Novas Gerações Mimadas e “Estragadas”

Um livro interessante, de autoria conjunta de Jonathan Haidt e Greg Lukianoff, discute um problema sério que existe nos Estados Unidos hoje: a sensibilidade das duas últimas gerações (por aí) está se tornando por demais exacerbada, porque essas gerações foram mimadas demais – e o excesso de mimo as “estragou” (da mesma forma que o excesso de atenção, cuidado e liberalidade pelos avós “estraga” os nossos filhos).

O americano mais antigo, que livros e filmes costumavam chamar de “The Ugly American” (O Americano Feio), tipificado por Marlon Brando, no filme de 1954 On the Waterfront (Sindicato de Ladrões, no Brasil, Há Lodo no Cais, em Portugal), era um sujeito de “casca dura”, que aguentava bastante bem um bate-boca pesado, e, no mais das vezes, se saía vencedor dele. O americano das novas gerações, ao contrário, é o que os autores chamam de “The Coddled American” (O Americano Mimado), um sujeito de “casca fina”, extremamente delicada, supersensível, protegido ao extremo, tratado com excesso de indulgência, que foi “estragado” por excesso de mimo… Qualquer coisa o magoa ou ofende – e sua reação não é revidar, partir para o bate-boca pesado, de gente grande… Sua reação é buscar a proteção da autoridade – em última instância, do governo (que, por sinal, tem atendido a maior parte de suas demandas – o que torna a situação ainda pior, porque mostra que, de certa forma, dá certo e vale a pena se passar por vítima). Os Estados Unidos viraram uma nação de vítimas.

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Haidt e Lukianoff deram ao seu livro o título de The Coddling of the American Mind: How Good Intentions and Bad Ideas are Setting Up a Generation for Failure. O verbo “coddle” quer dizer mimar, superproteger, “estragar” uma criança por excesso de atenção e cuidado (como em geral o fazem, do ponto de vista dos pais, os avós, como mencionado atrás). A tradução (admitidamente difícil) do título poderia ser Excesso de Indulgência para com a Mente do Americano: Como Boas Intenções e Ideias Ruins Estão Preparando uma Geração para o Fracasso. O livro foi publicado neste ano de 2018 pela Penguin Press (New York). Ambos os autores têm livros importantes que, de certo modo, prepararam o caminho para este. Jonathan Haidt é autor de The Righteous Mind: Why Good People Are Divided by Politics and Religion (A Mente Justa: Por que Pessoas Boas São Divididas pela Política e pela Religião) e Greg Lukianoff de Unlearning Liberty: Campus Censorship and the End of American Debate (Desaprendendo a Liberdade: Censura no Campus e o Fim do Debate nos Estados Unidos).

A tese dos autores (um, Haidt, é psicólogo na linha da Psicologia Positiva de Martin Seligman, o outro, Lukianoff, é advogado que concentra sua atenção na defesa do direito de pensar livremente e expressar com igual liberdade o pensamento através da linguagem) é relativamente simples. Essa sensibilidade exacerbada prejudica as pessoas e enfraquece a nação.

Haidt e Lukianoff começam o seu livro discutindo “Três Grandes Inverdades” – algo que poderia ser mais bem descrito como “Três Grandes Tendências Prejudiciais aos Indivíduos e à Sociedade”.

A primeira dessas tendências pode ser introduzida, pela via negativa, por um ditado que existe, em variante, aqui no Brasil. Aqui o ditado é “O que não mata, engorda”. Nos Estados Unidos é “O que não mata, fortalece” (versão, na minha opinião, bem mais adequada). Esse ditado expressa uma grande verdade (não uma inverdade). A ideia do ditado, em sua versão americana, evidentemente é que debate, a discussão, o bate-boca, ainda que acirrado e pesado (desde que não chegue às vias de fato, em que um debatedor silencia o outro na porrada e, em casos extremos, matando-o), só torna as pessoas mais fortes. Os autores lamentam o fato de que o ditado acabou se tornando diferente, na realidade o seu oposto, na vida acadêmica americana, onde vigora hoje o seguinte princípio: “Mesmo que não mate, a linguagem que usamos pode machucar e, assim, enfraquecer as pessoas com quem dialogamos, ou a quem nos dirigimos, ou a quem nos referimos”. Essa a primeira tendência, que os autores chamam de primeira grande inverdade.

A coisa começou na universidade, que, com (talvez) a boa intenção de não permitir que pessoas de raça, sexo e orientação sexual diferente fossem ofendidas pelas demais (de raça “majoritária”, de sexo “forte”, de orientação sexual “dominante”), criaram Speech Codes (Códigos de Fala), proibindo determinados tipos de palavras e expressões em debate, em discussão ou mesmo em conversa informal e corriqueira no campus. Da universidade a coisa se expandiu para a mídia e de lá para a sociedade em geral. Determinados termos, determinadas expressões, e mesmo determinados conteúdos (ainda que expressos em linguagem inatacável) se tornaram tabus. Com isso surgiu o que poderia ser chamada de uma polícia linguística (que, na realidade, é uma “polícia do pensamento”, que se incumbiu (e em muitos casos foi oficialmente incumbida) de punir linguagem “politicamente incorreta”. O politicamente correto acabou por ir além de temas como raça, sexo e orientação sexual.

O fenômeno já chegou ao Brasil. Talvez o exemplo mais chocante tenha sido o do crítico de cinema Rubens Ewald Filho, na transmissão do Oscar de 2018 pela TNT. A apresentação da canção “Mystery of Love“, trilha sonora do filme que em Português se chama “Me Chame Pelo Seu Nome”, foi feita por uma pessoa chilena que é “transgender” e que é conhecida pelo nome de Daniela Vega. Ela, que foi a protagonista do filme  “Uma Mulher Fantástica” (título em Português), premiado como o melhor filme estrangeiro, em que representa uma pessoa “transgender”, estava linda, maquiada como mulher e vestida de mulher. Com o intuito de informar os telespectadores – era para isso que ele ali estava, não é verdade? – Rubens Ewald Filho disse no ar algo como: “Apesar da aparência e do nome, ela é um rapaz”. Foi crucificado. Houve abaixo-assinados para que ele fosse imediatamente demitido de sua função de crítico do Oscar pela TNT – que não o demitiu mas o censurou publicamente, levando-o a pedir desculpas também publicamente, não se sabe muito bem a quem: provavelmente aos que se ofenderam com sua insensibilidade. Foi execrado como sexista e transfóbico. Esse tratamento em geral é chamado de “public shaming” (envergonhamento publico, execração pública). (Vide https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2018/03/05/tnt-reprova-comentarios-de-rubens-ewald-filho-no-oscar-critico-se-desculpa.htm).

A segunda dessas tendências (ou inverdades) é que as pessoas se dividem, naturalmente, em dois grupos: as pessoas do bem (que aceitam sem problema a nova sensibilidade) e as pessoas do mal (que se recusam a aceita-la): em geral, “nós”, a gente do bem, e “eles”, a gente do mal.

Os do mal, nos Estados Unidos, são facilmente identificados por seu uso de linguagem politicamente incorreta – ainda que esse uso seja não-intencional, como frequentemente acontece com pessoas para quem o Inglês é uma segunda ou terceira língua. Apesar de aparências e mesmo afirmações ao contrário, o Inglês é complicado. O artigo “the” pode significar “o”, “a”, “os” e “as” – e certas palavras, como “professor”, “teacher”, “doctor”, etc. podem se referir tanto a alguém do sexo masculino como do sexo feminino. Tradicionalmente, era normal e aceitável (parte da norma culta) dizer “I asked a doctor and he told me that…”, usando o pronome em concordância com o gênero masculino, independentemente do sexo da pessoa. Isso não mais se admite na universidade. É necessário usar uma linguagem que, a muitos, em especial aos estrangeiros, parece canhestra: “I asked a doctor and he/she told me that…” ou “I asked a doctor and s/he told me that…” ou, hoje mais comum, “I asked a doctor and they told me that…”. No último caso, tornou-se uma praxe do politicamente correto usar o pronome no plural (em que they significa tanto eles como elas). Alguns autores preferem alternar, usando ora “he / his”, ora “she / her / hers”, quando não se revela o sexo do referente. Usar a forma tradicional de concordar uma referência a alguém de sexo não definido com o pronome masculino é incorrer no grande pecado de “sexismo”.

Algo parecido se dá com o uso de termos que passaram a ser considerados tabus.

A forma de se referir a alguém de outra raça (ou mesmo etnia) também se complicou. Tradicionalmente se referia a alguém da raça negra como “a negro”. (Nunca “a nigger”, que sempre demonstrou preconceito, exceto quando usado por um negro / uma negra (!) para se referir a si próprio / própria (!). Depois que os próprios / as próprias (!) começaram a se referir a si próprios / próprias (!) como “blacks”, esse termo se tornou mais ou menos padrão, embora haja quem prefira usar “people of color” como uma expressão supostamente mais neutra, que inclui negros, vermelhos (índios ou aborígenes – os tradicionais “peles vermelhas”, expressão hoje condenada), marrons (hispânicos – que em regra incluem os portugueses e brasileiros), amarelos (orientais, em geral), etc. A expressão tradicional “colored people” para se referir aos negros /negras / pretos / pretas (!) foi anatematizada, porque coloridos / coloridas somos todos / todas  (embora a expressão “people of color” exclua os brancos / as brancas (!), que, supostamente, são “sem cor”…). Não ser sensível a essas nuances de linguagem pode fazer com que alguém seja acusado de usar linguagem racista – talvez um pecado mais grave do que ser chamado de sexista. (No Brasil, ser racista dá cadeia. Ser sexista, ainda não.) Reflita-se se é possível compor um texto estilisticamente decente com todas essas precauções. Jorge Amado que o diga.

A forma de se referir a alguém que é homossexual também se complicou. O termo “gay” se tornou razoavelmente padrão (embora haja dúvida se ele se aplica a todos os homossexuais, independentemente de seu sexo, ou se o termo “lesbian” deve ser preferido para homossexuais do sexo feminino). As variações de comportamento sexual mais recentemente admitidas, como “bisexual” (em Inglês com um “s” só) e “transsexual” (este com dois “s” em Inglês) acabou por levar à sigla LGBT (Lesbian, Gay, Bisexual, Transsexual), hoje amplamente usada, inclusive no Brasil, onde algumas letrinhas são acrescentadas, que só os ultra-especializados conseguem explicar (embora, no caso do último termo, hoje se prefira “Transgender” a “Transsexual”).

A preocupação de Haidt e Lukianoff não é com os detalhes da linguagem politicamente correta, mas com o fato de que a sua adoção é usada como critério para demarcar “a turma do bem” da “turma do mal”, entre “nós” e “eles”.

Isso já se dá também no Brasil.

Se alguém inicia uma palestra dizendo “Boa noite a todos e todas”, em vez do convencional “Boa noite a todos” (que inclui todas as pessoas e todos os pessoos (!), independentemente de seu sexo), ele ou ela (!) está dizendo que faz parte da turma do bem… (Se quem está falando for mulher, é de rigueur que diga “Boa noite a todas e todos” – pondo o pronome feminino antes. Quem não segue essa praxe é considerado insensível à questão do gênero (expressão aqui preferível à expressão “questão do sexo” ou “questão sexual”, porque é de palavras, vale dizer, de linguagem que se trata, não de biologia).

Aqui no Brasil já se começa ver, na televisão, negros se referirem a si mesmos como pretos. (Alguns negros / pretos sempre usaram os termos “crioulo / crioula” para se referirem a si próprios, mesmo depois desses termos serem considerados pejorativos se usados por um branco / uma branca (!) para se referir a alguém da outra raça. (Mesmo falar em “raça” se tornou problemático, havendo “cientistas” que afirmam que raças não existem). Quando eu era adolescente havia um jogador de futebol do Fluminense cujo apelido era “Escurinho”. Esse apelido era considerado tão normal quanto apelidos como Japonês / Japa, Português / Portuga, Alemão, Gringo (para Americano), etc. Houve época em que, em formulários, ao preencher ao campo “Cor”, alguns, hoje denominados pardos, informavam: “Escurinho / Escurinha” (ou, então, “Moreno  / Morena”). Hoje, não mais.

Como é que se designa alguém nascido / nascida (!) nos Estados Unidos ou que é cidadão / cidadã (!) daquele país. Tradicionalmente se dizia “americano / americana” (!). O nome oficial do país é “United States of America”, ou, na prática, simplesmente “America”. Nosso país, quando se tornou independente, e por muito tempo, se denominou “Estados Unidos do Brazil” (assim com “z” na grafia antiga). Embora a gente também vivesse numa das Américas, a gente se designava simplesmente “brasileiro / brasileira” (!).

Hoje a gente encontra no Brasil toda forma de absurdos: “norte-americano / norte-americana” (como se os canadenses e mexicanos / mexicanas (!) não o fossem; “estadunidense”, embora ninguém nascido / nascida (!) no Brazil / Brasil de antigamente se denominasse “estadunidense”, em vez de brasileiro / brasileira (!), etc.

A terceira das três tendências (ou inverdades) é que essas questões de sensibilidade / insensibilidade nada têm que ver com a razão, mas, sim, com o sentimento (identificado pela intuição e não pela razão). Assim se elimina toda uma área, a importante área da linguagem, da fala, da escrita, do discurso, do âmbito da análise racional, deixando-a à mercê dos sentimentos e da intuição – que é algo que, supõe-se, não se discute ou debate, simplesmente se reconhece.

Como já observado, muitas dessas questões se aplicam ao Brasil de hoje, dividido entre dois grupos: a esquerda e a direita, os petistas e os antipetistas. É forçoso reconhecer que há antipetistas que se reconhecem como de esquerda, e que, entre os restantes, há muitos que não se reconhecem como de direita, preferindo se identificar como liberais. Eu, por exemplo, sou antipetista radical, mas sou a favor do aborto, em várias situações, não sou contra o reconhecimento legal de uma sociedade conjugal entre pessoas do mesmo sexo, defendo uma educação libertária, não tradicional, e desescolarizada (vista a escola como ela é hoje), isto é, sem currículo, sem ensino, sem professor, sem avaliação, etc.

Para que algumas dessas questões se resolvam, concordo com os autores que, antes de mais nada, a nossa sensibilidade deve se tornar menos exacerbada. Devemos reconhecer, entre outras coisas, que a linguagem, excetuados os casos claros de calúnia, difamação e real injúria objetiva (não a injúria subjetiva frequentemente alegada hoje), não fere ou machuca, embora, dependendo de quem venha, possa irritar e e até mesmo magoar. Reconheço que as linhas demarcatórias entre um xingamento e uma calúnia, entre uma ofensa absorvível e uma difamação, entre um abuso (chamar alguém de vagabundo, estrupício, canalha, mau caráter, etc.) e uma real injúria, que cause danos e prejuízos à pessoa, são difíceis de definir – mas é preciso tentar, desde que o Judiciário tenha bom senso e saiba analisar os fatos e as normas com neutralidade e isenção.

Nos séculos 16 e 17 houve várias guerras motivadas por questões religiosas. Hoje o clima de opinião e sentimento é tão aguçado, em especial nos Estados Unidos e no Brasil, que não é difícil imaginar que possa haver guerras por questões políticas. Brigas e assassinatos por causa de futebol já são comuns. Neste contexto, recomendo a leitura deste livro e do livro anterior de Haidt, mencionado atrás.

Em São Paulo, 20 de Outubro de 2018.

Relíquias de Tempos Digitais que (Felizmente) não Existem Mais

Os que me acompanham aqui no Facebook sabem que estou no processo de abrir umas ‘trocentas’ caixas de livros e papeis que, já faz quase três anos, estão enchendo até o teto um dos quartos (o maior, exceto pelo meu) aqui do sítio.

Com as novas estantes montadas, estamos começando a abrir as caixas. Este post, denominado “Relíquias”, registra coisas interessantes que vou descobrindo no processo e que mostram quão rapidamente o mundo mudou nos últimos — digamos — 30 anos. A história começa em 1983.

A seguir, três relíquias.

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RELÍQUIA 1 (1983)

No domingo, 4 de Setembro de 1983, a Folha de S. Paulo publicou, em seu Terceiro Caderno, que então tratava de Generalidades, na fl. 27, um longo artigo que tinha o seguinte título: “Computador chega na redação da ‘Folha'”. O subtítulo ressalta: “Sistema permite rápido trabalho de edição”. Uma foto panorâmica, composta de três imagens, mostra alguns “monstros” (do ponto de vista de hoje) e tem a seguinte legenda: “À esquerda, sala central dos computadores; à direita, editoria geral; no alto, a Folha Ilustrada sendo editada”. Note-se que os computadores não estavam distribuídos pela redação: eles tinham uma “sala central”. Só a “editoria geral” tinha alguns terminais.

Vou transcrever apenas algumas partes da longa matéria. (O marketing da Folha pode não ser bom, mas ele sempre é extenso).

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“Há algumas semanas, uma pequena nota no Painel da ‘Folha’ vem pedindo desculpas pelos eventuais erros gráficos que têm aparecido no jornal. Mas eles se justificam. São resultado da fase inicial de implantação, entre nós pioneira, com similar apenas nos grandes jornais dos Estados Unidos, Europa e Japão: [sic; faltou algo aqui] um sistema de terminais de vídeo nas redações e oficina, responsável pela produção e edição de jornais, e que determinará, a curto prazo, a própria sobrevivência de empresas jornalísticas, na busca de um produto cada vez mais ágil, moderno e inteligente.

Com apenas dois meses de funcionamento experimental, 52% das matérias publicadas pela ‘Folha’ e 50% das matérias publicadas pela ‘Folha da Tarde’ são produzidas e editadas diretamente pelo novo sistema. A totalidade das reportagens produzidas pelos jornalistas da Agência Folhas, assim como artigos de colaboradores e críticos, é transmitida diretamente nos terminais de computadores.

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Em dois meses, as sucursais da ‘Folha’ já estarão operando com terminais e remetendo, pelo telefone, os impulsos que serão captados diretamente pela central de computadores e distribuídos a todos os jornais da empresa.

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“O sistema ‘Folha’ de terminais — afirma [o engenheiro Pedro Pincirolli Júnior, responsável por toda a área de produção da empresa Folha da Manhã S/A] veio trazer velocidade e autencididade [!] maior às informações, uma vez que nos permitiu eliminar etapas no processo industrial gráfico e, também, que o jornalista falasse diretamente com seu público leitor”.

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Muita coisa curiosa aqui.

Primeiro, os erros são sempre devidos ao “sistema”, nunca a falhas cometidas pelos profissionais.

Segundo, embora o ano fosse 1983, e os microcomputadores já estivessem conosco há cerca de seis anos (apareceram em 1977), nenhuma menção deles. Fala-se apenas em terminais de um equipamento central. E, pelo que transparece, os terminais eram “terminais burros”, isto é, incapazes de realizar qualquer processamento localmente. O curioso é que a matéria, que foi feita sob o beneplácito de Caio Túlio Costa, um de dois Secretários da Redação da “Folha” e exatamente aquele designado como “responsável pela implantação dos terminais de vídeo na redação da ‘Folha'”, não parece ter nenhuma ideia de que os terminais de vídeo burros pudessem vir a ser substituídos, primeiro, por terminais inteligentes e, depois, por microcomputadores, e que o modelo computador-central e terminais poderia ser substituído por um sistema de redes locais de microcomputadores com capacidade plena de processamento local, interligadas e conectadas a vários computadores de maior porte, que armazenariam grandes bases de dados, e que, por sua vez, estariam ligadas a uma rede de maior alcance…

Terceiro, embora a Internet tivesse surgido em 1969, era, ainda, um brinquedo acadêmico-militar. Só as universidades americanas que prestavam serviços ao sistema militar tinham acesso a ela. Seriam necessários mais dez anos para que Al Gore, então (1993) Vice-Presidente de Bill Clinton, comprasse a briga que viria a tirar a Internet — não sem grandes resistências — do controle acadêmico-militar e coloca-la à disposição do universo empresarial e pessoal. Apesar de não “topar” o Al Gore, considero-me devedor à sua coragem por ter comprado essa briga e ajudado a criar, em 1993, nos Estados Unidos, a “Internet Comercial”. Da mesma forma, considero-me devedor a Sérgio Motta, o “Serjão”, Ministro das Comunicações de FHC, por ter comprado a mesma briga em relação à Embratel e ao Sistema Telebrás e criado a “Internet Comercial Brasileira”. Uma empresa de Campinas, a DGL-Net, foi o primeiro provedor de acesso à Internet Comercial Brasileira, até então controlada pelo Sistema Telebrás, via Embratel. Também não “topava” o “Serjão”, que sempre me pareceu um troglodita, mas considero-me devedor também a ele pelo que fez — algo que deve ter-lhe custado tanto stress que ele morreu logo depois de enfarte. (É verdade que o tamanho horizontalmente gigantesco dele deve ter contribuído).

Quarto, o texto fala em sobrevivência das empresas jornalísticas frente aos concorrentes, mas não vislumbra que a Internet seria seu maior concorrente e o “jornal virtual”, com suas informações instantâneas, que não precisam esperar pela edição diária do jornal convencional, o seu maior desafio. O texto não dá o menor sinal de que um dia o leitor poderia preferir ler as informações também diretamente na tela, sem precisar de um jornal impresso, ou até mesmo sem precisar de que um empresa jornalística compilasse as notícias e opiniões em um jornal virtual para ele.

Tudo isso, há 30 anos apenas. Quatro dias antes de eu completar os meus 40 anos.

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RELÍQUIA 2 (1988)

Em 1988 eu era Diretor do Centro de Informações e Informática (CIIS)  da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. A Secretaria era totalmente dependente da PRODESP — Processamento de Dados do Estado de São Paulo, estatal que fazia todo o processamento de dados para o governo do estado e seu vários órgãos, da Administração Direta e da Administração Indireta.

A Secretaria da Saúde era ocupada pelo médico José Aristodemo Pinotti, o governador era Orestes Quércia, amigo pessoal de Pinotti, e a todo-poderosa Secretária Pessoal e Chefe de Gabinete do Governador era Ana Maria Tebar, amiga pessoal dos dois e de mim também. Dos quatro, só restamos ela e eu.

Assim, eu estava, naquele momento, em situação especialmente favorável para começar, se não uma revolução, pelo menos uma revolta, dentro desse sistema.

Propus, em primeiro lugar, a compra, por licitação, (a) de três mini-computadores (na época tinham de ser equipamentos produzidos pela indústria nacional), para a sede, (b) de 300 microcomputadores para serem distribuídos pelos usuários centrais e pelos usuários remotos, nas regionais da Secretaria, e, por fim, (c) de 300 cópias de MS-DOS, de MS-Word, de MS-Excel, de MS-PowerPoint e de MS-Access.

Foi um rebu.

No tocante aos minicomputadores, o protesto foi de que a PRODESP detinha direito exclusivo de processar os dados dos órgãos estaduais. No tocante à compra dos microcomputadores, o mesmo argumento foi usado: em vez de microcomputadores, deveríamos aquirir terminais (burros) dos computadores da PRODESP. No tocante ao sofware da Microsoft, o protesto foi diferente. Além de se argumentar que não precisaríamos dele, porque estaríamos usando os terminais burros da PRODESP, argumentou-se que, mesmo que fosse autorizada a compra dos microcomputadores, deveríamos usar software nacional (como previa a legislação de “Reserva de Mercado para Empresas Genuinamente Nacionais), como, por exemplo, o sistema operacional SISNE, um processador de textos supostamente nacional, o Carta Certa, o Saci, uma planilha eletrônica também supostamente nacional, o gerenciador de base de dados supostamente nacional, Dialog (uma cópia deslavada de dBase II/III). Não havia, que me lembre, nenhum produto supostamente nacional que substituísse PowerPoint.

A briga ficou feia.

O Secretário Pinotti me apoiou e apelou ao Governador Quércia. Eu, nos bastidores, acionei Ana Maria Tebar. Quércia, que era um prodígio em termos de capacidade de lidar com assuntos complicados, decidiu criar o Conselho Estadual de Informática (CONEI), para reduzir o poder da PRODESP. Fui nomeado para ele (com outras pessoas amigas do Governador). A solicitação da Secretaria da Saúde foi submetida ao CONEI, que a aprovou.

Estava quebrado o monopólio da PRODESP dentro do Estado.

A SISCO ganhou a licitação para os minicomputadores, a Prológica para os microcomputadores, e a empresa que representava a Microsoft no Brasil (a Microsoft ainda não tinha subsidiária aqui) ganhou a licitação para o software.

Mas havia mais um problema.

Naquela época a Secretaria da Saúde tinha de coletar informações rotineiramente sobre vinte e seis moléstias de notificação compulsória — e tinha de encaminhar essas informações à World Health Organization – WHO (Organização Mundial da Saúde – OMS) em Genebra. Acho que ainda tem — e que o número de moléstias de notificação compulsória aumentou. As informações eram encaminhadas em papel pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) — embora a WHO, através de sua divisão de Information Systems Support – ISS, dirigida por um ex-profissional da IBM, Dr. Salah Mandil, do Sudão, estivesse plenamente equipada para receber esses dados por telecomunicações.

Entrei em contato com Mandil, que logo se tornou meu amigo, e fiquei sabendo o que tínhamos de fazer para enviar os dados para a WHO por telecomunicações.

O problema, porém, não era do lado da WHO: era do nosso lado.

O governo brasileiro — já não mais o governo militar, mas o governo da chamada Nova Republica, presidido pelo José Sarney, não havia ainda conseguido revogar a “herança nefasta” do período militar.

O governo brasileiro tinha um departamento, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), chamado de TransBorder Data Flow (TBDF), que controlava o Fluxo de Dados Trans-Fronteiras. A SEI, na “Nova República”, estava vinculada ao MCT. Ou seja, o governo imaginava que era capaz de controlar cada bit que entrava no Brasil ou saía do Brasil. Assim, para enviar os relatórios mensais de moléstias infecciosas para a WHO em Geneva, tive de solicitar permissão ao Governo Federal. Fiz isso. Eis a resposta que recebi em 24//3/1988:

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“Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)

Conselho Nacional de Informática e Automação (CNIA)

Secretaria Especial de Informática (SEI)

Certificado SAE no. 028/88

A Secretaria Especial de Informática – SEI certifica que se pronunciou favoravelmente quanto ao estabelecimento de ligação internacional para comunicação de dados com as seguintes características básicas:

INTERESSADO: Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo

TIPO DE LIGAÇÃO: Uma ligação internacional, via nó internacional (RENPAC/INTERDATA), a 1200 bps

LOCALIDADES LIGADAS: São Paulo-SP e a Organização Mundial da Saúde em Genebra.

O presente certificado é expedido com base nas informações e dados constantes do Proc. SEI no. 51746/87-5 (374), e expira em 15/3/1991.

Brasília-DF, 24 de Março de 1988

Kival Chaves Weber, Secretário Executivo

Dorgival S. Brandão Júnior, Sub-Secretário de Atividades Estratégicas”

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Para obter esse aval, tive de me comprometer, através de “TERMO DE COMPROMISSO”, de 24/2/1988, a não usar o link com a WHO para outros fins, e de me declarar ciente de que, se o link fosse usado para outros fins, seria imediatamente cancelado.

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RELÍQUIA 3 (1993)

A revista Newsweek de 5/4/1993, vinte anos atrás, publicou, como matéria de capa, um artigo com o título “Wiring the World” (Cabeando o Mundo) [fls. 26 e seguintes]. Newsweek era publicada pelo conglomerado The Washington Post. A matéria procurava mostrar que o mundo estava sendo interligado, e que, dentro de pouco tempo, estaria todo interligado por fios e cabos.

Na semana seguinte, em 12/4/1993, a revista Business World, uma das principais concorrentes de Newsweek, publicou, como uma matéria de capa, um artigo com o título “Wireless World” (Mundo sem Fios). Business Week era publicada por McGraw-Hill Publications.

Business Week faturou. Demonstrou ter uma percepção mais precisa do que estava ocorrendo. O mundo de fato estava fincando interligado — mas a interligação se daria prioritariamente sem fios, via satélites.

É verdade que Newsweek acrescentou uma pequena matéria, nas fls. 32-33, a “Wireless Age” (A Era Sem Fios), mas a matéria criava no leitor a impressão de que o “wireless” seria a exceção, não a regra, e que se aplicaria unicamente aos telefones celulares, não aos computadores. Consequentemente, nenhum sinal dos “SmartPhones”, os telefones que são computadores e que operam basicamente sem fios, e que tenderiam, em termos de número, a suplantar os computadores interconectados, e conectados à Interenet, por fios e cabos.

E o ano era 1993 — o ano em que Al Gore daria sua inestimável contribuição à Revolução Digital.

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É isso. Por enquanto. É verdade que, olhando pelo retrovisor, é bem mais fácil. Mas quem sabe ainda acho mais relíquias.

Em Salto, 15 de Janeiro de 2014.

O que Será do meu FaceBook Quando eu Morrer?

Meu amigo Jarbas Novelino chamou minha atenção, hoje cedo, através do Facebook, para um artigo que anuncia a criação, em Israel, de algo, não virtual, infelizmente, que parece um Facebook dos Mortos. Ele fotografa lápides e cria um site onde, um perfil para cada lápide, elas são exibidas e os parentes podem deixar suas memórias e curtições para o finado.

Acho desnecessário — e meio mórbido — fotografar lápides físicas para criar os perfis em um site. Deveria ser possível, mediante a apresentação da certidão de óbido, já criar o perfil do recém-falecido (ou do falecido há tempo), com fotos e demais memorabílias.

Certamente fica mais barato. Talvez, não tão bonito: veja a foto.

Cemetery in Israel

Cemetery in Israel

Um acordo com o Mark Zuckerberg poderia até permitir que o perfil e timeline do aposentado da vida fosse transferido para o site — que poderia se tornar, por assim dizer, e com perdão do trocadilho de mau gosto, um arquivo morto do Facebook. Este teria a vantangem de poder dar uma depurada no seu sistema, eliminando os que já passaram desta para aquela. Afinal de contas, os estatísticos já preveem que em 2065 o Facebook terá mais perfis de mortos do que de vivos, dadas as curvas atuais (curvas de novos membros e de falecentes).

Sempre acho essas coisas fascinantes.

Uma rápida busca em meu blog identificou três ocasiões: duas muito perto uma da outra, em Agosto de 2006, outra no fim de 2011.

“O que Será dos meus Hard Disks?” (de 21/8/2006)

http://liberalspace.net/2006/08/21/o-que-sera-dos-meus-hard-disks/

Literatura, Cinema… Alienação? (25/8/2006)

http://liberalspace.net/2006/08/25/literatura-cinema-alienacao/

Que Será de Nossos Pertences Digitais quando Morrermos? (17/11/2011, 28/12/2011)

http://liberalspace.net/2011/12/28/que-ser-de-nossos-pertences-digitais-quando-morrermos/

Quem estiver a fim de enfrentar uma discussão meio mórbida, vá em frente.

Acho que aos poucos estamos encontrando a chave para uma vida após a morte. Ela será uma vida “apenasmente” virtual, mas é melhor do que nada. Não vai exigir ressurreição, arrebatamento, nada. Uma mera transferência dos arquivos de um site para o outro.

Em São Paulo, 19 de Novembro de 2013

Now There is a Facebook for Dead People

By Christopher Mims @mims November 18, 2013

An Israeli entrepreneur has spent “hundreds of thousands of shekels” (tens of thousands of US dollars) to photograph and log 120,000 gravestones, in an effort to create a sort of Facebook/Wikipedia for the dead. It sounds ghoulish, but the project, Neshama, is intended to be the opposite: each page is to be a memorial to a particular deceased person, where family members can leave remembrances.

So far the site encompasses just five cemeteries, but the idea for the site seems eminently exportable. It’s unclear whether Shelly Furman Asa, the site’s founder, sought permission to take the photographs. But at least in the US, there is little to protect gravestones from being photographed, and similar sites like Find A Grave and BillionGraves already serve amateur genealogists in the US.

Facebook allows relatives to “memorialize” the profile of a deceased person, and cartoonists have calculated that Facebook could have more dead people than living by as early as 2065. Neshama’s differentiator is that Facebook has only existed since 2004, but people have been marking the site of their dead relatives for millennia.

Asa says digitization of more cemeteries is ongoing, and that eventually the site will make money by charging relatives to upload images and other tokens to their relatives’ pages.

http://qz.com/148560/now-theres-a-facebook-for-dead-people/

Hábitos de Leitura

Acordem, editores e livreiros. Os hábitos de leitura estão mudando. Abaixo, o resultado de levantamentos publicados na Folha de ontem. Dispositivos multifuncionais são coisas como iPads.

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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/tec/tc0902201129.htm

Folha de S. Paulo

HÁBITOS DE LEITURA

66%

Consumidores com dispositivos multifuncionais que passaram a ler mais depois de comprá-los

O número é de um estudo da iModerate Research Technologies e da Brock Associates, que entrevistou 300 pessoas nos EUA

46%

Consumidores com dispositivos multifuncionais que passaram a ler mais livros de papel

80%

Pessoas que consideram a leitura em aparelhos mais conveniente do que no papel

72%

Entrevistados que leem em dispositivos eletrônicos quando viajam

Frase

“Gosto de ter muitos livros à mão para escolher o que ler em qualquer lugar. Basta baixar as obras que quero ler nos meus dispositivos. Posso ler um livro por um instante e mudar para outro” [PARTICIPANTE ANÔNIMO de pesquisa sobre hábitos de leitura]

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Com respeito à frase citada, me, too.

Em São Paulo, 10 de Fevereiro de 2011

Jovens e velhos convivem em todas as faixas etárias

Muito interessante o artigo de Luli Radfahrer na Folha de S. Paulo de ontem.

A tese mais interessante, na minha opinião, é que velhice não é uma questão de idade: é uma questão de postura, de atitude perante a vida. Há novos e velhos em toda faixa etária…

Velhos são aqueles que não percebem que uma mudança básica e fundamental aconteceu na sociedade e persistem em considerá-la um modismo, um “fad”, que logo irá desaparecer. Assim, se orgulham, culturalmente, de resistir a essa mudança, considerando seu reacionarismo uma virtude cultural. Jactam-se de não usar e-mail, de não ter perfil no Facebook, de nem sequer ter (ou atender) um telefone celular.

Esses velhos, essas verdadeiras peças de museu existem em qualquer faixa etária. Eu tenho um bom número de amigos velhos – nesse sentido – que, cronologicamente, são mais recentes do que eu. Uma coisa não tem muito que ver com a outra.

Eis o artigo do Luli Radfahrer na íntegra.

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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/tec/tc0902201127.htm

LULI RADFAHRER

Os velhos da sua idade

O que você deve fazer por aquelas pessoas que têm a sua idade, mas não leem este caderno

ESTE ARTIGO foi escrito para aqueles seus amigos, parentes ou colegas que têm a sua idade e uma formação parecida com a sua, mas que, por algum motivo, nunca lêem cadernos como este. Você conhece o tipo: são pessoas inteligentes, de opinião formada, que acompanham as notícias regularmente, mas que raramente passam do caderno de economia ou de cultura. Sabe quem acredita que ópera é muito mais importante do que videogames ou Facebook, mesmo tendo uma fração de sua audiência? Pois então.

Eles não são velhos. Você não é velho. Ou pelo menos não deve se sentir ultrapassado, mesmo que não saiba das últimas artimanhas do Google ou do Twitter. O leitor da editoria de tecnologia costuma ter conta em redes sociais e saber como deve se comportar nelas, não clica em qualquer link de e-mail e tem uma boa noção do que é um iPad ou um Wii, mesmo que não tenha a menor intenção de comprá-los. É alguém que, como você, tem critério e experiência. Isso depende cada vez menos da idade.

No entanto, há cada vez mais gente com orgulho de sua aversão ao ambiente digital. Isso não acontece com outras inovações, como a energia elétrica ou o rádio.

A web tem quase duas décadas de vida e a telefonia móvel, cerca de metade disso. Não se pode mais chamá-las de “mídias alternativas” ou de “tecnologias emergentes” quando a maioria dos processos contemporâneos depende delas. Mas ainda são poucos os que perceberam de verdade essa mudança. A maioria ainda está à margem das transformações, fazendo de conta que elas não existem, mesmo que tenham filhos adolescentes e uma renda pra lá de confortável. A inclusão digital se torna, cada vez mais, uma questão cultural.

O que aconteceu com essa gente? Meu palpite é que eles não perceberam a mudança. Como qualquer pessoa que não se interessa por uma área da medicina ou do direito até que se torne vítima dela, eles nunca se importaram com o digital. Mas deram o azar de terem nascido em uma época que ele se tornou importante. Por causa disso, muitos vivem hoje em um mundo desconfortável e isolado, que não compreende o que fazem seus filhos, seus funcionários e o resto do planeta.

Esses caras me lembram aqueles coleguinhas da escola que, por serem bonitos ou fortes ou populares ou ricos demais, nunca pensaram que precisariam estudar.

O tempo passou, e uma das poucas coisas que correu mais rápido do que ele foi a tecnologia. Lembra a lenda da cigarra e da formiga? É algo parecido.

Pode parecer lavagem cerebral, mas acredito que você deva ajudá-los a se alfabetizar no digital. Por mais que dê trabalho, a atividade compensará por dois motivos. O primeiro é que as tecnologias de informação estão mais para uma linguagem do que para uma ferramenta. Quanto maior a fluência, mais eficiente será a comunicação e a compreensão. O segundo é que quanto maior e mais adiantado estiver o mercado, mais exigente ele será.

No fim, quem mais se beneficiará dessa cadeia evolutiva será você, que terá acesso a máquinas e serviços melhores. Isso sem contar que poderá fazer novos amigos e ampliar sua visão de mundo, principalmente se eles estiverem entre os do tipo que não lê este tipo de caderno.

lulil@luli.com.br

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Em São Paulo, 10 de Fevereiro de 2011