Não estou entre aqueles que costumam falar magistralmente sobre um país que acabou de conhecer. Estou no Qatar desde o dia 6, segunda-feira, e volto para o Brasil amanhã, sexta-feira, dia 10. Mas há alguns fatos e algumas impressões que posso desde já registrar, e que justificam a pergunta colocada no título.
FATOS (buscados na Wikipedia):
Fuso Horário
Brasil: GMT -3
Qatar: GMT +3
Área
Brasil: 8.514.877 km2
Qatar: 11.437 km2
População
Brasil: cerca de 200 milhões (arredondando um pouco para cima)
Qatar: cerca de 2 milhões (arredondando muito para cima)
Renda per Capita
Brasil: USD 10.513
Qatar: USD 83.840.513 (segunda do mundo, atrás apenas de Liechtenstein)
Idade como unidade política autônoma
Brasil: desde 1822
Qatar: três datas celebradas – o Dia Nacional, 18/12/1878, o dia da Independência do Império Otomano (1913) e o dia do término de um tratado especial com o Reino Unido (3 de Setembro de 1971). Esta última é a data da real autonomia – menos de 30 anos atrás.
Regime Político
Brasil: República federativa constitucionalista, presidencialista
Qatar: Monarquia (Emirado), parlamentar
Religião Oficial
Brasil: Nenhuma
Qatar: Muçulmana
Pico mais elevado
Brasil: Neblina: 2.994m
Qatar: Qurayn Abu al Bawl, 103m
Podemos deixar os fatos aí. Não só somos muito maiores em território e população, somos muito mais “altos” também, como o último indicador comprova de forma incontestável… Mas levamos uma surra em renda per capita.
Agora algumas impressões que saltam aos olhos.
Trânsito
Li em algum lugar que Qatar possui as multas de trânsito mais altas do mundo para excesso de velocidade e outras violações com o veículo em movimento. Isso explica o trânsito mais ordeiro e monótono que já vi na vida. Da janela do hotel (Möwenpick) vejo uma avenida de duas mãos, três faixas de trânsito em cada mão, separadas as mãos por uma mediana, que é cruzada por outra avenida com exatamente as mesmas características. Algo mais ou menos equivalente com o cruzamento da Avenida Brasil com a Avenida 9 de Julho em São Paulo. Aqui não há farol. Há simplesmente um balão sem indicação de Pare ou de Preferência. E os carros diminuem a velocidade, olham para a esquerda e entram no balão, de forma disciplinada. Uma coisa inimaginável em São Paulo. É verdade que o número de carros aqui é bem menor – mas a cidade também é muito menor.
Hábitos Sociais
A piscina do hotel tem horas especiais para senhoras – porque não é costume, aqui, mulheres e homens se banharem juntos em público. No hotel há duas pequenas mesquitas: uma para homens, outra para mulheres. A venda e o consumo público de bebida alcoólica são proibidos (embora tenha sido informado que os grandes hotéis abrem uma exceção em uma sala privada se se trata de um grupo razoável de estrangeiros).
Relações Sociais
A minoria árabe (cerca de 25%) manda no país. Os restantes 75% são mão de obra importada. Li – mas não posso garantir a veracidade – que essa mão de obra importada precisa ter um sponsor para entrar no país e esse sponsor fica como se fosse senhor de um escravo, podendo impedi-lo de mudar de emprego, voltar para o país de origem, etc. No entanto, a situação econômica e as condições de vida aqui são tão boas que esses verdadeiros escravos ficam satisfeitos com seu destino. Conversei com vários deles. O rapaz que limpa meu quarto – curioso, só homens trabalham como camareiros — é filipino e está aqui há dois anos. Fala inglês perfeito, é extremamente cortês e executa seu trabalho com perfeição e eficiência. Perguntei se estava feliz aqui. Olhou-me como que surpreso com a pergunta: “Of course, sir! Very happy.”. Uma amiga australiana minha que está dando uma formação para pessoal de escolas concluiu que uma professora era muito mais preparada e competente para ser diretora de uma escola do que a diretora que estava no cargo. Num momento de intervalo perguntou à responsável pela área do Ministério da Educação por que essa professora não era a diretora: “She is not a qatari, ma’m”, foi a resposta. Isso significa que, a partir de um certo nível na hierarquia das organizações, os cargos estão reservados para a minoria qatari. Os outros, como estão aqui em condições precárias, se beneficiando de uma situação econômica que não encontram em seus próprios países, não protestam.
Relação com a Autoridade
Ontem fiquei comovido no jantar de gala que contou com a presença de Her Highness Sheikha Mozah Bint Nasser Al-Missned, segunda mulher do Emir (51 anos, sete filhos, mas com uma aparência fantástica – vejam o site oficial dela: http://www.mozahbintnasser.qa/pages/default.aspx). O que me comoveu foi o fato de que uma cantora famosa aqui do país (preciso pegar o nome certo, depois divulgo), que cantou acompanhada Orquestra Filarmônica do Qatar, antes de iniciar seu contexto, disse o seguinte, com a voz embargada de emoção e os olhos com lágrimas que por pouco não transbordavam:
“Your Highness. Two weeks ago I had the privilege and highest honor to sing for His Highness Sheikh Hamad bin Khalifa Al Thani. Today, two weeks after, I have the privilege and honor to sing for Your Highness. My happiness is now complete.”
O que me comoveu nessa história foi que tudo indicava que a emoção da cantora era genuína e que suas palavras representavam a mais pura verdade. Cantar para o Emir e a Sua Princesa era, para ela, a mais subida honra que podia caber a ela, uma cantora.
Ninguém aqui se refere ao Emir e à Princesa a não ser como His Highness… and Her Highness… No Brasil, é Lulla e Dona Marisa.
O Qatar é um país pequeno. Fico imaginando que o Lulla pensa que ser Emir de um paisinho de menos de dois milhões de pessoas é equivalente a ser prefeito de Belo Horizonte. Certamente ele, Lulla, se acha muito mais importante. Mas o porte, a postura e a dignidade dos governantes aqui dá inveja. O ritual do cargo é prestigiado e respeitado. No plebiscito que tivemos no Brasil há tempos votei a favor da monarquia, porque achava (e continuo achando) que o Brasil, país informal demais, a ponto de ser às vezes esculachado, precisa de um pouco de formalidade, um pouco de ritual, um pouco de liturgia no trato da coisa pública.
A Princesa é a presidente da Qatar Foundation que promoveu o World Innovation Summit for Education, WISE, ora no seu segundo ano. O Qatar, com esse evento, pretende se afirmar como a Davos da Educação. Há mil e duzentos educadores, políticos, pessoal de empresas, de NGOs e de mídia aqui. Vou listar alguns dos órgãos de mídia que têm repórteres e fotógrafos aqui, para dar uma dimensão (há mais de 150 pessoas da mídia, com uma infraestrutura fantástica no Centro de Convenções do Hotel Sheraton):
Euronews (mais de dez)
Le Monde Education
L’Express
The Times (UK)
The Times Higher Education (UK)
The Times Education Supplement (UK)
The New York Times
International Herald Tribune
CNN
RAI
Brasil Econômico
O Estado de S. Paulo
Como dizia, a Princesa é a principal articuladora dessa projeção do Qatar na área cultural, com ênfase na educação. Nos oito anos do governo Lulla, o que fez essa não-entidade que é Dona Marisa, além de plásticas no rosto (e, possivelmente, no resto do corpo).
Não ouvi o Emir falar. Mas deve falar pelo menos tão bem quanto sua mulher, que tive o privilégio de ver e ouvir ontem à noite. E não deve aparecer em palanques com os olhos vermelhos e esbugalhados alardeando quão bom ele é e quão ruim é todo o resto.
Precisava dizer isso. Como disse, ao todo vou ficar aqui apenas três dias inteiros, não contando o dia da chegada e da saída. Senti uma enorme falta de um vinhozinho às refeições. Mas a experiência me provocou essas reflexões. Seria o Qatar o anti-Brasil? O país pequeno que consegue se projetar mundialmente em uma área enquanto o Brasil fica tentando obter respeito em várias, sem conseguir?
Para terminar, mais uma reação pessoal. Num jantar, anteontem à noite, no Tajine Restaurant, um restaurante marroquino, sentei-me ao lado de um amigo meu, educador russo, que, como eu, faz parte de Education Impact. Ele me perguntou: “Você gostaria de viver num país como este?” A pergunta me pegou de surpresa, mas a resposta saiu mais ou menos espontânea e clara: “Se for preciso, vivo; se puder escolher, prefiro outro”. Depois fiquei pensando sobre minha resposta. Estou com 67 anos, dos quais 60 vividos no Brasil (os outros 7 vivi nos Estados Unidos, de 1967 a 1974). Este jeito de ser meio bagunçado, bastante informal, de certo modo entrou no meu DNA, durante esse tempo. Acho que, a essas alturas, não me acostumaria muito facilmente aqui não – embora me adapte bastante bem a circunstâncias diferentes. Mas quando olho ao que esse jeito de ser tem causado ao Brasil, não tenho dúvida de que ele, no global, é nefasto. Ter no malandro o seu tipo nacional é divertido quando a gente assiste a um filme, não quando a gente vê a performance ao vivo do Presidente.
Em Doha, 9 de Dezembro de 2010
vamos ser realistas..o catar só tem areia, calor, seca e petroleo..
e quando o petroleo acabar por la, vc não vai querer nem passar ferias por la, dirá morar lá..
vai voltar a ser o pedaço de terra seca de antes, pior que o sertão do ne que ao menos chove bem mais..
o brasil tem um bom sitio geografico, mas é muito mal habitado qualitativamente falando..
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realmente ela é bonita pra uma arabe, ja ele parece o saddam hussein, só que o saddam tinha uma aparencia melhor quando jovem..
agora vc achar que esse coronelismo de lá é legal..?putz!..é pior que o sertão do ne em 1900..
não a toa os cangaceiros surgiram nesse periodo..
ainda bem que a imagem do país depende mais dela que do marido..jeje
digamos que ela é mais apresentavel..
agora retornemos aos escravos filipinos e cia..claro que é exagero prender eles la e tal, agora pior ainda é como os invasores dos países islamicos tipo sul das filipinas e cia tratam o ocidente..ganham a vida bem melhor que de onde vieram, em euros e ainda se acham donos de tudo..ja no catar eles sabem bem o seu lugar..e sabem que estão ali de FAVOR, pois poderia se contratar qualquer outro estrangeiro no seu lugar facilmente a querer mudar de vida com uma media salarial e poder aquisitivo bem superior ao lugar de origem onde nada tinha e nada eram..
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