Coréia – Miscelânea

Prometi, quando escrevi, há dias, uma pequena mensagem dizendo que estava indo para a Coréia, que nos dias seguintes comentaria alguns aspectos da vida lá. Acabei não fazendo isso. Tento fazê-lo agora, que já estou no aeroporto O’Hare, em Chicago, a caminho de casa.

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Estava pensando, no avião que me levou de Seoul até Tokyo, depois de ter usufruído daquela maravilha que é o aeroporto de Incheon, em Seoul, que somos muito apressados ao desejar resultados de algumas ações — com a intervenção dos Estados Unidos no Irak (ou mesmo a intervenção americana no Vietnam).

No final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética haviam ocupado a Coréia – ocupação necessária para derrotar o Japão, que a havia ocupado anteriormente. O Paralelo 38 ficou sendo a linha divisória entre a ocupação americana e a soviética.

Em 1949 a área que veio a se tornar a Coréia do Sul promoveu eleições – e o presidente eleito, Singman Rhee, entabulou negociações com a área que veio a se tornar a Coréia do Norte com vistas à unificação do país (que era unificado desde o século VII). Evidentemente a intenção de Rhee era unificar o país em um regime democrático, ou pelo menos amigo dos Estados Unidos.

Em meados de 1949, porém, o líder norte-coreano Kim-II Sung (Secretário Geral do Partido Comunista) pressionou Stalin para ajudá-lo a unificar o país debaixo do regime comunista. Nos meses seguintes, a Coréia do Norte transformou suas forças armadas numa forte máquina de guerra.

Os ânimos foram se exaltando de um lado e de outro e em Abril de 1950 Stalin autorizou a Coréia do Norte a atacar a do Sul.

As tropas da Coréia do Norte tiveram grande sucesso inicialmente – até que os Estados Unidos, com a aprovação da ONU, intervieram na guerra civil. Aos poucos o controle da guerra passou para as mãos dos americanos, que não só rechaçaram os norte-coreanos que haviam invadido a Coréia do Sul para trás do Paralelo 38 como invadiram o território da Coréia do Norte.

Com a invasão da Coréia do Norte, a China entrou na guerra, do lado dos coreanos do norte. Com a intervenção da China, as forças americanas recuaram até o Paralelo 38.

O fim negociado da guerra deixou as duas Coréias divididas — mas salvou a do Sul de se tornar comunista, como fatalmente aconteceria se a intervenção americana na guerra não houvesse acontecido.

Na época, houve muita crítica da ação americana — como sempre há, sempre que os Estados Unidos agem militarmente. Mais de 50 anos depois, porém, ao se comparar as duas Coréias, não há como não concluir que a ação americana foi extremamente benéfica para a Coréia do Sul — que se desenvolveu econômica, social e culturalmente, sendo, hoje, um país do primeiro mundo. A Coréia do Norte, em contrapartida, atrasadíssima do ponto de vista econômico, social e cultural, é, com Cuba, o último bastião do Comunismo. É verdade que tem a bomba atômica, porque os comunistas irresponsavelmente lhe passaram a tecnologia. Mas é só.

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Fiquei hospedado em um dos hotéis Intercontinentais de Soul — o COEX (os dois ficam pertinhos um do outro). Fiquei abismado com o preço das coisas. No primeiro dia fui tomar um café no lobby e o preço do café — café preto, numa xícara média — foi de W 14.000: o equivalente a 15 dólares americanos (1 dólar = W 900). No frigobar do quarto, uma cerveja de lata Budweiser ou Hanneken custava W 9.500 — no Seven Eleven que ficava no Mall debaixo do hotel a mesma cerveja podia ser comprada por W 2.000. Provavelmente, fora do Mall era ainda mais barata. Uma coca em lata custava a W 7500 no frigobar, W 1.500 no Seven Eleven. Uma caixinha pequena de batatinhas fritas Pringle, W 5000 no hotel, W 1.200 no Seven Eleven.

Um café da manhã completo, no hotel, ficava em W 45.000 — ou seja, nada menos do que 50 dólares americanos. Acho inacreditável que os hotéis cobrem esses preços e os hóspedes pagam — quando com um esforço de nada podem ir ao Mall e comprar as coisas por cerca de um quinto do preço do hotel.

Apesar de ter minhas despesas custeadas pelos organizadores, recuso-me a tomar café da manhã no hotel ou a usar o frigobar. Saio, ando um pouco, e tomo café na rua ou compro o que quero consumir num Seven Eleven qualquer. Pago com o meu dinheiro, mas não contribuo para a manutenção de uma estrutura de preços absurda.

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Andei bastante de metrô pela cidade. O sistema tem mais de quinze linhas, e cada linha tem umas 40 estações em média. Há linhas do metrô que vão até o aeroporto Incheon, que fica a 70 km do centro da cidade.

Andei em geral entre 9h e 16h — os trens sempre cheios. As estações não são tão bonitas, mas são bem cuidadas. O mesmo pode ser dito dos trens. A sinalização é perfeita. Consegui, olhando o mapa do metrô, decidir que linha deveria tomar, onde deveria fazer baldeação, etc. Cada linha tem um número e uma cor e as estações de cada linha têm nome mas também têm número, o que facilita muito as coisas, especialmente para o turista. Em cada estação está pintado, em letras grandes, o número da estação e, com letras menores, o número da estação seguinte, com uma flecha na direção que toma o trem que passa ali na plataforma. O hotel ficava na Linha 2, Verde, na estação 219 (Sumseong). Para ir ao TechnoMart era fácil: o Shopping Eletrônico fica na mesma linha, na estação 214. Parece pertinho. Da janela do meu quarto conseguia ver o prédio. Um dia em que o sol estava bonito resolvi ir a pé. Foi a maior fria. Levei uma hora e vinte minutos debaixo de um frio de gelar. Os problemas que dificultam a gente andar a pé (só havia eu andando a pé) são dois. Primeiro, o rio, enorme. Eu tinha de cruzá-lo, e tive de fazê-lo numa passagem para pedestre numa ponte longérrima e de acesso quase impossível para pedestres. Foi com muito custo que descobri como chegar ao acesso para a ponte, de dentro de um parque que fica na beira do rio. Segundo, as vias expressas que cortam a cidade, e há inúmeras, são bloqueadas com cercas e, por conseguinte, impossíveis de transpor por pedestres. Você tem de achar lugares em que pode passar por baixo delas, mas para isso tem de dar voltas imprevisíveis. Enfim, vivendo e aprendendo.

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Nas lojas mais do centro sempre se encontra alguém que fala Inglês com alguma fluência — embora seja bem mais difícil na Coréia do que em Taiwan. Cingapura fala Inglês e Hong Kong falava Inglês até 1997. O governo coreano está enfatizando de todas as formas o aprendizado do Inglês. Estive numa mega-livraria e fiquei impressionado com a quantidade de livros de referência sobre o Inglês (Dicionários, Gramáticas, etc.) e de livros que testam o conhecimento de Inglês (TOEFL e outros). Há prateleiras e prateleiras de histórias infantis em Inglês, de material voltado para o Ensino Fundamental (livros texto) em Inglês, material de multimídia, etc.

Se o país continuar nesse ritmo, logo vencerá esses desafio, porque, como dizia, no centro ainda se encontra gente que fala Inglês (em geral mal, mas com alguma fluência), mas fora do centro… Na sexta-feira fui até um outro local que é o paraíso da eletrônica: Yongsam, chamada de o Supermercado da Eletrônica. Precis
ei pegar três linhas do metrô para chegar lá. De metrô, levei uma hora e 15 para chegar lá. Lá, porém, me vi perdido. Ninguém falava Inglês. Há muitas coisas interessantes, mas é impossível conversar com eles. Se você faz o sinal de preço eles escrevem o preço na máquina de calcular — mas o diálogo acaba aí.

Na hora de voltar, passei apertado. Nas minhas outras andanças pelo metrô, sempre tomei o trem ou baldeei em estações com no máximo duas linhas. Yongsam, porém, é um entroncamento ferroviário. Por ali passam trens normais, trens de subúrbio, e as linhas do metrô. Por causa da viariedade de opções, há mais de doze plataformas — que não estão pintadas com as cores das linhas do metrô, porque muitas delas nem são do metrô… Minha salvação foi uma mocinha que, falando muito mal, que me disse que deveria ir para a plataforma quatro — eu estava na um. Fui até lá. Não era na quatro, era na cinco — mas a cinco era simplesmente do outro lado. Quando vi o nome da linhado metrô e a identificação da direção em que o trem iria, fiquei aliviado. Já estava me preparando para sair da estação e pegar um taxi. Neste caso, carrego sempre um cartão de visitas do hotel, em Inglês e na lingua local. Mostro o cartão e aponto para o nome do hotel. Funciona.

Em Chicago, 26 de Janeiro de 2008.

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