New Line Learning Academy, Kent (Reino Unido)

Transcrevo, abaixo, o post que publiquei no meu blog de viagem sobre a visita que fiz (acompanhado de umas 300 pessoas), no dia 11 de Janeiro de 2011, a essa magnífica escola. EC.

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A saída para Kent, onde fica a New Line Learning Academy, tinha tudo para ser meio tumultuada. Havia cerca de 400 pessoas querendo fazer a visita e apenas 300 lugares nos ônibus (número limitado pela capacidade de visitação da escola). Os ônibus iam sair às 8h – mas às 7h30 o saguão e a calçada do hotel já estavam superlotados. O dia não havia amanhecido ainda, havia neblina, misturada de um leve chuvisco.

Com meu amigo Ernesto Laval, do Chile, fiquei na calçada – queria pegar um dos primeiros ônibus. A sorte nos bafejou e a porta de entrada do primeiro ônibus (de 53 lugares) a parar diante do hotel ficou literalmente na nossa frente – não podia ficar mais acessível para nós. Resultado: fomos os dois primeiros a subir no primeiro ônibus, que imediatamente lotou e saiu.

Para ir para Kent, que fica a 35-40 milhas de onde estávamos, tivemos de passar por trechos enormes da cidade, onde o trânsito, de manhã, é complicado. Felizmente estávamos no contrafluxo. Mesmo assim a viagem levou cerca de 1h40 (houve um congestionamento também depois que pegamos a autoestrada).

Os edifícios da escola velha não existem mais. Em seu lugar, um magnífico edifício de três andares (para cima – deve haver espaço subterrâneo pelo menos para serviços de limpeza e aquecimento). Havia um lanche nos esperando (fomos, naturalmente, o primeiro ônibus a chegar e atacamos a comida imediatamente – eu, pelo menos, não havia comido nada ainda no dia).

Depois de chegarem os demais ônibus fizemos excursões pela escola – pares de alunos conduzindo grupos de cerca de dez visitantes.

Na concepção arquitetônica da escola, cada grupo etário (vamos chamá-lo de série) tem uma “plaza” – que é um espaço magnífico que pode acomodar um pouco mais de 200 alunos. Essa plaza é dividida em quatro ambientes. Em dois ambientes amplos, de tamanho um pouco diferenciado, podem ser acomodados, respectivamente, 130 e 90 alunos. Esses dois ambientes são totalmente abertos, mas possuem mobiliário variado  que pode ser levado daqui para ali sem maior problema. O ambiente maior possui o que a escola chama de quatro “bananas”: algo parecido com uma arquibancada de quatro ou cinco degraus, em formato de um oitavo de lua, no qual as pessoas podem se sentar. Se necessário, as  quatro bananas podem ser colocadas lado a lado, de modo a formar uma meia lua, que permite que o ambiente seja configurado quase como um auditório. Como o espaço é grande, se a meia lua ficar no fundo ainda cabem cadeiras, bancos, puffs, etc. em número razoável na frente dela.

Tecnologia está por toda a parte. A partir de um pequeno computador se controlam projetores, telas, aparelhos de televisão (cada ambiente tem pelo menos quatro, de tamanho aparentemente de 60 polegadas). Há, em cada espaço dessses, um móvel (realmente móvel) contendo nove TVs Samsung conectadas, de cerca de 50 polegadas cada, formando um enorme telão, em que cada nono da tela pode ser programado separadamente.

Os alunos, naturalmente, têm, cada um deles, um laptop.

No meio dos dois ambientes, que têm a altura correspondente a dois andares, há um ambiente dividido em dois andares. Na parte de baixo há lockers para os alunos (com fechadura digital), onde guardam seus pertences e, na hora de ir para casa, são obrigados a deixar seu laptop, guardado e carregando). Atrás dos lockers há cinco toiletes femininos e cinco masculinos, divididos por uma série de dez pias, cinco de cada lado.

Em cima do ambiente inferior fica o espaço do staff. Cada série tem uma coordenadora pedagógica, apoiada por um grupo de seis professores. Ficam ali o tempo todo junto dos seus alunos.

Fato interessante é que a equipe pedagógica é montada para atender a dois tipos de necessidade dos alunos: necessidades que a escola chama de “pastorais” e necessidades relacionadas à aprendizagem.

As necessidades chamadas de pastorais são necessidades de cunho mais afetivo e emocional. Curiosamente, a escola mantém registro do “coeficiente emocional” dos alunos, e tem uma espécie de “quadrante” para os alunos em que eles podem indicar como está, em um eixo, o seu nível de bem estar, e, em outro eixo, o seu nível de energia. Se um aluno está com nível de energia alto e nível de bem estar baixo, os outros tomam cuidado com ele… Se está com os dois níveis altos, está bem e cheio de energia, e, portanto, possívelmente, disponível para participação em grupos de trabalho e diversos tipos de atividade… Curioso.

O staff mais pastoral tem funções mais ou menos semelhantes à da família. Há um tipo mais mãezona (que não impede que seja exercido por um homem – o importante é o tipo), a quem os alunos recorrem quando estão necessitados de apoio emocional, carinho, cafuné… isto é, quando estão com necessidades do tipo “interior”. Há um tipo do gênero mais paternal, a quem recorrem para discutir projeto de vida, dúvidas sobre profissões e carreiras, coisas (digamos) do mundo exterior. E há um tipo mais do gênero irmão mais velho (tipo professor jovem de educação física ou de dança), a quem recorrem quando querem uma atividade diferente, um jogo ativo, um brinquedo animado, ou mesmo um conselho sobre um assunto que não gostariam de abordar com a “mãe” ou o “pai”.

O staff mais voltado para a aprendizagem está à disposição para apoiar os alunos em suas dificuldades de aprendizagem, esclarecer questões contidas em material de leitura ou em tarefas (assignments) atribuídos a eles, etc.

Todo o staff, porém, sob a coordenação do coordenador pedagógico da série, é responsável por encaminhar qualquer tipo de problema e por atender a qualquer tipo de necessidade de aprendizagem dos alunos, independentemente de sua função mais especializada na equipe. Embora o staff tenha uma sala no espaço superior que separa os dois ambientes em que ficam os alunos, do qual podem supervisioná-los, a maior parte do tempo seus membros estão no meio dos alunos, que se esparramam pelos dois ambientes dedicados às suas atividades. Nesses ambientes eles andam descalços (no Inverno, de meia), e se esparramam pelas bananas, pelos puffs, deitados no chão (carpete de muito boa qualidade), pelas mesas de trabalho, usando os computadores, vendo vídeos, etc. – ou conversando com o staff.

Além das plazas, há enormes salas especializadas de artes plásticas, música, dança, bem como (naturalmente) laboratórios de ciências, biblioteca, etc. Nas salas de música há pianos, guitarras, baterias, e outros instrumentos. As salas de dança são como academias profissionais: todas pintadas de preto, com enormes espelhos ao redor da sala inteira, etc. Professores especializados apóiam essas atividades dos alunos. Vi uma aula em que meninas adolescentes aprendiam a dançar rock clássico, e fiquei maravilhado com a qualidade de seu desempenho.

Há também uma enorme quadra coberta, na qual cabem quatro quadras de basquete. Vi vários grupos de alunos, meninos e meninas, aprendendo a jogar críquete.

Fora, gramados enormes, campos de futebol e quadras para os demais esportes. Não vi piscina, mas acho difícil imaginar que não haja.

Há também uma ala grande para alunos com necessidades especiais, perfeitamente equipada para alunos com diferentes tipos de deficiência.

No centro do prédio há um enorme refeitório, ao lado de uma cozinha industrial. É ali que os alunos almoçam – porque sua permanência na escola é, naturalmente, em período integral. Ao lado do refeitório há uma lojinha de café expresso.

A comida é exageradamente sadia. Os alunos não podem comer salgadinhos, doces, não podem acrescentar sal, pimenta, ketchup, mostarda e outros condimentos à comida que lhes é fornecida. Há razoável nível de escolha no que eles podem comer. Para cada item há um preço (bastante subsidiado), o que significa que os alunos pagam pelo que comem.

Vou ver se localizo o endereço do site que especifica a política alimentar do governo britânico para as escolas. É curioso.

[Acrescentado depois. Eis o site: http://www.schoolfoodtrust.org.uk/]

Enfim, é essa minha descrição da escola…

Enquanto estávamos lá, houve palestras e oficinas. Coordenei duas oficinas (a mesma oficina repetida duas vezes em horários naturalmente diferentes) sobre o tema “Ambientes de Aprendizagem”. Participaram delas uma professora da New Line Learning Academy e o diretor da Silverton Primary School de Melbourne, Australia. Se vocês imaginam que ficam encantado com oa New Line Learning Academy, vocês não viram nada: o meu encantamento com a Silverton foi muito maior. Mas, depois, falarei em mais detalhe dessa escola em meu blog principal (http://liberalspace.net).

Saímos de lá por volta das 15h30, chegando ao hotel por volta das 17h.

É isso.

Em Londres, 13 de Janeiro de 2011.

Lugares que eu conheço que são Patrimônio Cultural da UNESCO

Abaixo, a lista dos lugares que já tive o privilégio de conhecer que são designados como Patrimônio Cultural da UNESCO.

Ajudou-me a elaborá-la o site http://www.takingitglobal.org (dos meus amigos Michael Furdyk e Jennifer Corriero):

[x]  Austria, Historic Centre of the City of Salzburg
[x]  Austria, Historic Centre of Vienna
[x]  Austria, Palace and Gardens of Schönbrunn
[x]  Austria, Wachau Cultural Landscape
[x]  Brazil, Atlantic Forest South-East Reserves
[x]  Brazil, Brasilia
[x]  Brazil, Historic Centre of Salvador de Bahia
[x]  Brazil, Historic Centre of São Luís
[x]  Brazil, Historic Town of Ouro Preto
[x]  Brazil, Pantanal Conservation Area
[x]  Canada, Historic District of Québec
[x]  Chile, Historic Quarter of the Seaport City of Valparaíso
[x]  China, Historic Centre of Macao
[x]  China, Imperial Palaces of the Ming and Qing Dynasties in Beijing and Shenyang
[x]  China, Imperial Tombs of the Ming and Qing Dynasties
[x]  China, The Great Wall
[x]  Cuba, Old Havana and its Fortifications
[x]  Czech Republic, Historic Centre of Český Krumlov
[x]  Czech Republic, Historic Centre of Prague
[x]  Ecuador, City of Quito
[x]  Finland, Suomenlinna, Viapori-Sveaborg in Helsinki
[x]  France, Historic Centre of Avignon
[x]  France, Paris, Banks of the Seine
[x]  France, Strasbourg – Grande île
[x]  Greece, Acropolis, Athens
[x]  Israel, Masada
[x]  Israel, Old City of Jerusalem and its Walls
[x]  Italy, Assisi, the Basilica of San Francesco and Other Franciscan Sites
[x]  Portugal, Cultural Landscape of Sintra
[x]  Portugal, Historic Centre of Évora
[x]  Portugal, Historic Centre of Guimarães
[x]  Portugal, Historic Centre of Oporto
[x]  Portugal, Monastery of Alcobaça
[x]  Portugal, Monastery of Batalha
[x]  Portugal, Monastery of the Hieronymites and Tower of Belém in Lisbon
[x]  Turkey, Historic Areas of Istanbul
[x]  United States, Independence Hall
[x]  United States, La Fortaleza and San Juan Historic Site in Puerto Rico
[x]  United States, Monticello and the University of Virginia in Charlottesville
[x]  United States, Statue of Liberty
[x]  Vatican, Historic Centre of Rome, the Properties of the Holy See in that City Enjoying Extraterritorial Rights and San Paolo Fuori le Mura
[x]  Vatican, Vatican City

Em Lisboa, 07 de Janeiro de 2011

Isso não é Liberalismo (Capitalismo)…

Concordo plenamente com o artigo de Hélio Schwartsmann, transcrito abaixo. É muito difícil implantar o Liberalismo de estilo mais clássico no Brasil, liberalismo esse que eu defendo, não só porque o Estado tem uma fome intervencionista quase incontrolável, mas porque, também, empresários e corporações profissionais sucumbem o tempo todo à tentação de usar a mão do Estado para benefício próprio, privado. E como o Estado está sempre alerta para oportunidades de aumentar os seus tentáculos, acede com facilidade ao desejo dos empresários e das corporações profissionais. Assim não funciona. Os cidadãos se estrepam o tempo todo.

Vide meu post recente sobre o Exame da OAB:

http://liberalspace.net/2010/12/19/o-exame-da-oab/

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http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/855500-vivaldices-e-espertezas.shtml

Folha.com

06/01/2011 – 07h07

Vivaldices e espertezas

hélio schwartsman

OK. O capitalismo triunfou. Pelo menos nas experiências históricas que temos, economias planificadas, com funcionários estáveis e com remuneração fixa, não funcionam porque, podendo fazê-lo sem ônus econômicos e sociais, a maioria de nós prefere não trabalhar (ou, sendo um pouco mais generoso para com a natureza humana, fazê-lo em doses homeopáticas) a empenhar-se com todas as forças na consecução de tarefas muitas vezes aborrecidas e sem apelo intelectual.

Um dos problemas do Brasil é que, embora operemos sob a égide de um sistema econômico baseado na livre concorrência, não resistimos à tentação de pegar uma carona na autoridade do Estado para colher os lucros do capitalismo sem a necessidade de correr riscos ou conquistar o mercado pela qualidade dos produtos oferecidos e dos serviços prestados.

Faço essas reflexões a propósito de uma série de espertezas privadas que, de tão acostumados que estamos a ser tungados e ludibriados, já não nos tiram do sério –infelizmente.

A mais recente dessas vivaldices é o aumento na taxa da inspeção veicular ambiental que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), concedeu ao consórcio que realiza o serviço. Não me conto entre os defensores da poluição do ar. Acho que o poder público precisa mesmo regular a emissão de gases do transporte individual e é mais do que justo que cada proprietário de veículo pague pelas despesas daí decorrentes.

O que não me parece correto é que o reajuste ocorra sem que a ele corresponda um aumento de custos demonstrado. Trata-se, afinal, de uma concessão, uma atividade regulada pelo Estado cujo objetivo é a manutenção da qualidade do ar. Como o risco para a empresa que presta o serviço é mínimo (estamos todos obrigados por lei a nos submeter anualmente à inspeção), o lucro precisa ser pequeno: o suficiente para assegurar a viabilidade do negócio e remunerar o capital investido. Se assim não for, a inspeção deixa de ter o caráter público que a motivou e se torna um mecanismo de transferir renda da coletividade para firmas privadas. A coisa só fica mais suspeita quando se constata que algumas das empresas metidas no consórcio doaram dinheiro para o partido de Kassab na última campanha municipal.

Faço aqui um pequeno parêntese para acrescentar que, no capítulo qualidade do ar, a lista de pecados do poder público é bem maior. Como escrevi há pouco na versão impressa da Folha, é meio absurdo que a Petrobras, uma empresa que, por ser majoritariamente estatal, deveria colocar o interesse da sociedade à frente dos lucros, venha há anos procrastinando de modo até mesmo ilegal a introdução de combustíveis mais limpos no país. Outro ponto complicado é a política fiscal da maioria dos Estados que, ao contrário do que ocorre no mundo civilizado, não sobretaxa os veículos mais poluentes.

Voltando ao capitalismo à brasileira, o caso das inspeções está muito longe de ser o mais grave. Os pequenos golpes contra o bolso e a paciência do cidadão se sucedem em ritmo e variedade impressionantes. A troca das tomadas, por exemplo, foi, é preciso reconhecê-lo, uma jogada brilhante. Numa única canetada os fabricantes de plugues e adaptadores criaram “ex nihilo” todo um novo mercado. Mais interessante ainda, conseguiram um raro equilíbrio: a mudança causa um inconveniente que não é grande o suficiente para provocar mobilizações e protestos, mas basta para gerar lucros fabulosos.

No mesmo nível de genialidade eu só me lembro da iniciativa das autoridades de trânsito (as quais, aliás, operam um dos mais profícuos balcões de negócios do país) que alguns anos atrás obrigou todos os motoristas a adquirir e carregar para cima e para baixo um pedaço de gaze, um rolo de esparadrapo e um par de luvas de látex. Com isso, queriam nos fazer crer, estávamos prontos a atender a emergências médicas viárias.

Mais recentemente, esses mesmos impolutos administradores públicos impuseram a todos os compradores de carros a obrigação de pagar por um chip de localização e bloqueio, agora exigido em todos os veículos novos, mas que é totalmente inútil a menos que o proprietário seja cliente de uma seguradora. Até podemos discutir se faz ou não sentido exigir que todos os condutores tenham seguro total, como ocorre em vários países, mas, uma vez que isso não ocorre no Brasil, a nova regra constitui um enorme benefício às seguradoras difícil de justificar de um ponto de vista republicano.

Essa mania de tentar sequestrar a autoridade do Estado para gerar benefícios privados não é uma prática exclusiva de algumas grandes empresas e uns poucos administradores. Infelizmente, o buraco é mais embaixo. A ideia está profundamente enraizada em nossa cultura, afetando também indivíduos e categorias profissionais.

Os advogados, por exemplo, conseguiram criar dezenas de mecanismos legais que obrigam o cidadão a contratar seus serviços mesmo que não o desejem. É um contrassenso econômico e lógico. Se o sujeito não tem competência para fazer-se representar em juízo, tampouco a tem para nomear um causídico como seu “bastante procurador”.

Os médicos vão agora no mesmo caminho com a chamada regulamentação do ato médico que, para desespero de dentistas, psicólogos, fisioterapeutas etc., está prestes a ser aprovada no Congresso. A peça cria uma série de procedimentos que passariam a ser exclusivos dos médicos. Foram com tanta sede ao pote que acabaram incorrendo em piada involuntária, ao tornar o sexo uma zona restrita. De acordo com o art. 4º, pár. 4º, III, do PL nº 7.703/06, “a invasão dos orifícios naturais do corpo” é prática exclusiva da classe.

Diga-se em favor dos médicos que não foram eles que criaram todas essas restrições. Eles só reproduziram dispositivos constantes das regulamentações profissionais das categorias que agora combatem com afinco esse projeto.

E a coisa é bem mais disseminada. O Brasil é uma espécie de país das corporações. Indivíduos e categorias profissionais, em vez de firmar-se pela excelência, preferem sempre tentar criar uma boquinha para tornar sua atividade exclusiva quando não obrigatória.

Como observei numa coluna recente, tramitam no Congresso Nacional dezenas e dezenas de projetos que regulamentam, entre outras, as profissões de modelo de passarela (PL 4983/09), designer de interiores (PL 4525/08), detetives (25 PLs diferentes), babás (PL 1385/07), escritores (PL 3034/92), demonstrador de mercadorias (PL 5451/09), cerimonialista (PL 5425/09), educador social (PL 5346/09), fotógrafo (PL 5187/09), depilador (PL 4771/09). Já resvalando no reino da fantasia, busca-se também regulamentar a ocupação de astrólogo (PL 6748/02) e terapeuta naturista (PL 2916/92).

O problema é que qualquer grupo que tenha um mínimo de organização obtém sucesso senão em todos os pleitos ao menos em parte deles. O resultado é uma miríade de leis e regulamentos que, afora atender às demandas corporativas, só servem para frustrar direitos e dificultar a vida.

Se vamos ser capitalistas, como nos impõem o momento histórico e quem sabe até a biologia, deveríamos pelo menos tentar jogar o jogo direito. O poder do Estado deve ser usado para garantir a ordem e proteger a coletividade, não para garantir benefícios privados.

Hélio Schwartsman

Hélio Schwartsman, 44 anos, é articulista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou “Aquilae Titicans – O Segredo de Avicena – Uma Aventura no Afeganistão” em 2001. Escreve para a Folha.com.

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Transcrito aqui em Lisboa, 07 de Janeiro de 2011. (Dia do aniversário de nascimento de meus saudosos tios Alice e Anello, que já se foram há algum tempo).

Esquerda e Direita (segundo Antonio Prata)

Interessante e sugestivo o artigo de Antonio Prata em seu blog, sobre direita e esquerda. Muita coisa aí que faz pensar. Não concordo com tudo, mas consigo perfeitamente entender o que levou Antonio Prata a dizer o que disse.

Este é o segundo artigo de Antonio Prata que transcrevo aqui, um atrás do outro.

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http://blogdoantonioprata.blogspot.com/2007/11/direita-x-esquerda-o-retorno_26.html

http://blogs.estadao.com.br/antonio-prata/direita-x-esquerda-o-retorno/

http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=242&titulo=Direita,_Esquerda_%26%238213%3B_Volver!

Blog de Antonio Prata

Monday, November 26, 2007

Direita X Esquerda – o retorno

Depois que o muro de Berlim foi partido em cubinhos e vendido como souvenir, Che Guevara passou a usar o chapéu do Mickey Mouse e a Colgate uniu o mundo num único e branco sorriso, muita gente pensou que esquerda e direita tinham ficado para trás. Dizia-se que, dali em diante, os termos só seriam usados para indicar o caminho no trânsito e diferenciar os laterais no futebol. Afinal de contas, estávamos no fim da história e, como sabíamos desde criancinhas, todos viveriam felizes para sempre.

Mas o mundo gira, gira e – eis aí um grande problema de rodar em torno do próprio eixo – voltamos para o mesmo lugar. Se a história se repete como farsa ou como história mesmo, não faço a menor idéia, mas ouso dizer, parafraseando Nelson Rodrigues (que já foi de direita, mas o tempo e Ruy Castro liberaram para a esquerda), que hoje em dia não se chupa um Chicabom sem optar-se por um dos blocos.

Ah, como fomos tolos! Acreditar que aquela dicotomia ontológica resumia-se à discussão sobre quanto o Estado deveria intervir no mercado (ou quanto o Mercado deveria ser regulado pelo estado, o que vem a ser a mesma coisa, de maneira completamente diferente) é mais ou menos como pensar que a diferença entre homens e mulheres restringe-se ao cromossomo Y. Ou ao comprimento do cabelo.

Estado e Mercado são apenas a ponta de um iceberg, ou melhor, dois icebergs sociais, culturais, gastronômicos, gramaticais, musicais, lúdicos, léxicos, religiosos, higiênicos, esportivos, patafísicos, agronômicos, sexuais, penais, eletro-eletrônicos, existenciais, metafísicos, dietéticos, lógicos, astrológicos, pundonôricos, astronômicos, cosmogônicos — e paremos por aqui, porque a lista poderia levar o dia todo.

Justamente agora, quando esquerda e direita, pelo menos em suas ações, pareciam não divergir mais sobre as relações entre Estado e Mercado (ponhamos assim, os dois com maiúsculas, para não nos acusarem de nenhuma parcialidade), a discussão ressurge lá do mar profundo, com toda a força, como o tubarão de Spielberg.

Para que o pasmo leitor que, como eu, dá um boi para não entrar numa discussão, mas uma boiada para não sair, não termine seus dias sem uma única rês, resolvi enumerar algumas diferenças entre essas, digamos, maneiras de estar no mundo. Dessa forma saberemos, ao comentar numa mesa de bar, na casa da sogra ou na padaria da esquina, “dizem que o filme é chato” ou “como canta bem esse canário belga”, se estamos ou não pisando inadvertidamente numa dessas minas ideológicas, mandando os ânimos pelos ares e causando inestancáveis verborragias.

A lista é curta e provisória. Outras notas vão entrar, mas a base, por ora, é essa aí. Se a publico agora é por querer evitar, mesmo que parcialmente, que mais horas sejam ceifadas, no auge de suas juventudes, nas trincheiras da mútua incompreensão. Vamos lá.

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A esquerda acha que o homem é bom, mas vai mal — e tende a piorar. A direita acredita que o homem é mau, mas vai bem — e tende a melhorar.

A esquerda acusa a direita de fazer as coisas sem refletir. A direita acusa a esquerda de discutir, discutir, marcar para discutir mais amanhã, ou discutir se vai discutir mais amanhã e não fazer nada. (Piada de direita: camelo é um cavalo criado por um comitê).

Temos trânsito na cidade. O que faz a direita? Chama engenheiros e constrói mais pontes. Resolve agora? Sim, diz a direita. Mas só piora o problema, depois, diz a esquerda. A direita não está preocupada com o depois: depois é de esquerda, agora é de direita.

Temos trânsito na cidade. O que faz a esquerda? Chama urbanistas para repensar a relação do transporte com a cidade. Quer dizer então que a Marginal vai continuar parada ano que vem?, cutuca a direita. Sim, diz a esquerda, mas outra cidade é possível mais pra frente. A direita ri. “Outra” é de esquerda. “Isso” é de direita.

Direita e esquerda são uma maneira de encarar a vida e, portanto, a morte. Diante do envelhecimento, os dois lados se dividem exatamente como no urbanismo. Faça plásticas (pontes), diz a direita. Faça análise, (discuta o problema de fundo) diz a esquerda. (“filosofar é aprender a morrer”, Cícero). Você tem que se sentir bem com o corpo que tem, diz a esquerda. Sim, é exatamente por isso que eu faço plásticas, rebate a direita. Neurótica! — grita a esquerda. Ressentida! — grita a direita.

A direita vai à academia, porque é pragmática e quer a bunda dura. A esquerda vai à yoga, porque o processo é tão ou mais importante que o resultado. (Processo é de esquerda, resultado, de direita).

Um estudo de direita talvez prove que as pessoas de direita, preocupadas com a bunda, fazem mais exercícios físicos do que as de esquerda e, por isso, acabam sendo mais saudáveis, o que é quase como uma aplicação esportiva do muito citado mote de Mendeville, de que os vícios privados geram benefícios públicos — se encararmos vício privado como o enrijecimento da bunda (bunda é de direita) e benefício público como a melhora de todo o sistema cardio-vascular. (Sistema cardio-vascular é de esquerda).

Um estudo de esquerda talvez prove que o povo de esquerda, mais preocupado com o processo do que com os resultados, acaba com a bunda mais dura, pois o processo holístico da yoga (processo, holístico e yoga são de extrema esquerda) acaba beneficiando os glúteos mais do que a musculação. (Yoga já é de direita, diz alguém que lê o texto sobre meus ombros, provando que o provérbio correto é “pau que nasce torno, sempre se endireita”).

Dieta da proteína: direita. Dieta por pontos: esquerda. Operação de estômago: fascismo. Macrobiótica: stalinismo. Vegetarianismo: loucura. (Foucault escreveria alguma coisa bem interessante sobre os Vigilantes do Peso).

Evidente que, dependendo da época, as coisas mudam de lugar. Maio de 68: professores universitários eram de direita e mídia de esquerda. (“O mundo só será um lugar justo quando o último sociólogo for enforcado com as tripas do último padre”, escreveram num muro de Paris). Hoje a universidade é de esquerda e a mídia, de direita.

As coisas também mudam, dependendo da perspectiva: ao lado de um suco de laranja, Guaraná é de direita. Ao lado de uma Coca-Cola, Guaraná é de esquerda. Da mesma forma, ao lado de um suco de graviola, pitanga ou umbu (extrema-esquerda), o de laranja vira um generalzinho. (Anauê juice fruit: 100% integralista).

Leão, urso, lobo: direita. Pinguim, grilo, avestruz: esquerda. Formiga: fascismo. Abelha: stalinismo. Cachorro: social democrata. Gato: anarquista. Rosa: direita. Maria sem-vergonha: esquerda. Grama: nacional socialismo. Piscina: direita. Cachoeira: esquerda. (Quanto ao mar, tenho minhas dúvidas, embora seja claro que o Atlântico e o Pacífico estejam, politicamente, dos lados opostos aos que se encontram no mapa). Lápis: esquerda. Caneta: direita. Axilas, cotovelo, calcanhar: esquerda. Bíceps, abdomem, panturrilha: direita. Nariz: esquerda. Olhos: direita. (Olfato é sensação, animal, memória. Visão é objetividade, praticidade, razão).

Liquidificador é de direita. (Maquiavel: dividir para dominar). Batedeira é de esquerda. (Gilberto Freyre: o apogeu da mistura, do contato, quase que a massagem dos ingredientes). Mixer é um caudilho de direita. Espremedor de alho é um caudilho de esquerda. Colher de pau, esquerda. Teflon, direita. Mostarda é de esquerda, catchupe é de direita — e pela maionese nenhum dos lados quer se responsabilizar. Mal passado é de esquerda, bem passado é de direita. Contra-filé é de esquerda, filé mignon é de direita. Peito é de direita, coxa é de esquerda. Arroz é de direita, feijão é de esquerda. Tupperware, extrema direita. Cumbuca, extrema esquerda. Congelar é de direita, salgar é de esquerda. No churrasco, sal grosso é de esquerda, sal moura é de direita e jogar cerveja na picanha é crime inafiançável.

Graal é de direita, Fazendinha é de esquerda. Cheetos é de direita, Baconzeetos é de esquerda e Doritos é tucano. Ploc e Ping-Pong são de esquerda, Bubaloo é de direita.

No sexo: broxada é de esquerda. Ejaculação precoce é de direita. Cunilingus: esquerda. Fellatio: direita. A mulher de quatro: direita. Mulher por cima: esquerda. Homem é de direita, mulher é de esquerda. (mas talvez essa seja a visão de uma mulher — de esquerda).

Vogais são de esquerda, consoantes, de direita. Se A, E e O estiverem tomando uma cerveja e X, K e Y chegarem no bar, pode até sair briga. Apóstrofe ésse anda sempre com Friedman, Fukuyama e Freakonomics embaixo do braço. (A trema e a crase acham todo esse debate uma pobreza e são a favor do restabelecimento da monarquia).

“Eu gostava mais no começo” é de esquerda. “Não vejo a hora de sair o próximo” é de direita.

Dia é de direita, noite é de esquerda. Sol é de direita, lua é de esquerda. Planície é de direita, montanha é de esquerda. Terra é de direita, água é de esquerda. Círculo é de esquerda, quadrado é de direita. “É genético” é de direita. “É comportamental” é de esquerda. Aproveita é de esquerda. Joga fora e compra outro, de direita. Onda é de direita, partícula é de esquerda. Molécula é de esquerda, átomo é de direita. Elétron é de esquerda, próton é de direita e a assessoria do neutron informou que ele prefere ausentar-se da discussão.

To be continued (para os de direita)

Under construction (para os de esquerda)

posted by blog do antonio prata at 11:38 AM

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Transcrito aqui em Lisboa, 05 de Janeiro de 2011

Os Homens são Eternas Crianças a Brincar na Areia…

Deliciosa crônica de Antonio Prata em seu blog, no UOL.

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http://antonioprata.folha.blog.uol.com.br/arch2011-01-02_2011-01-08.html

Crônicas e Outras Milongas

05/01/2011

Bando

Antonio Prata

Publicado na revista Los Dos

Nós, homens, somos seres amaldiçoados: passamos metade da vida buscando a mulher ideal e a outra metade procurando desculpas para sair com os amigos, sem que ela fique brava com a gente.

Mulheres, não nos julguem mal. Há algo de infantil em nossa alma que nunca amadurece. Um sentimento de bando que começa ali no tanque de areia, com quatro ou cinco hominhos cavucando e jogando conversa fora, e jamais se perde. “Que que cê tá fazendo aí, castelo?”. “Não, vulcão. E você?”. “Um túnel”. “Ah, legal. Posso ajudar?”. “Chega aí. Cava desse lado que eu cavo desse, vamos ver se junta”. O futebol de terça à noite, a cerveja domingo à tarde, o boliche ou a pescaria nada mais são do que repetição da mesma cena: quatro ou cinco moleques, sem nenhuma mulher por perto, dedicando-se a alguma tarefa simples e inútil.

Entenda, cara leitora, que não é por machismo que queremos ficar entre os do mesmo gênero, algumas horas por semana. É que a presença feminina sempre nos inibe. Exige seriedade, responsabilidade, maturidade. Diante de uma mulher, não há como não assumirmos nossas inúmeras personas de filhos, maridos, alunos. Por mais a vontade que estejamos, uma parte de nosso ser sempre estará alerta, preocupada em não falar com a boca cheia, não botar mostarda no feijão, usar corretamente os pronomes e plurais. Por que é assim? Porque as mulheres são chatas? Nada disso, é porque não queremos fazer feio, queremos impressioná-las bem, escondendo o Homer Simpson que vive em cada um de nós.

Se você for pensar bem, todos os grandes feitos do homem foram desculpas que arrumaram para ficar com os amigos sem que suas mulheres brigassem. Veja as grandes navegações: você nunca achou estranho que os caras saíssem da Península Ibérica e dessem a volta na África atrás de especiarias? É que eles precisavam de uma ótima explicação para se meterem em barcos por meses, só com homens e tonéis de bebida, parando de porto em porto. Voltando carregados de canela, cravo, cardamomo, açafrão e companhia, a barra ficava um pouquinho menos suja, em casa.

Mais tarde, Cabral, Pero Vaz e sua turma disseram que iam pras Índias, mas cruzaram o Atlântico, chegaram ao Brasil e encontraram várias índias nuas, “com as vergonhas mui saradinhas”, como escreveu Caminha ao rei. O que fizeram nossos portugas, para não dar chabu, na volta? Carregaram seus barcos com troncos de uma árvore de onde se extraía boa tinta vermelha, para tecidos. Disseram, “olha só, querida, erramos o caminho, voltamos meses após o combinado, mas agora você pode, finalmente, tingir as cortinas da sala”.

Assista Apolo 13 e você vai ver que a ida a Lua foi basicamente a mesma coisa. Um bando de homens construindo um brinquedinho capaz de levar três deles até nosso satélite natural. Fazer o que, lá? Picas! Ficar sem tomar banho, batendo papo, urinando num saquinho (sem se preocupar em levantar ou abaixar a tampa), comendo só comida industrializada, depois pousar, descer, coletar umas pedras, entrar na nave e voltar pra Terra. É o tanquinho de areia, elevado à milésima potência. E quando a nave falha e a brincadeira ameaça dar em tragédia, qual é a primeira cena que o filme mostra? A esposa de um deles, puta, ligando pra NASA: “que que tá acontecendo?!”. O cara lá da agência espacial, espécie de líder do tanquinho, diz pra mulher ficar calma, eles vão dar um jeito naquilo. Então convoca todos os cientistas e, por dias a fio, trabalham sem descanso. Claro. O que estava em jogo ali não era só a vida de três seres humanos, mas a palavra de todos os homens da Terra, quando dizemos que não é para elas se preocuparem ao sairmos, que vamos logo ali, encontrar uns amigos, fazer sei lá que coisa simples e inútil, mas voltamos antes do jantar – com um potinho de canela, suco de pau Brasil, uns peixes da pescaria ou uma pedra da lua.

Não era de se admirar que, com tanto em jogo, os astronautas chegassem vivos.

Escrito por Antonio Prata às 00h53

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Transcrito aqui em Lisboa, 05 de Janeiro de 2011

Os números de 2010

[Post publicado automaticamente (depois de pedida minha autorização) pelo WordPress. Curiosamente, parte dele está em Português e parte em Inglês. E a parte que está em Português está, pelo menos em parte, em Português de Portugal – haja vista o “Atracções”. Deixo o post transcrito aqui porque as informações são interessantes – mesmo que as piadinhas sejam meio sem graça… EC]

Os duendes das estatísticas do WordPress.com analisaram o desempenho deste blog em 2010 e apresentam-lhe aqui um resumo de alto nível da saúde do seu blog:

Healthy blog!

O Blog-Health-o-Meter™ indica: Uau.

Números apetitosos

Featured image

Um duende das estatísticas pintou esta imagem abstracta, com base nos seus dados.

Um Boeing 747-400 transporta 416 passageiros. Este blog foi visitado cerca de 10,000 vezes em 2010. Ou seja, cerca de 24 747s cheios.

In 2010, there were 154 new posts, growing the total archive of this blog to 662 posts. Fez upload de 27 imagens, ocupando um total de 15mb. Isso equivale a cerca de 2 imagens por mês.

The busiest day of the year was 16 de novembro with 249 views. The most popular post that day was John Locke, o pai do Liberalismo.

De onde vieram?

Os sites que mais tráfego lhe enviaram em 2010 foram google.com.br, facebook.com, search.conduit.com, aynrand.com.br e link.smartscreen.live.com

Alguns visitantes vieram dos motores de busca, sobretudo por desigualdade educacional, john locke liberalismo, o cristianismo e a arte, john locke e o liberalismo e howard gardner. concordo!

Atracções em 2010

Estes são os artigos e páginas mais visitados em 2010.

1

John Locke, o pai do Liberalismo agosto, 2005
1 comentário

2

Saviani e a Pedagogia Histórico-Crítica janeiro, 2005
7 comentários

3

Modelos pedagógicos janeiro, 2005
1 comentário

4

O socialismo, o liberalismo, a pobreza e a desigualdade maio, 2006
2 comentários

5

Desigualdade educacional janeiro, 2006
1 comentário

Em Lisboa, 4 de Janeiro de 2010

Portugalícia (Portugaliza)

Transcrevo,  abaixo,  o  interessante  artigo  “Portugaliza”,  da  Wikipedia  Portuguesa.   Ele pode ser encontrado em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugaliza.

O artigo contém a seguinte advertência:

“Este artigo ou secção possui passagens que não respeitam o princípio da imparcialidade. Tenha algum cuidado ao ler as informações contidas nele. Se puder, tente tornar o artigo mais imparcial.”

Aprendi bastante fuçando sobre a Galícia / Galiza hoje… No ano passado, percorremos, a Paloma e eu, parte da Galícia e de Castilla y León. Almoçamos na linda cidadezinha de Pueblo de Sanabria, em Castilla y León, já quando começávamos descer de volta para Portugal, em direção a Bragança. Vide:

http://es.wikipedia.org/wiki/Puebla_de_Sanabria

Hoje, lendo e fuçando, descobri o artigo “Portugaliza”, na Wikipedia, que fala do conceito de um “Grande Portugal”, que inclui a Galícia, posto que cultural e linguisticamente a Galícia seria mais próxima de Portugal do que da Espanha, à qual teria sido forçada a se assimilar.

Trago a discussão à baila aqui… Chaves, minha “cidade natal” em Portugal, no Trás-os-Montes, é muito perto da Galícia – não mais do que uns dez quilômetros.

Eis o artigo.

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Portugaliza

Proposição de Brasão

Brasão

Localização

Mapa de Portugaliza

Cidade mais populosa: Lisboa

Língua oficial: Português

Moeda: Euro[1] (EUR)

Portugaliza ou simplesmente Grande Portugal é o nome com o qual algumas pessoas e instituições denominam a união cultural, linguística, histórica e geográfica entre os povos de Portugal e da Galiza.

O termo tem sido amplamente usado pelos escritores e intelectuais portugueses Manuel Rodrigues Lapa e José Rodrigues Miguéis e foi também utilizado para a formação do Centro de Média Independente-Portugal[2] e Galiza [3] no qual participaram voluntários da Galiza e de Portugal para poupar esforços e fazer um trabalho comum tendente a formar uma iniciativa pioneira de comunicação, já fundamental para a quebra de barreiras que separam Portugal e a Galiza depois de séculos de afastamento.

Índice

1 Visão Histórico-Cultural

2 Visão Sócio-Cultural

3 Referências

4 Ligações externas

Visão Histórico-Cultural

Portugal tem uma forte ligação histórica com a Galiza, visto que Portugal emergiu em 1143 como reino independente a partir do Condado Portucalense que era até então parte integrante do Reino da Galiza, condado Portucalense este que nessa altura já se entendia desde Minho e Trás-os-Montes[4] até ao Condado de Coimbra e Viseu[5].

Contudo e consumada a separação entre o Condado Portucalense e o Reino da Galiza com o emergir do Reino de Portugal, Portugal e a Galiza seguiram caminhos totalmente diferentes até aos dias de hoje, o Reino da Galiza acabou por ser extinto e incorporado na Espanha em 1833 depois de um longo processo de castelhanização a nível social, cultural e linguístico às mãos do império castelhano.

Pelo contrário Portugal continuou a sua expansão territorial como reino e país independente desde o Condado Portucalense, o denominado berço da nação que tinha como capital Guimarães até ao Algarve, e daí para além-mar com a Época dos descobrimentos.

No entanto, ainda hoje e quase um milénio após as separações políticas entre Portugal e a Galiza, os cidadãos dos dois lados da fronteira partilham alguma da identidade cultural, mas acima de tudo linguística visto que o Português e a língua Galega são 2 línguas irmãs, que derivam de uma língua comum, o Galaico-Português também denominado de Português arcaico.

Anteriormente a isto e reportando-nos ao período Romano, os territórios que actualmente compõem a Galiza, a zona de Portugal a Norte do Rio Douro, bem como a actual comunidade espanhola das Asturias e as actuais provincias de Leão e Zamora fizeram parte da então denominada provincia Romana da Galécia, tendo como capital Braga, provincia esta criada aquando da 3ª divisão provincial da hispânia realizada pelo imperador Diocleciano em 298 d.c., visto que antes a Galécia estava incorporada na provincia Tarraconense.

Visão Sócio-Cultural

Poderíamos definir a Portugaliza como um espaço com fortes ligações históricas, geográficas, económicas, culturais e linguísticas, espaço este que abrange Portugal e a Galiza[6] , que se enquadra na faixa atlântica da península ibérica ,com uma população de 13 milhões e 700 mil de habitantes e um PIB de 300.000.000 (Mil. Eur. 2007).

Os principais centros culturais, políticos, económicos e académicos são Lisboa, que na acepção de área urbana entre Setúbal e Torres Vedras, conta com cerca de 3 milhões de habitantes, o Porto, que na acepção de área urbana entre Espinho, Gondomar e Vila do Conde conta cerca de 1,5 milhões de habitantes, seguindo-se depois a Corunha, Vigo, Braga, Coimbra, Santiago de Compostela, Leiria e Faro.

Essa grande frente atlântica da Península, da Corunha a Faro, poderia vir a ser um imenso projecto económico, assente numa base sócio-cultural única, forte e homogénea, de ordem cultural e linguística, com enorme poder de atracção ao serviço da comunidade mundial dos Países Lusófonos.[7]

Os principais centros religiosos seriam o Santuário de Fátima e o Santuário de Santiago de Compostela.

Referências

Antes de 2002: Escudo

Centro de Média Independente – Portugal.

Centro de Média Independente – Galiza.

Instituto Camões – “Formação de Portugal”, pág. 33. Ramos, Rui. História de Portugal, pág. 25.(2009)

Portugaliza.

Revista de informação cultural e cientifíca – Portugaliza.

Ligações externas

Revista Portugaliza – Revista de Informação e Cultural e Científica

AGAL – Associação Galega da Lingua

Portal Galego da Língua

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Em Lisboa, 30 de Dezembro de 2010

“Se não vos fizerdes como crianças…”

Interessante o artigo de João Pereira Coutinho na Folha de hoje (28/12/10 – já 29/12 em Lisboa) — http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2812201021.htm. Transcrevo trechos abaixo.

Faz-me lembrar de uma frase genial de Thomas Sowell, que é um dos motes deste blog:

“Parecemos estar nos movendo na direção de uma sociedade em que ninguém é responsável por aquilo que faz ou fez e todos somos responsáveis por aquilo que os outros fazem ou fizeram”.

O governo e as leis nos tratam, a nós adultos, como menores incapazes. Se ganhamos pouco, o governo suplementa nossa renda com uma bolsa – ou várias. Se ficamos desempregados, temos seguro desemprego – mesmo sem tê-lo contratado. Se nos queimamos com o café do McDonald’s, o governo decreta que temos direito a uma indenização por ter o McDonald’s feito aquilo que devia fazer, a saber, servido café quente, e não frio. Se pegamos câncer do pulmão porque fumamos a vida inteira, o culpado é o fabricante de cigarros, não nós, em nossa decisão de fumar. 

Enfim, diante desse quadro, é surpresa que nos tornemos cada vez mais crianças – quem sabe na esperança de, assim, herdar não só o Reino dos Céus, mas também o da Terra?

Eis o que diz (em parte) o artigo de Coutinho:

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Campanhas nos dizem o que devemos ser, pensar, comer, dizer, como nos devemos comportar.   . . .

A triste verdade é que estamos mais infantis do que nunca. O jornalista britânico Michael Bywater, em livro sobre a matéria (“Big Babies, Or: Why Can’t We Just Grow Up?”, grandes bebês, ou por que não podemos simplesmente ficar adultos), já tinha alertado para o fato: a todas as horas, em todos os lugares, são infindas as campanhas que tratam o parceiro como criança.

Campanhas que nos dizem o que devemos ser, pensar, comer, dizer, como nos devemos comportar, vestir e até se despir, ou não fosse o sexo o prato principal das sociedades adolescentes em que vivemos.

Essa infantilização absoluta dos cidadãos não é apenas praticada por autoridades democraticamente eleitas, que aconselham roupa quente quando faz frio ou guarda-chuva quando cai chuva.

Encontra-se na quantidade obscena de publicações que determinam ‘estilos’ e ‘tendências’ como se um ser adulto precisasse de ter um ‘estilo’ e cultivar uma ‘tendência’. Escreve Bywater, em frase primorosa: ‘O meu pai não tinha estilo de vida. Ele tinha uma vida.’ Curioso. O meu também. E o seu, leitor?

No Ocidente balofo e pós-ideológico, ninguém tem uma vida para viver em paz. Porque só é possível ser adulto quando somos deixados em paz: nós, confrontados com as nossas escolhas e responsabilidades, sem uma mão paternalista a guiar as nossas existências.

O circo em volta impede essa autonomia ao prolongar perpetuamente a infância. Quando somos tratados como crianças, dificilmente deixaremos de ser crianças.”

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Em Lisboa, 28 de Dezembro de 2010

Orgulho Líquido

Interessante o artigo de Nizan Guanaes na Folha de hoje (de ontem, se considerar a hora aqui em Lisboa). Sei que há gente que não vai gostar, mas…

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Folha de S. Paulo
28 de Dezembro de 2010

Orgulho líquido

NIZAN GUANAES

Se, depois do lucro líquido, não sobrar orgulho, um dia provavelmente não vai sobrar nada para contar

ERRAMOS MUITO neste país, mas finalmente aprendemos com nossos erros. E, se nós não estamos ainda em plena forma, descobrimos um caminho para chegar lá.

Viver é errar e consertar rápido. Fazer leva tempo. Fazer direito, certo e benfeito leva tempo.

Numa trajetória de crescimento, há muito para comemorar e correções de rotas a fazer. Isso vale para países, para pessoas e para empresas. Numa empresa, só o lucro liberta.

É o que digo aos meus sócios: você entrega o lucro, e eu não apareço para encher o seu saco.

Mas o momento é de aperfeiçoarmos esse conceito. Em vez de só lucro líquido, vamos buscar o orgulho líquido. Se, depois do lucro líquido, não sobrar orgulho, um dia provavelmente não vai sobrar nada para você contar. E criar orgulho é muito mais difícil do que criar lucro. Esse desafio, enorme, deve servir como novo combustível para impulsionar nossas empresas.

Fazer lucro não fazendo a entrega certa é cuidar da sua cadeia produtiva de maneira vil: é não cuidar do funcionário, é não dar assistência e horizonte para ele, é só dar tapinha nas costas, é ser displicente com os fornecedores e com as comunidades envolvidas.

Isso não é lucro sustentável por nenhum ângulo que se observe. A responsabilidade social, em todos os sentidos, deve estar inserida no modelo de negócio das empresas e das organizações.

Responsabilidade social é trabalhar para produtos e serviços que orgulhem a empresa, é adotar práticas comerciais que orgulhem os nossos filhos.

Responsabilidade social é ter o melhor lucro dentro das melhores práticas. E só empresas altamente lucrativas e altamente responsáveis vão prosperar neste mundo altamente competitivo em que lutamos. O lucro e a responsabilidade podem ter sido inimigos no passado, mas são grandes aliados neste futuro que já chegou.

Isso passa pelo desafio de reter talentos -e, quanto mais sofisticadas as tecnologias, maior a necessidade dos talentos. É preciso treinar, engajar em valores e sonhos. Um sonho grande e inclusivo. E se for apenas um sonho por dinheiro, será impossível reter os talentos num mercado tão aquecido e com tantas oportunidades.

Um sonho grande se constrói com orgulho líquido. Seu colaborador precisa pensar da sua empresa: “Eu me orgulho de suas práticas, do seu cuidar das pessoas. Porque ela cobra com rigor, mas remunera com justiça”.

Nós, brasileiros, nos orgulhamos de todo brasileiro que vence, criando valor e devolvendo ao país e às comunidades onde se formou e atua. Muitos desses orgulhos já são verdades hoje. Outros são ainda desafios à frente.

Num país onde tantas empresas juntas foram reunidas com pessoas de origens e culturas tão diferentes, é preciso respeitar o histórico das lideranças e o DNA das empresas e das organizações.

Mas precisamos construir com disciplina uma cultura de orgulho líquido, para termos as melhores organizações dentro das melhores práticas. Assim teremos as grandes líderes, as formadoras de orgulho bruto.

Como fazer sucesso, como ter qualidade, como reter talentos sendo responsável? Siga o dinheiro, mas o dinheiro orgulhoso.

Se você pensa que sabe tudo, está obsoleto. Quem diz que sabe tudo sobre seu próprio negócio está morto. É preciso inovação. Para fazer mais rápido, mais sustentável, mais barato, mais produtivo, melhor.

Convido a todos neste momento reflexivo do ano a fazerem duas perguntas que tenho feito: Isso vai dar dinheiro? Isso vai dar orgulho (para mim, para minha carreira, para meus clientes, para meus colegas, para meus filhos, para meus sócios)?

E vamos assim construir o Brasil 2020.

Fizemos muito nesses últimos dez anos. Até por isso, temos hoje mais capacidade de fazer mais e melhor. Estamos quase em cruzeiro. De tão intenso, 2010 demorou a acabar. A agenda de 2011 já está cheia. Ao trabalho, com orgulho.

Mas antes vamos festejar e descansar, que ninguém é de ferro. Feliz Ano-Novo a todos.

NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, nesta coluna.

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Em Lisboa, 28 de Dezembro de 2010