Diz notícia na Folha de S. Paulo de hoje, 29 de Janeiro de 2011:
“O site de vendas Amazon anunciou que as vendas de livros para o leitor digital Kindle já superam as das publicações tradicionais em papel. Segundo um comunicado do site, desde o início de 2011, para cada cem livros em papel, são vendidos 115 para o Kindle.”
Diz matéria assinada por Josélia Aguiar no Painel das Letras da Folha de hoje:
“O futuro quando?
Nos EUA, onde é maior a adesão ao livro digital, 2011 começa com as perguntas de antes: quando livrarias de tijolos vão fechar e se grandes autores publicarão sem intermediários, explica à Folha Mike Shatzkin, organizador do Digital Book World. O evento, realizado na última semana em Nova York, debate vendas, enquanto o Tools of Change for Publishing, em fevereiro e similar em importância, se concentra na produção. No mundo, as dúvidas são: com que rapidez o livro eletrônico se disseminará e como o varejo local resistirá à hegemonia americana. Shatzkin estima entre 10% e 15% o percentual de americanos que leem livros digitais. Em outros países, não supera 1%.
Os números ainda são ‘medíocres’ por aqui, afirma Luciana Villas-Boas, diretora da Record: ‘Vendemos até agora 37 exemplares eletrônicos’. Na Objetiva, que ofereceu mais títulos, o diretor Roberto Feith diz que desde novembro foram 663 exemplares vendidos: ‘O aumento foi de 252% em um mês, depois do lançamento do iPad e do Galaxy no país’.
(joselia.aguiar@grupofolha.com.br)”
o O o
Tenho o meu Kindle desde 12 de Junho do ano passado. Já acumulei nele mais de 250 livros eletrônicos e um sem fim de revistas: assino Time (semanal), Newsweek (semanal), Bloomberg Business Week (quinzenal), e Reason (mensal). Sou fã incondicional do Kindle – e da Amazon, na minha opinião uma empresa mais criativa do que o Google. A Amazon é dona também do site International Movie Data Base (IMDB), um dos meus sites favoritos na Internet, e do Audible, um site para a venda de audio livros (algo de que também sou fã).
Tenho uma biblioteca em papel de mais de 30 mil volumes. Mas aderi de coração aos livros eletrônicos. É incomporável poder entrar num avião para um voo de 15 horas com 250 livros na mochila… Quando saio por um tempo maior, levo o Kindle e o iPad. O iPad é melhor do que o Kindle para ler revistas (como a VEJA), cheia de fotos e gráficos. A edição para o iPad da VEJA contém clips de audio e filmes. Imbatível. Pena que a Abril tente forçar os clientes a fazer, junto com a assinatura para a VEJA em iPad, uma assinatura para a VEJA em papel.
Editoras de livros convencionais, se cuidem.
Houve uma época em que um empresário americano fez fortuna vendendo gelo para refrigerar alimentos e ambientes. Não havia refrigeradores e aparelhos de ar condicionado naquela época. Havia, para refrigerar alimentos, a “ice box”, uma caixa vertical com dois compartimentos, parecida com uma mini-geladeira duplex. Enchia-se de gelo o compartimento superior, equivalente ao congelador. Colocavam-se alimentos no compartimento inferior. Enquanto o gelo durava, o alimento se conservava. Para refrigerar ambientes, havia um ventilador cujo fluxo de ar passava por uma caixa onde havia água refrigerada a gelo. O ar que saía era fresco. Não frio de todo, mas fresco. Convivi, na minha infância, com a “ice box”. Tínhamos uma em nossa casa na Rua Particular, 10, em Santo André. Convivi com o ventilador refrigerado a ar quando estudei nos Estados Unidos e morava na 6001 Saint Marie Street, em Pittsburgh.
Mas voltemos ao nosso empresário. O negócio dele era buscar gelo para alimentar essas máquinas. Ele ia buscar gelo – enormes blocos – no Polo Norte. Especializou-se em técnicas sofisticadas para cortar grandes blocos de gelo, em transporte que preservava a maior parte dos blocos de gelo, em técnicas sofisticadas para particionar o gelo e vendê-lo no varejo. Ficou biliardário. Chegou a exportar blocos de gelo para a Índia. Sua tecnologia era tão sofisticada que o gelo, indo de navio, ainda chegava em tamanho suficiente para ser vendido no varejo na Índia.
Mas, daí, o ambiente tecnológico mudou: surgiram as geladeiras e os aparelhos de ar condicionado que conhecemos hoje. Nosso empresário, em vez de investir nesse novo negócio, tentou proteger o negócio que já tinha contra a nova concorrência: aprimorou as técnicas de cortar, remover, transportar, particionar e comercializar gelo. Não adiantou. Em pouco tempo estava falido.
Aquele empresário via seu negócio como o comércio de gelo – não o comércio de refrigeração. Estrepou-se. Pagou pelo erro com sua fortuna.
Muitas editoras de hoje vêem o seu negócio como sendo vender livros, revistas, e jornais em papel – e anunciam: o livro impresso, a revista impressa, o jornal impresso nunca vão acabar!!! Tudo bem, botam na Internet uma versão virtual, mas não apostam nela: continuam a investir no negócio antigo. Relutam em deixar que alguém assine uma revista virtual apenas: se assinar a revista em papel, ganha, por um valor a mais, acesso à revista virtual…
Vão quebrar.
É questão de tempo.
Em São Paulo, 29 de Janeiro de 2011
Concordo que a forte tendência é que o livro (revistas e afins) impresso seja significativamente reduzido, se não praticamente eliminado. Mesmo porque existem as questões ecológicas que tendem a pressionar cada vez mais. Mas, calma… Ainda estamos, no Brasil, em uma fase inicial de transição. Ainda há muito o que se avançar em termos de acesso à Internet. Não exagere nas sentenças proféticas…
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Profetas com um pouco de sabedoria, amor meu, em geral predizem o evento mas hesitam em fornecer datas para suas predições. Não falei que seria para já – muito menos aqui no nosso Brasil pobre mas metido a besta. Falava em tese, imaginando, especialmente, a situação nos EUA, no Canadá, na Europa e na Ásia rica — e, naturalmente, e em bolsões do resto do mundo, como, por exemplo, pedaços da Chácara Klabin… Na nossa casa ali, se já não temos, rapidamente teremos mais e-books do que paperbooks… 🙂 No sítio, quando der para levar a minha biblioteca para lá, a questão será diferente, é verdade. Mas pensava no futuro, não no passado. Vivemos, como todo mundo sempre viveu, numa fase de transição entre o passado e o futuro. Mas o futuro chega… Um beijo.
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