O livro Dirceu: A Biografia, de Otávio Cabral, lançado esta semana pela Editora Record, já começou a causar estrago.
Algumas pessoas que eu chamei (no FaceBook) de “viúv@s do Dirceu”, já encontraram algo para criticar no livro.
Usando um depoimento de Mônica Bérgamo, da Folha de S. Paulo, para tentar invalidar a credibilidade do autor e, a fortiori, o livro inteiro.
o O o
Em várias twitadas em sequência, Mônica Bérgamo afirma o seguinte, em passagem citada em vários posts de esquerdistas no FaceBook:
“O livro de Otavio Cabral sobre Dirceu me cita numa informação que não é verdadeira.
Na pág 335, ele diz que, em dezembro Dirceu me convidou para acompanhar a chegada da polícia em seu apartamento. Falso.
Na verdade, eu propus a seu advogado uma entrevista já que, se fosse preso, Dirceu passaria muito tempo sem poder falar.
Dirceu concordou. Fui à sua casa às 5h da manhã. Eu era a única jornalista na porta.
O ex-ministro me recebeu mas desistiu da entrevista.
Eu imediatamente fiz um relatório à direção do jornal. Propus relatar a cena de Dirceu esperando pela polícia. E isso foi feito.
Otavio Cabral, da Veja, diz que entrevistou 63 pessoas. Não me entrevistou. E deu uma informação completamente errada citando meu nome.”
Fim da citação.
o O o
O livro de Otávio Cabral faz duas referências a Mônica Cabral, já no fim do livro.
Na p.328, diz:
“Os boatos de que poderia fugir do país ganhavam força. Algumas pessoas de seu entorno chegaram a imaginar que se suicidasse, tamanha era sua revolta com os rumos do julgamento. Como explicitaria Clara Becker, sua primeira mulher: ‘Meu medo é que ele se mate na prisão’.
Para tentar dar um fim às especulações chamou a jornalista Mônica Bérgamo, da Folha de S. Paulo, para um café da manhã em 14 de Setembro. As declarações publicadas três dias depois eram incisivas: ‘Essa história que inventaram de que vou sair do Brasil não combina comigo. Saí porque fui expulso do país. Cassaram a minha nacionalidade. Eu era um apátrida, não podia viajar. Quem me impedia de voltar era a ditadura militar. E mesmo assim eu voltei para o Brasil, duas vezes, colocando a minha própria vida em risco. Eu iria embora agora?’ – questionava.”
Na p. 335 diz:
“Em 17 de Dezembro, o julgamento do mensalão foi encerrado. Com a aposentadoria de Ayres Britto, Joaquim Barbosa assumira a presidência da Corte. Na semana seguinte, a Procuradoria-Geral da República pediria a prisão imediata dos condenados. Dirceu se preparou para o pior. Em 21 de Dezembro, arrumou a mochila com roupas, livros e artigos de higiene pessoal, e convidou novamente a jornalista Mônica Bérgamo, da Folha de S. Paulo, para acompanhar uma possível chegada da polícia a seu apartamento. Horas mais tarde, contudo, Joaquim rejeitaria a prisão imediata dos réus.”
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Minhas observações:
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PRIMEIRA OBSERVAÇÃO
Mônica Bérgamo não contesta a primeira referência, de que em 14 de Setembro de 2012 Dirceu a convidou para um café da manhã – e que ela compareceu, tanto que, no dia 17 de Setembro, publicou coluna na Folha de S. Paulo relatando o ocorrido.
Eis o texto da coluna (que é meio piegas, descrevendo a cor da camiseta do Dirceu, o que tomaram no café da manhã, etc. ).
COLUNA DE MÔNICA BÉRGAMO DE 17/09/2012 NA FOLHA
Parênteses ( ) são do texto; Colchetes [ ] são da Folha ou de Mônica Bérgamo; Chaves { } são minhas – EC.
7/09/2012 – 03h00
‘Eu não vou fugir do Brasil’, diz Dirceu.
‘A burguesia acorda tarde. Eu saí da cama faz tempo e estou morrendo de fome’, diz José Dirceu ao abrir a porta de seu apartamento, em SP, às 9h de sexta-feira.
Réu no processo do mensalão, ele saiu de circulação desde o início do julgamento e há meses recusa todos os pedidos da imprensa brasileira para uma entrevista. Na semana passada, recebeu a coluna {Mônica Bérgamo} para um café. À mesa, suco de laranja, abacaxi, café com leite, pão e frios.
‘Eu não estou deprimido. Eu não tenho razão para estar deprimido. Eu tenho objetivos, metas, sonhos. Eu acordo às seis da manhã todos os dias. Recebo o resumo das notícias que a equipe do meu blog envia. Eles já sabem o que me interessa. Estão comigo há cinco anos. Funcionamos por telepatia.’
‘Eu gasto duas ou três horas lendo toda a imprensa brasileira, no iPad e no meu laptop. Depois, escrevo artigos para o blog.’
‘Estou preparado para qualquer resultado’, diz Dirceu.
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Dirceu veste camiseta marrom e calça jeans cinza que estão largas em seu corpo. Está mais magro e com os cabelos mais longos do que o habitual. Perdeu 6 kg. Mas afirma que isso não tem nada a ver com o mensalão. ‘Eu faço muita ginástica. Desde 1998, tenho um instrutor.’
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Recentemente, passou a se exercitar todos os dias. Faz esteira, musculação e alongamento na academia do próprio prédio. ‘Me sinto bem.’
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A coluna {Mônica Bérgamo} diz que é difícil acreditar que a vida siga tão normal. ‘Muita gente me visita. Não tem um dia em que não venham duas, três pessoas me ver, aqui ou na minha casa em Vinhedo.’
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O escritor Fernando Morais, o produtor Luiz Carlos Barreto e o líder do MST, João Pedro Stédile, estão entre as visitas. O ex-presidente Lula liga um dia sim, um dia não, para saber como ele está. ‘Não me falta companhia.’
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O julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) entra na reta final. A condenação de Dirceu parece certa. Até seus interlocutores próximos admitem a possibilidade. As penas máximas para os crimes de que é acusado chegam a 15 anos. A Folha revelou que ele já conversou com o ex-presidente Lula sobre a hipótese de ser preso.
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‘Que nada, isso não aconteceu’, diz. ‘Não é que não tem prova no processo contra mim. Eu fiz a contraprova. Eu sou inocente. Eu confio na Justiça.’ Ele diz saber que, mesmo absolvido, ‘isso não vai acabar. Em sete anos [desde que estourou o escândalo], eu não tive a presunção da inocência. Por que vou ter a ilusão de que isso vai ocorrer, mesmo que eu seja considerado inocente pelo Supremo?’
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A coluna {Mônica Bérgamo} pergunta de novo se, ainda que insista em dizer que confia na Justiça, ele nunca pensa na hipótese de ser condenado e preso.
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‘Isso daí [resultado do julgamento] vai demorar dois meses para acontecer. Vou ser julgado por corrupção ativa no fim do mês ou no começo de outubro. Em mais quatro semanas, serei julgado por quadrilha. Por que vou sofrer por antecipação? Na hora em que acontecer, vou ver o que fazer.’
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‘A expectativa que eu tenho? Eu fui cassado pela Câmara dos Deputados [em 2005] sem provas. De lá para cá, eu sofri um linchamento como corrupto e quadrilheiro. Eu estou preparado para qualquer resultado.’
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‘E não vou deixar de fazer o que sempre fiz, que é lutar. É ilusão achar que eu vou… não faz parte da minha personalidade eu me abater. Se alguém tem a ilusão de que, me condenando, cometendo essa violência contra mim, vai me derrubar, pode tirar o cavalinho da chuva.’
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Dirceu diz que só dará entrevista sobre o mérito do caso depois do julgamento.
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Não quer também comentar a hipótese de o publicitário Marcos Valério, já condenado à prisão por vários crimes, ‘explodir’ no caso de ser preso. ‘O advogado desmentiu [declarações que Valério teria dado a terceiros acusando o ex-presidente Lula de participar do esquema]. Não tenho o que comentar.’
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Diz que a sua principal intenção, na conversa, é afirmar que está bem e que não vai fugir do país para não ser preso caso seja condenado.
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‘Essa história que inventam de que vou sair do Brasil não combina comigo’, afirma o ex-ministro.
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‘Saí [na década de 60] porque fui expulso do país. Cassaram a minha nacionalidade. Eu era um apátrida, não podia viajar. Quem me impedia de voltar era a ditadura militar. E mesmo assim eu voltei para o Brasil, duas vezes, colocando a minha própria vida em risco. Eu iria embora agora?’
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‘O PT tem defeitos. Mas se tem algo que não conhecemos no PT é a palavra covardia. A chance de eu fugir do Brasil é nenhuma. Zero.’ ”
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SEGUNDA OBSERVAÇÃO:
Há uma divergência entre o que afirma Otávio Cabral e o que alega Mônica Bérgamo.
Cabral diz que, em 21/12/2012, Dirceu “convidou novamente a jornalista Mônica Bérgamo, da Folha de S. Paulo, para acompanhar uma possível chegada da polícia a seu apartamento.”
Bérgamo afirma, agora, que essa informação de Cabral é “falsa” e “errada”. Ela alega, agora, que o que aconteceu foi o seguinte: “eu propus a seu advogado {de Dirceu} uma entrevista já que, se fosse preso, Dirceu passaria muito tempo sem poder falar. Dirceu concordou. Fui à sua casa às 5h da manhã. Eu era a única jornalista na porta. O ex-ministro me recebeu mas desistiu da entrevista.”
Há uma divergência, sem dúvida, mas ela é mínima: trata-se única e exclusivamente de determinar se Dirceu convidou Bérgamo ou se ela se ofereceu para ir à casa dele na madrugada (às 5h da manhã) do dia 21/12/2012. Só isso.
No restante, não há nenhum reparo a fazer ao relato de Cabral acerca do segundo encontro de Dirceu e Bérgamo. NENHUM.
E convenhamos.
Primeiro, Dirceu já a tinha convidado uma vez para ir até à casa dele, de manhã, para tomarem café juntos. Isso ela não nega – pelo contrário, admite no texto da Folha.
Segundo, a própria jornalista reconhece que, da segunda vez, ela era a única jornalista presente – algo de esperar, se o convite tivesse sido novamente dele…
Terceiro, pode muito bem ter se dado que, como ela firma, a ideia de um encontro na casa dele tenha inicialmente sido dela, via o advogado dele… A concordância dele, porém, necessária para o encontro, faz muito bem as vezes de um convite. Na matéria que Bérgamo publicou na Folha no dia seguinte (vide abaixo) ela afirma, textualmente, que “Dirceu autoriz[ou] a [sua] subida” até seus aposentos. Autorizar, nas circunstâncias, é virtualmente o mesmo que convidar…
Quarto, o texto que Bérgamo publicou na Folha no dia seguinte, 22/12, corrobora o fato de que ela ficou lá um bom tempo e que, na realidade, Dirceu lhe deu uma mini-entrevista. Só não deixou que ela a gravasse, como aparentemente havia feito na primeira ocasião.
Eis o texto (que de novo é piegas: Dirceu abre apenas uma fresta da porta, pede tempo para trocar de roupa; novamente se cita a cor de suas roupas, agora a da calça e a da camiseta; etc.):
REPORTAGEM DE MÔNICA BÉRGAMO DE 22/12/2012 NA FOLHA
http://www1.folha.uol.com.br/poder/1205255-dirceu-tem-momentos-de-tensao-a-espera-da-policia.shtml
Parênteses ( ) são do texto; Colchetes [ ] são da Folha ou de Mônica Bérgamo; Chaves { } são minhas – EC.
Folha de S. Paulo, 22/12/2013 – 05h05
“22/12/2012 – 05h05
Dirceu tem momentos de tensão à espera da polícia
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
O interfone tocou ontem às 5h30 da manhã na casa do ex-ministro José Dirceu, na Vila Mariana, em São Paulo.
Um de seus advogados, Rodrigo Dall’Acqua, e a Folha {i.e., Mônica Bérgamo} pediam para subir.
O porteiro hesita. ‘Como é o seu nome? Ele [Dirceu] não deixou autorização para vocês subirem, a gente não chama lá cedo assim.’ Ele acaba tocando no apartamento do ex-ministro, ninguém atende. Dall’Acqua liga para o advogado José Luis Oliveira Lima, que está a caminho. Telefonemas são trocados, e Dirceu autoriza a subida.
Na saída do elevador, o ex-ministro abre a porta de madeira que dá para o hall. Por uma fresta, pede alguns minutos para se trocar.
Abre a porta.
Pega a Folha entre vários jornais sobre uma mesa. Comenta algumas notícias. Nada sobre a possibilidade de Joaquim Barbosa, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), decretar a sua prisão ainda naquela manhã.
INTUIÇÃO
Está de camiseta preta e calça jeans cinza.
Senta no sofá da sala. A empregada ainda não chegou. Ele se desculpa. Não tem nada o que servir.
‘Eu não vou dar entrevista para você, não’, diz à colunista da Folha {Mônica Bérgamo}. ‘Podemos conversar, mas não quero gravar. Não estou com cabeça. Dar uma entrevista agora, sem saber se vou ser preso? É loucura, eu não consigo.’
E, diante da insistência: ‘Estou com uma intuição, não devo dar’.
Em poucos minutos, chegam o advogado Oliveira Lima, três assessores e uma repórter que trabalha no blog que o petista mantém.
Dirceu pega o seu iPad.
‘Acho que eu vou lá [no escritório do apartamento] fazer um artigo para o blog. Mas falar sobre a situação econômica do Brasil, gente? Hoje? Eu não estou com cabeça.’
HORA MARCADA
Os advogados alertam: se houver ordem de prisão, a polícia deve chegar em meia hora, às 6h. Se até as 7h nenhuma viatura aparecer, é porque eventual ordem só sairia mais tarde. Ou então Barbosa não decretaria a prisão (o que acabou ocorrendo).
A Folha {Mônica Bérgamo} questiona se ele já tinha preparado a mala para ir para um presídio. ‘Eu não. Eu fui procurar, estou sem mala aqui. Achei uma mochila esportiva. Depois o Juca [o advogado José Luis Oliveira Lima] leva as coisas para mim. Ele vai ser a minha babá.’ No primeiro momento, só os advogados podem visitar o detento.
‘Os policiais dão um tempo para a pessoa se arrumar [antes de levá-la presa]’, explica Oliveira Lima.
Dirceu diz acreditar que Joaquim Barbosa não determinará a sua reclusão. ‘Ele não vai fazer, ele estaria rasgando a Constituição.’
Diz que não está com medo da prisão. ‘Eu me organizo. Eu vou voltar a estudar. Vou fazer um mestrado, alguma coisa. E tenho que imediatamente começar a trabalhar na prisão. Até para começar a abater da pena.’
‘Se eu for para [a penitenciária de] Tremembé 2 [no Vale do Paraíba], dá para trabalhar.’ O presídio ofereceria as condições necessárias.
‘Eu não sou uma pessoa de me abater. Eu não costumo ter depressão. Mas a gente nunca sabe o que vai acontecer. Uma coisa é falar daqui de fora, né? A outra é quando eu estiver lá dentro. Eu posso ter algum tipo de abatimento, sim, de desânimo. Tudo vai depender das condições da prisão. Às vezes elas são muito ruins, isso pode te abater muito.’
LEITURA
Dirceu ainda não sabe se, na cela, terá acesso a livros, jornais, iPad. ‘A lei permite, para o preso trabalhar e estudar. Tem gente aí até querendo mudar essa lei. Foi aprovada proibição no Senado, o PT bloqueou na Câmara.’
Se puder acessar publicações, acredita que o tempo passará mais rápido. ‘São 33 meses. Não é fácil.”
Analisa que poderá ser colocado numa cela com outro preso. “Isso pode ser bom, mas pode ser ruim também. Vai depender da pessoa.’
ESCOLA DO CRIME
Diz que não tem medo de sofrer eventual violência no presídio. ‘Mas em termos. É um ambiente de certo risco.’
Acha que o sistema carcerário nunca vai melhorar. ‘Isso não é prioridade de nenhum governo, nem dos governos do PT’, afirma.
‘Nenhum governo nosso se preocupou com essa questão, nenhum Estado se preocupou em ter um sistema modelo. É caro, não tem dinheiro. O governo federal é que deveria dar os recursos. Nós [no governo Lula] fizemos, construímos os presídios federais para isolar os presos de maior periculosidade. Tinha que fazer, senão virava uma escola do crime.’
Os advogados consultam o telefone, os assessores leem jornais e a internet em busca de alguma pista sobre a decisão que Joaquim Barbosa em breve tomará.
‘OI, BONITINHA’
‘Se ele [Barbosa] mandar me prender, vai pedir para que nos apresentemos, vocês não acham?’, pergunta Dirceu aos advogados. ‘Não vão mandar polícia aqui, eu acho que ele vai dar algumas horas para eu me apresentar em algum lugar.’
Atende o celular. ‘Oi, bonitinha. Você vem aqui me visitar?’ É Evanise Santos, sua companheira, que estava em Brasília porque não tinha conseguido lugar no avião na noite anterior. Ela avisa que já está embarcando para SP.
‘Para mim é uma tragédia ser preso aos 66 anos. Eu vou sair da cadeia com 70. São mais de três anos. Porque parte [da pena] é cumprida em regime fechado, mas depois [no semiaberto] vou ter que dormir todos os dias na cadeia. Sabe o que é isso?’
‘Eu perdi os melhores anos da minha vida nesses últimos sete anos [em que teve que se defender das acusações de chefiar a quadrilha do mensalão]. Os anos em que eu estava mais maduro, em que eu poderia servir ao país’, diz.
LUTA POLÍTICA
‘Eu transformei isso [mensalão] em uma luta política. Eu poderia ter ganhado muito dinheiro como consultor. Poderia estar rico, ter ganhado R$ 100 milhões. Mas é por isso que eu sou o José Dirceu. Tudo o que eu ganhei eu gastei na luta política.’
Ele avisa à Folha {Mônica Bérgamo} que o presidente do PT, Rui Falcão, chegará às 7h. E que terá que interromper a conversa.
‘Eu sugeri a eles que fizéssemos uma manifestação em fevereiro, colocando 200 mil pessoas na rua’. ‘Eles’ são o ex-presidente Lula e dirigentes do PT. Acha que nem todos ‘da esquerda’ fazem a avaliação correta sobre ‘a disputa política em curso’. ‘É preciso dar uma demonstração de força.’
A disputa, no seu entendimento, incluiria a desqualificação não só de petistas, mas da política de forma geral.
CLICHÊ
‘Sempre foi assim. Parece clichê, mas em 1954 [quando Getúlio Vargas se suicidou] foi assim, em 1964 [no golpe militar] foi assim. Era a guerra contra a subversão e a corrupção. Depois entrou a Arena [partido que apoiou a ditadura]. Aí sim foi tudo à base de corrupção.’
Ele acha que o PT falhou ao não estimular, nos últimos anos, uma “comunicação e uma cultura” de esquerda no país. ‘Até nos Estados Unidos tem isso, jornais de esquerda, teatro de esquerda, cinema de esquerda. É uma esquerda diferente, deles, mas que é totalmente contra a direita. Aqui no Brasil não temos nada disso.’
A classe média está ‘vivendo num paraíso, e isso graças ao Lula’. Mas, ao mesmo tempo, está sendo ‘cooptada’ por valores conservadores.
Já disse a Lula que ‘o jogo pode virar fácil. Nós [PT] não temos a maioria, a esquerda ganha eleição no Brasil com 54% dos votos’.
‘É preciso trabalhar. A esquerda nunca teve uma vida tranquila no Brasil nem no mundo. Nunca usufruiu das benesses do poder.’
GRAMPOS
‘De 1889 a 1946, o poder era militar. Tudo era decidido por tenentes e depois pela cúpula militar. Depois, o país viveu seu período político, mas sempre sob tutela militar, até o golpe de 64. Só em 1989 retornamos [civis]. É tudo muito recente’, diz.
‘Ninguém hoje vai bater nos quartéis. A situação é outra: a esquerda ganha [eleição], mas não tem o poder midiático, o poder econômico. E nós [PT] nunca fizemos política profissional nas indicações do Judiciário, no Ministério Público, como outros governos fizeram. Nunca.’
Ele segue: ‘O Ministério Público e a polícia com esse poder, esses grampos… isso está virando uma Gestapo. Quando as pessoas acordarem, pode ser tarde demais.’
NATAL
Para Dirceu, a maioria dos empresários não apoia o que seriam investidas contra Lula e o PT. Teriam medo de uma crise política, com manifestações e greves combinadas com uma situação econômica mais delicada.
E o empresário Marcos Valério, pode atingir Lula com suas acusações? ‘Esquece. Nem a mim ele conhece direito. Nunca apertei direito a mão do Marcos Valério.’
Os advogados o chamam na varanda. Dirceu em seguida diz à Folha que precisa encerrar a conversa. Ele ainda esperaria sete horas até que, às 13h30, Barbosa divulgasse que não mandaria prender os réus ontem. Fez as malas e foi passar o Natal na casa da mãe em Passa Quatro (MG).”
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MORAL DA HISTÓRIA
O pessoal de esquerda, que eu chamei de “viúv@s do Dirceu”, alegaram o seguinte:
Antonio Morales, no FaceBook, afirma (sem ter lido o livro): “Isso basta para por abaixo a credibilidade do autor. Quem garante que se mentiu nisso, não mente muito mais?”
Wilson Azevedo, também sem ler o livro, apenas com base na afirmação de Bérgamo, afirma no FaceBook: “Isto da’ uma ideia da credibilidade do livro” – e cita o depoimento atual de Bérgamo. Mais abaixo ele diz que o livro de Cabral está “mais para ficção que para biografia”.
O pessoal é rápido em tirar conclusões sobre um livro que não leu, não é verdade?
O livro tem 343 páginas. Com base em uma pequena inexatidão (se é que foi isso – é a palavra de um contra a do outro, e Cabral ainda não foi ouvido acerca da “acusação” de Bérgamo), a esquerda conclui que o autor não tem credibilidade e que não passa de ficção.
POSTSCRIPTUM 1:
O site 247 diz:
“O caso tem potencial para criar um pequeno barraco na Folha de S. Paulo, onde outra das principais colunistas, a jornalista Vera Magalhães, é casada com Otávio Cabral. No Twitter, ela e Cabral costumam trocar juras de amor. Até agora, Vera, que edita o Painel, não se manifestou sobre o erro apontado pela colega Mônica Bergamo no livro do maridão.”
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/104657/Bergamo-aponta-falha-na-biografia-de-Dirceu.htm
POSTSCRIPTUM 2:
O site 245 havia publicado isto cerca de 21 dias atrás, em 16/05/2013:
“BIOGRAFIA DE DIRCEU POR EDITOR DE VEJA É ENGAVETADA
16 DE MAIO DE 2013 ÀS 06:05
247 – A obra assinada por Otávio Cabral, jornalista da revista Veja, que conta a história de José Dirceu nunca será publicada. Pela decisão da editora LeYa, o livro ficará na gaveta por temor à lei do direito à reserva da vida privada. Leia a informação de Mônica Bergamo, da Folha:
EFEITO ROBERTO
A editora LeYa decidiu engavetar livro sobre a vida de José Dirceu que publicaria ainda neste ano. Motivo: a lei brasileira que proíbe o lançamento de biografias sem a autorização do biografado seria tão drástica que poderia gerar multas e punições que colocariam em risco a própria existência da empresa no país. O parecer foi dado pelo departamento jurídico da editora portuguesa.
FORO ÍNTIMO
“Não houve ameaça do José Dirceu. Nós é que tivemos dúvidas e decidimos consultar advogados. Mas o direito à reserva da vida privada é considerado absoluto no Brasil, o que faz com que seja impossível publicar livro sobre qualquer personagem histórico do país”, diz Maria João Costa, editora-executiva da LeYa. “Até personagens secundários citados em fatos irrelevantes poderiam processar a editora.”
DÁ UM FILME
A obra é assinada por Otávio Cabral, jornalista da revista “Veja”. “Cada linha do livro poderia ser provada. Já tínhamos comprado os direitos”, diz a executiva. “É absolutamente frustrante e algo que não ocorre em outros países democráticos. Aqui tudo é proibido. Histórias fantásticas não poderão ser contadas no Brasil.” Como a vida de Dirceu, que, segundo Maria João Costa, “é digna de cinema”.
NA GAVETA
Entre os precedentes que assustam a LeYa estão a vitória do cantor Roberto Carlos, que já conseguiu recolher e incinerar a edição de um livro sobre sua vida, e o processo que o dono de uma academia de boxe moveu contra editora que lançou a biografia de Anderson Silva.”
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/102047/
Alguém comeu bola, não? O texto foi publicado pela Record.
Em São Paulo, 8 de Junho de 2013
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