividido em dois andares. Na parte de baixo há lockers para os alunos (com fechadura digital), onde guardam seus pertences e, na hora de ir para casa, são obrigados a deixar seu laptop, guardado e carregando). Atrás dos lockers há cinco toiletes femininos e cinco masculinos, divididos por uma série de dez pias, cinco de cada lado.

Em cima do ambiente inferior fica o espaço do staff. Cada série tem uma coordenadora pedagógica, apoiada por um grupo de seis professores. Ficam ali o tempo todo junto dos seus alunos.

Fato interessante é que a equipe pedagógica é montada para atender a dois tipos de necessidade dos alunos: necessidades que a escola chama de “pastorais” e necessidades relacionadas à aprendizagem.

As necessidades chamadas de pastorais são necessidades de cunho mais afetivo e emocional. Curiosamente, a escola mantém registro do “coeficiente emocional” dos alunos, e tem uma espécie de “quadrante” para os alunos em que eles podem indicar como está, em um eixo, o seu nível de bem estar, e, em outro eixo, o seu nível de energia. Se um aluno está com nível de energia alto e nível de bem estar baixo, os outros tomam cuidado com ele… Se está com os dois níveis altos, está bem e cheio de energia, e, portanto, possívelmente, disponível para participação em grupos de trabalho e diversos tipos de atividade… Curioso.

O staff mais pastoral tem funções mais ou menos semelhantes à da família. Há um tipo mais mãezona (que não impede que seja exercido por um homem – o importante é o tipo), a quem os alunos recorrem quando estão necessitados de apoio emocional, carinho, cafuné… isto é, quando estão com necessidades do tipo “interior”. Há um tipo do gênero mais paternal, a quem recorrem para discutir projeto de vida, dúvidas sobre profissões e carreiras, coisas (digamos) do mundo exterior. E há um tipo mais do gênero irmão mais velho (tipo professor jovem de educação física ou de dança), a quem recorrem quando querem uma atividade diferente, um jogo ativo, um brinquedo animado, ou mesmo um conselho sobre um assunto que não gostariam de abordar com a “mãe” ou o “pai”.

O staff mais voltado para a aprendizagem está à disposição para apoiar os alunos em suas dificuldades de aprendizagem, esclarecer questões contidas em material de leitura ou em tarefas (assignments) atribuídos a eles, etc.

Todo o staff, porém, sob a coordenação do coordenador pedagógico da série, é responsável por encaminhar qualquer tipo de problema e por atender a qualquer tipo de necessidade de aprendizagem dos alunos, independentemente de sua função mais especializada na equipe. Embora o staff tenha uma sala no espaço superior que separa os dois ambientes em que ficam os alunos, do qual podem supervisioná-los, a maior parte do tempo seus membros estão no meio dos alunos, que se esparramam pelos dois ambientes dedicados às suas atividades. Nesses ambientes eles andam descalços (no Inverno, de meia), e se esparramam pelas bananas, pelos puffs, deitados no chão (carpete de muito boa qualidade), pelas mesas de trabalho, usando os computadores, vendo vídeos, etc. – ou conversando com o staff.

Além das plazas, há enormes salas especializadas de artes plásticas, música, dança, bem como (naturalmente) laboratórios de ciências, biblioteca, etc. Nas salas de música há pianos, guitarras, baterias, e outros instrumentos. As salas de dança são como academias profissionais: todas pintadas de preto, com enormes espelhos ao redor da sala inteira, etc. Professores especializados apóiam essas atividades dos alunos. Vi uma aula em que meninas adolescentes aprendiam a dançar rock clássico, e fiquei maravilhado com a qualidade de seu desempenho.

Há também uma enorme quadra coberta, na qual cabem quatro quadras de basquete. Vi vários grupos de alunos, meninos e meninas, aprendendo a jogar críquete.

Fora, gramados enormes, campos de futebol e quadras para os demais esportes. Não vi piscina, mas acho difícil imaginar que não haja.

Há também uma ala grande para alunos com necessidades especiais, perfeitamente equipada para alunos com diferentes tipos de deficiência.

No centro do prédio há um enorme refeitório, ao lado de uma cozinha industrial. É ali que os alunos almoçam – porque sua permanência na escola é, naturalmente, em período integral. Ao lado do refeitório há uma lojinha de café expresso.

A comida é exageradamente sadia. Os alunos não podem comer salgadinhos, doces, não podem acrescentar sal, pimenta, ketchup, mostarda e outros condimentos à comida que lhes é fornecida. Há razoável nível de escolha no que eles podem comer. Para cada item há um preço (bastante subsidiado), o que significa que os alunos pagam pelo que comem.

Vou ver se localizo o endereço do site que especifica a política alimentar do governo britânico para as escolas. É curioso.

[Acrescentado depois. Eis o site: http://www.schoolfoodtrust.org.uk/]

Enfim, é essa minha descrição da escola…

Enquanto estávamos lá, houve palestras e oficinas. Coordenei duas oficinas (a mesma oficina repetida duas vezes em horários naturalmente diferentes) sobre o tema “Ambientes de Aprendizagem”. Participaram delas uma professora da New Line Learning Academy e o diretor da Silverton Primary School de Melbourne, Australia. Se vocês imaginam que ficam encantado com oa New Line Learning Academy, vocês não viram nada: o meu encantamento com a Silverton foi muito maior. Mas, depois, falarei em mais detalhe dessa escola em meu blog principal (http://liberalspace.net).

Saímos de lá por volta das 15h30, chegando ao hotel por volta das 17h.

É isso.

Em Londres, 13 de Janeiro de 2011.

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