Nunca o mundo experimentou uma onda de mudanças tão ampla, profunda, radical, duradoura e acelerada como nos sessenta e cinco anos decorridos desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Essas mudanças – sociais, culturais, tecnológicas, econômicas – têm um grande impacto sobre a educação. Elas afetam:
a) O contexto mais amplo em que histórico e social em que a educação acontece
b) Os ambientes específicos em que a aprendizagem ocorre
c) Os materiais e recursos que as pessoas usam para aprender
d) O perfil dos alunos que chegam à escola
No entanto, os sistemas e as escolares não parecem estar levando muito a sério o impacto dessas mudanças sobre a educação, em geral, e a prática escolar, em particular.
Em última instância, há dois tipos de mudanças:
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Mudanças incrementais, parciais, menores, lentas, superficiais, de longo prazo (graduais)
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Mudanças sistêmicas, radicais, maiores, rápidas, profundas, de curto prazo (abruptas)
O que separa e diferencia um tipo de mudança do outro é o grau de inovação presente na mudança.
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Mudanças pouco inovadoras, que ficam perto da prática atual, reforçam o paradigma vigente
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Mudanças muito inovadoras, que se distanciam bastante da prática atual, tendem a subverter e eventualmente a destruir o paradigma vigente
Nicholas Negroponte, o conhecido ex-diretor do Media Lab do MIT, e a mente por detrás do programa de Um Laptop por Criança (aqui chamado de UCA), disse uma vez que os países cujos sistemas educacionais são bem considerados nas avaliações internacionais (Finlândia, Coréia, Cingapura, Taiwan, etc.) provavelmente serão os menos indicados para promover mudanças muito inovadoras na educação – porque têm receio de assumir os riscos envolvidos em processos de mudanças sistêmicas e radicais. Têm muito a perder. Segundo Negroponte, são países como o Brasil, que têm ficado nos últimos lugares das avaliações internacionais da educação, que devem aproveitar a oportunidade para “leapfrog”: saltar estágios, pulando para estágios mais avançados, através da alavanca da tecnologia, sem precisar passar pelos mesmos estágios que os países hoje desenvolvidos passaram.
Mas isso requer visão e coragem.
Para promover mudanças sistêmicas e radicais na escola é preciso deixar de tentar soluções parciais e buscar soluções globais, que transformem os seguintes aspectos:
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A Visão da Educação e da Aprendizagem e a Estratégia Pedagógica (para que, embora informada pelo passado, seja focada no futuro)
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A Liderança (para que seja iluminada e inspiradora em nível sistêmico e local)
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Os Profissionais da Educação (para que sejam engajados e bem capacitados)
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Os Ambientes de Aprendizagem (para que integrem, de forma natural e “sem costuras”, o formal e o não formal, o presencial e virtual, de forma rica, diversificada e flexível)
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Os Recursos de Aprendizagem (para que sejam desafiadores, eficazes e eficientes)
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A Comunidade (para que seja envolvida e apoiadora, em nível local, regional, nacional e até mesmo global)
Todas essas mudanças devem ocorrer mantendo o foco nos alunos, para que possam ser aprendentes motivados, ativos, interativos e colaborativos, com amplo acesso a todos os elementos do sistema.
Na palestra me concentro no primeiro desses aspectos – embora ciente que mudar apenas esse aspecto provavelmente não vá trazer resultados significativos.
A mudança da Visão da Educação e da Aprendizagem e da Estratégia Pedagógica deve abranger os seguintes aspectos:
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Mudança do Conceito de Educação (incluindo a mudança do objetivo educacional para o desenvolvimento humano e dos resultados esperados da educação para competência, autonomia e responsabilidade)
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Mudança do Conceito de Aprendizagem (foco em construção de capacidades mais do que em absorção de informações)
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Mudança no Entendimento de Currículo (o que os alunos devem aprender?), Metodologia de Aprendizagem (como vão aprender?) e Forma de Avaliação (como aferir se de fato aprenderam?) para um Currículo Baseado em Competências, uma Metodologia de Aprendizagem Baseada em Projetos e uma Avaliação Baseada em Observação, Interação e Desafios.
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Interessado? Contate-me, por favor.
São Paulo, 22 de Março de 2010
Eduardo Chaves
echaves@edutec.net
Apreciei muito este texto que inclusive resume bem o que foi discutido na palestra apresentada por Eduardo Chaves no último dia 19/03 na abertura do Fórum Microsoft Educadores Inovadores em Rede.Concordo plenamente com as mudanças aqui propostas para a Visão da Educação, da Aprendizagem e da Estratégia Pedagógica, sempre focando o nosso objetivo, o aluno. Porém gostaria de ressaltar que entre as ferramentas necessárias para estas mudanças, além da própria tecnologia está a ferramenta humana, o professor. Não podemos esquecer que cabe a ele desenvolver e aplicar as tecnologias bem como seguir os parâmetros educacionais de maneira coerente e para tanto, é necessário capacitação e valorização do seu trabalho.
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