Estou relando alguns relatos de projetos de aprendizagem dos alunos da Lumiar, e, a partir de um grupo de relatos, me surgiu a questão que dá titulo a este post. O que é mais importante estudar na escola: a Lua da ciência ou a lua do imaginário?
Por detrás dessa pergunta relativamente simples está o famoso confronto entre "as duas culturas": a científica e a literária. Antigamente não havia dúvida: a cultura literária (também chamada de humanística, ou, de forma equivocada, liberal) mandava na educação. Depois, com a presença cada vez mais forte da ciência na vida diária, com a proliferação da tecnologia, que dela depende, a cultura científica veio a ser considerada mais importante do que a literária (freqüentemente rotulada, de forma pejorativa, de bacharelesca, livresca, ornamental, etc.).
Os vestibulares das universidades hoje refletem esse razoável desprestígio da cultura literária — que valoriza o imaginário e, não raro, coloca em xeque o realismo científico. Carreiras científicas e tecnológicas são procuradas às vezes à razão de 50 alunos por vaga, em universidades e cursos de prestígio. Carreiras em letras e literatura, para não falar em filosofia e história, quase ficam sem candidatos suficientes, mesmo nas melhores universidades.
Longe de mim condenar os que buscam carreiras científicas e tecnológicas prestigiadas. Só quero fazer o lembrete de que a ciência é meio — e os fins serão dados por caminhos que não são científicos: por nossa filosofia, por nossos valores, por nossa imaginação. Einstein costumava dizer que vivemos em uma época de meios cada vez mais perfeitos e fins cada vez mais confusos. Estava certo ele. E a confusão nos fins ocorre porque a ciência quase que monopolizou a atenção de nossas escolas e universidades.
É preciso equilibrar as coisas. É importante estudar a Lua da ciência, o satélite da Terra, ao qual possivelmente poderemos todos viajar um dia. Mas também é importante entender por que a Lua atiça a nossa imaginação, e, especialmente quando cheia, nos faz sonhar, suspirar, e desejar a pessoa amada — ou, então sonhar e suspirar no desejo de ter uma pessoa amada…
Em Salto (lugar de Lua Cheia bonita), 3 de Agosto de 2008