O atual governo federal, pilotado pelo PT, tem sustentação de basicamente dois grupos: xiitas e mercenários.
Os Xiitas
Os xiitas são os “guerrilheiros” do governo (“guerrilheiros” no sentido figurado e, em alguns casos, não). Estão sempre ativos (por isso são chamados de “ativistas”), montando dossiês, inventando esquemas mirabolantes (“aloprados”), criando central de boatos, enchendo o saco dos outros, fora e dentro da Internet.
Na sexta-feira, estava na sala de espera de uma Clínica Oftalmológica Especializada, e dois senhores conversavam sobre a Petrobrás, lastimando que o PT esteja acabando com a maior empresa brasileira, falando na compra da refinaria de Pasadena, comentando o prejuizo dos investidores que compraram ações da companhia, etc. Nisso um velhinho magrela (velhinho, para mim, é alguém que, na minha estimativa tem pelo menos uns cinco anos a mais do que eu: este aparentava ter mais de 75) se meteu na conversa para dizer que quem começou afundar a Petrobrás foi o Fernando Henrique, pois ele privatizou pelo menos 30% das ações, que agora estão nas mãos do capitalismo internacional, que, mesmo assim, a compra da refinaria de Pasadena tinha sido um bom negócio, que deu lucro, pois no preço estava incluído o estoque de petróleo, que foi vendido e trouxe receitas, que vale a pena investir na Petrobrás, principalmente agora que as ações estão baixas, etc. (O último argumento é até digno de consideração). Foi escorraçado pelos outros dois. Mandaram o velhinho cuidar da vida dele, pegar as economias que porventura tivesse e investir tudo em ação da Petrobrás, etc.
Na Internet, em especial no Facebook, os xiitas aparecem. No momento estão meio acuados, hesitam, mas vira e mexe dão a cara pra levar porrada. Ontem mesmo um comentou um post meu. Entrei no perfil do cara e ele lá nega que a Petrobrás tenha pago mais de 1 bilhão de dólares pela refinaria de Pasadena: diz que foi bem menos do que a metade disso – e que (repetindo o argumento do velhinho de sexta-feira) o preço ainda incluía insumos que foram vendidos e que trouxeram receita cujo valor deve ser abatido do preço. . .
Os xiitas parecem ser principalmente de dois tipos. Uns são iguais à “velhinha de Taubaté”, do Luís Fernando Veríssimo: acreditam em tudo que o governo e o partido lhes dizem. São fideístas. Creem até no absurdo. O velhinho da Clínica Oftalmológica me parece ser desse tipo. Outros são leninistas: acreditam que a verdade é irrelevante, e, portanto, são pragmáticos num sentido nojento: inventam mentiras, ou usam mentiras inventadas por terceiros, sabendo plenamente que são mentias, porque acreditam que o fim justifica os meios. Esses são os construtores de dossiês e os inventores das lorotas que as “velhinhas de Taubaté” engolem sem mastigar. O cara que comentou meu post no Facebook é desse tipo.
Nem todos os xiitas são petistas: há entre eles gente da “ala esquerda” do PSOL, do PCdoB, e de outros partidecos da extrema esquerda. Juntando todos, eles não teriam sido capazes de causar a destruição que os onze anos de governo chefiado pelo PT está causando. Para isso, o PT tem precisado e dependido também de mercenários.
Os Mercenários
Os mercenários são os que aderiram ao governo mediante um pagamento ajustado: dão-lhe apoio comprado, são gente a soldo. São os que se julgam espertos e que estão sempre “na situação”. O PMDB é a principal fonte deles, mas há vários outros partidecos, e alguns não tão “decos”, que se especializam no comércio de apoio ao governo.
Em geral vemos essa raça no Congresso, onde têm uma densidade razoável. O Congresso atual é governista – mas os presidentes do Senado e da Câmara são do PMDB. . .
Sem os mercenários, os petistas, apenas com seus aliados xiitas, não teriam, por si sós, sido capazes de aprovar muita coisa. Tudo o que foi feito contou com o apoio de gente que não é xiita, mas está disposta, por dinheiro ou algum outro interesse (poder, por exemplo, que no Brasil oportunamente se converte em dinheiro), a apoiar os guerrilheiros. O mensalão aconteceu por isso: de um lado havia os xiitas mais ilustrados, chefiados pelo José Dirceu, dispostos a comprar apoio, do outro mercenários dispostos a vender apoio. Não deu noutra coisa.
Mas há mercenários também na Mídia (inclusive aqui na Internet). Mas há uma diferença importante entre os mercenários no Congresso e os mercenários na Mídia. No Congresso, um voto é um voto. O deputado ou senador pode ser uma sumidade e o voto dele vale a mesma coisa que o voto dos 300 picaretas que o Lulla um dia criticou (que ele ainda não tinha o poder nas mãos e, portanto, não precisava dos picaretas). Na Mídia, uma opinião tem peso diferente da outra. Se você pagar um picareta para defender ou promover seus interesses na Mídia, o feitiço pode virar contra o feiticeiro: o efeito pode ser contrário ao desejado.
Por isso, acho que o Políbio Braga está certo no seu vídeo “O PT perdeu a guerra cibernética e não adiante espernear”, disponível no YouTube, no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=rRWzlySlUQc. Os xiitas do governo federal não são em número suficiente, nem têm capacidade suficiente, para preencher todos os espaços da Mídia defendendo e promovendo o governo com um mínimo de competência. O mais das vezes, fazem um papel ridículo. Isso está claro, hoje, mas ficou claro apenas recentemente: aqui na Mídia, em especial na Internet, e, dentro dela, claramente no Facebook, o PT e seus xiitas, e, por conseguinte, o governo federal, perderam a guerra. Perderam de longe muito longe.
Quando alguém publica no Facebook uma crítica ao governo e ao PT – e há milhares publicadas a cada dia – e vem, seja um xiita malcheiroso, seja ou um mercenário ensaboado, tentar contestar, ele é, como disse o Políbio, liminarmente escorraçado – virtualmente linchado. Descobrimos, no Facebook, que cada um de nós constrói, por esforço e talento, mas a duras penas, um grupo de pessoas que o seguem ou acompanham, porque gostam do que dizemos ou compartilhamos, ou concordam com o que normalmente escrevemos ou distribuímos. Usando os recursos de privacidade do Facebook, podemos dar uma sintonia fina ao grupo que nos segue ou acompanha, isolando-o dos xiitas e mercenários: queremos alcançar o maior número de pessoas, mas de pessoas “certas”, não de espíritos de porco que só nos seguem ou acompanham para atazanar, criticar, procurar usar a nossa influência, duramente alcançada, para distribuir o seu lixo. Nesse caso, bloqueamos a pessoa, ou (se são amigos fora da rede) a colocamos em uma lista de amigos restritos… Os que não sabem fazer isso muitas vezes desistem de manter sua conta no Facebook por causa da atazanação dos espíritos de porco.
Eu descobri, também a duras penas, que o meu perfil ou a minha linha do tempo, é meu, é propriedade privada: outras pessoas só publicam ali se eu deixo e o que eu deixo. Nem mesmo os meus amigos mais chegados, nem mesmo a minha mulher (que reclamou disso), têm acesso irrestrito e não-monitorado ao meu perfil ou à minha linha do tempo para publicar coisas de seu interesse.
Nem todo mundo quer ou sabe fazer isso. Assim, é possível entrar no perfil ou na linha do tempo de quem discorda de nós e atazana-los. Mas eu resolvi não fazer isso. Só escrevo no perfil aberto ou na linha do tempo não protegida dos outros para, se meus amigos, desejar-lhes um feliz aniversário, ou lhes dar parabéns por alguma coisa — nunca para brigar, contestar, encher o saco deles. (No passado já cheguei a fazer isso — mas mudei de ponto de vista e de modo de agir).
Assim, quando um xiita ou um mercenário tenta usar o meu perfil ou a minha linha do tempo, escorraço com ele — como manda o Políbio Braga. Mando para o espaço. Já fiz isso até com pessoas que eram minhas amigas fora do Facebook mas que não sabem usar o Facebook com um mínimo de respeito ao direito de propriedade dos outros.
Se não fizermos isso, toda vez que publicarmos algo negativo sobre o governo federal ou as suas estatais, alguém vai aparecer e tentar, no mínimo, mudar de assunto: “E a privatização das teles?” “E o mensalão mineiro?” “E as licitações do metrô paulista?”. Não conseguindo contra-argumentar no mérito, tentam mudar de assunto ou insinuar que o que foi feito é coisa que todo mundo faz. “Sou, mas quem não é?
Uma nota final, importante. Os mercenários não são ideologicamente leais ao governo federal: eles apenas o apoiam enquanto o apoio compensa. E, como bem disse Malcolm Gladwell, em seu fantástico livro The Tipping Point, cenários mudam, primeiro um pouquinho e gradualmente. Mas, de repente, gente, no caso da política brasileira, vê-se um monte de gente séria e importante, que um dia apoiou o governo do PT, deixar de apoia-lo e começar a critica-lo, como Hélio Bicudo, Ferreira Gullar, Fernando Gabeira. . . Aos poucos, a crítica ao governo cresce, ganha consistência. O governo ajuda, fazendo um monte de besteira, metendo a mão no dinheiro público como se fosse sua fortuna particular. Chega um momento em que os pratos da balança começam a mudar de posição e chega a hora esperada em que de fato mudam de posição: esse o “tipping point”.
Alcançado o tipping point a tendência é que a crítica se torna revolta e a oposição começa a se tornar avassaladora.
Coisas antes improváveis acontecem. A maioria dos estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina se rebelam contra a minoria de seus colegas que ocupam a reitoria. Avançam sobre eles, deixam-nos acuados. Sobem no mastro da bandeira e trocam a bandeira vermelha pela bandeira brasileira. Visitam a Reitora bunda mole e a pressionam a resistir. Mas ela se comporta como uma mercenária. . .
Não nos esqueçamos: a lealdade dos mercenários muda quando eles percebem que o cenário está mudando numa direção desfavorável a eles. Começam ficando meio em cima do muro, farejando o vento, e, conforme o caso, mudam de lado. Isso aconteceu em 1984-1985. O exemplo maior foi o José Sarney – que saltou de líder do partido de sustentação da ditadura militar para o primeiro presidente civil da “Nova República”. . . Não podemos confiar neles – mas sua mudança de lado indica que os dias da situação estão contados.
Acho que isso está acontecendo no Congresso agora. Antes de saltar do navio, os mercenários tentam aumentar seu preço o máximo possível — até o ponto em que (no caso) o PT não consegue mais pagar, porque os mercenários percebem que sua fonte de dinheiro vai se esgotar em menos de um ano: a roubalheira, a corrupção, o aparelhamento.
Quanto o PT precisa anunciar publicamente que está oferecendo um curso sobre “Ativismo na Internet” para a xiitada é porque a coisa está ficando feia para eles.
É nessa hora que nós, anti-petistas, nós, anti-corrupção, nós, defensores da liberdade, nós que não gostamos de mexer com política que ficamos com aquela sensação horrível de mãos sujas, devemos intensificar nossa ação. A balança está virando para o nosso lado: alcançamos o tipping point, aquele ponto em que a maré vira.
É verdade que temos um Inverno pela frente ainda antes de chegar à nossa Primavera. Mas ela está à vista.
Em São Paulo, 31 de Março de 2014.