09/10/2008 – 13h01
Da redação do UOL com agências Reuters e AFP
O escritor francês Jean-Marie Gustave Le Clézio, descrito pela Academia Sueca como "nômade" devido a suas viagens pelo mundo, que se refletem em sua obra, recebeu nesta quinta-feira o prêmio Nobel de Literatura de 2008.
A Academia, que escolhe o ganhador do prestigioso prêmio de 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,4 milhão), elogiou o escritor de 68 anos por seus romances cheios de aventura, ensaios e obras de literatura infantil.
"Suas obras têm um caráter cosmopolita. Francês, sim, porém mais do que isso, um viajante, cidadão do mundo, nômade", disse Horace Engdahl, secretário permanente da Academia Sueca, em entrevista coletiva convocada para anunciar o laureado.
Aos 68 anos, o escritor teria batido concorrentes como o norte-americano Philip Roth e o britânico Ian McEwan para a nomeação. Em 2007, o prêmio foi concedido à escritora Doris Lessing. Nascido em 13 de abril de 1940 em Nice (sudeste da França), Le Clézio mudou-se para a Nigéria com sua família aos 8 anos de idade. Escreveu seus primeiros trabalhos — "Un Long Voyage" e "Oradi Noir" — durante a viagem à Nigéria, que levou um mês. De acordo com o site da Academia Sueca, ele estudou inglês numa universidade britânica e lecionou em instituições em Bangkok, Cidade do México, Boston, Austin e Albuquerque, entre outras.
Le Clézio passou longos períodos no México e América Central, e em 1975 se casou com uma marroquina. Desde os anos 1990 ele e sua mulher dividem seu tempo entre Albuquerque, no Novo México, Nice e Ilhas Maurício.
Seu primeiro romance foi "Le proces-verbal" ("O Interrogatório"), de 1963, escrito quando tinha 23 anos. O livro recebeu o prêmio Renaudot na França. Dentre suas outras publicações estão "La fièvre" (1965), "Terra Amata" (1967), "La Guerre" (1970), "Désert" (1980), "Le Chercheur d’or" (1985), "Onitsha" (1991), "Etoile Errante" (1992), "Le Poisson d’or" (1996), "Voyage à Rodrigues" (1986), "Diego et Frida" (1985), "Révolutions" (2003) e, seu mais recente, "Ritournelle de la faim" (2008). No Brasil foram publicados "O deserto", "A quarentena" e "Peixe Dourado".
Visto nos anos 1960 como escritor experimental, Le Clézio se interessou por muitos temas, incluindo o meio ambiente e a infância. Até os anos 1980, Le Clézio tinha a imagem de escritor inovador e rebelde, apreciador dos temas como a loucura, mas depois passou a escrever livros mais serenos, nos quais a infância, a preocupação com as minorias, a atração pelas viagens ganharam o primeiro plano, o que o fizeram ser lido por um público muito mais amplo.
O livro que lhe deu fama foi "Désert", de 1980, que, segundo a Academia Sueca, "contém magníficas imagens de uma cultura perdida no deserto do norte da África, contrastado com o retrato da Europa visto através do olhar de imigrantes indesejados".
O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, saudou o prêmio dado a Le Clézio. "Esta honra magnífica coroa uma das criações literárias mais notáveis de nossos tempos e um dos estilos de escrita mais exigentes e inventivos", disse Kouchner em comunicado à imprensa. "De Albuquerque a Seul, de Nova York ao Panamá, de Londres a Lagos, Jean-Marie G. Le Clézio vive, viaja, conhece e ama muitos países, povos, civilizações e culturas", acrescentou.
A fase que antecedeu a entrega do Nobel de Literatura deste ano foi dominada por controvérsia, depois de Horace Engdahl, secretário permanente da Academia Sueca, ter dito que os Estados Unidos são demasiado insulares e não participam do "grande diálogo" da literatura mundial.
Feitos a uma agência de notícias, seus comentários desencadearam uma tempestade de reações iradas de escritores e críticos norte-americanos.
A última vez em que o prêmio Nobel de Literatura foi dado a um americano foi em 1993, quando a premiada foi a romancista Toni Morrison.
Todos os prêmios Nobel, exceto um, foram criados no testamento do magnata Alfred Nobel e são entregues desde 1901. O Nobel de Economia foi criado pelo Banco Central sueco em 1968.
http://diversao.uol.com.br/ultnot/2008/10/09/ult4326u1130.jhtm
Em São Paulo, 9 de Outubro de 2008